domingo, maio 31, 2015

Repost: Mesmo Delivery, de Rafael Grampá.

Dia desses li um artigo no qual o autor de um blog escorraçava vertiginosa e vorazmente o quadrinista Rafael Grampá por, entre uma série de outros motivos (alguns com os quais eu até concordo), afirmar que o cara não é um gênio. Outro motivo é o fato de o autor/desenhista não ser exatamente o que se pode chamar de produtivo. O que não é uma inverdade, nenhuma das duas alegações: Grampá definitivamente não é um gênio e definitivamente não é nada produtivo.

Tendo isso em mente, o que me gerou até mesmo um certo conflito, levando em conta que não sou um grande conhecedor do trabalho do sujeito, pois apenas muito recentemente decidi me embrenhar pelo mundo dos quadrinhos brasileiros (mesmo os produtos de exportação), decidi ir atrás da obra do artista e analisá-la pessoalmente. E porque não começar por seu maior trabalho? Seu trabalho de estreia.
Mesmo Delivery, lançada em 2008, acompanha um caminhoneiro gigantesco, ex-pugilista, e seu parceiro magrinho, velhinho e falastrão. Os dois transportam uma carga misteriosa, sendo que o caminhoneiro foi contratado para fazer o serviço e o parceiro foi o incumbido, pelo contratador, de vigiar a carga.

Os dois param à beira de uma estrada no meio do nada, o magrinho fica no caminhão e o gigante entra num bar pra esvaziar e beber um leite. Sério. Quando, do nada, uns malucos o desafiam pra uma briga e começa uma confusão homérica com direito a uma violência totalmente desmedida, beirando o escatológico (na verdade, até ultrapassa algumas vezes). No meio de tudo isso, entre mortes e mutilações absurdas, a carga e seu receptor são revelados... E a coisa não é nada bonita.
Mesmo Delivery é de um esmero ímpar. Artisticamente falando, uma das coisas mais impressionantes que já vi. A arte de Grampá é detalhadíssima, veloz e totalmente estilizada, quase psicodélica, cheia de easter eggs, cheia de pequenos lampejos de sagacidade. Em cada borda de cada quadrinho há algo que, dada a devida atenção, vai te fazer dar uma risada irônica ou, pelo menos, te deixar perplexo.
O ritmo e o fôlego da coisa toda é a de um daqueles curta-metragens alucinados que não dariam bons longas, mas são hermeticamente certeiros em seu formato. Os personagens são simples: um cara grande não muito inteligente, caladão, brucutu; e um sujeito que não é exatamente o que aparenta ser. Além de um bar lotado de párias da sociedade, esperando pelo dia em que algo de relevante vai acontecer.
Se eu disser que não me empolgo vendo esse negócio, eu estarei mentindo: não há como não se empolgar vendo Mesmo Delivery.
E quando digo "vendo", é exatamente isso que quero expressar. MD é uma obra absolutamente visual. Grampá é um cara absolutamente visual. É como um Zack Snyder dos quadrinhos. E, assim como o diretor, roteiro não é exatamente o que mais chama atenção em sua obra.
Nesse ponto, o sujeito do blog estava certo: Grampá não é um gênio. Mas, há algo que não se pode negar: o cara é um artista monstruoso! O roteiro superficial não estraga a viagem, fiquem tranquilos.

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