domingo, março 08, 2015

Mais Estranho Que a Ficção, ou Sobre Como os Detalhes Fazem A Diferença - Por Sidney Pires


Imagine-se na seguinte situação: Você está na sua rotina diária de acordar, tomar banho, tomar o café-da-manhã, pegar o ônibus, trabalhar, almoçar, voltar para casa, jantar e dormir para no dia seguinte tudo recomeçar. Identificou-se? Agora tente imaginar o que você faria se de repente escutasse uma voz em sua cabeça que simplesmente narra tudo o que você faz e mais, essa voz anuncia que a sua morte está próxima? Esse é o mote do filme “Mais Estranho Que A Ficção” (Stranger Than Fiction, 2006) estrelado por Will Ferrel (Escorregando Para A Glória e Os Outros Caras) e dirigido por Marc Foster (Em Busca da Terra do Nunca, 007- Quantum Of Solace, Guerra Mundial Z). 
 

Essa é a história de Harold Crick (Will Ferrell) um fiscal da Receita Federal dos Estados Unidos, uma profissão que não é bem quista pela maioria da população estadunindense. O filme se utiliza de uma metalinguagem, e por isso vemos logo no início do filme a rotina diária de Harold Crick, uma pessoa tão metódica que conta o número de vezes em que escova os dentes, quantos passos dá até o ponto de ônibus e quanto tempo ele tem de almoço. Inclusive o seu relógio de pulso se torna um personagem fundamental para a reviravolta que Harold Crick irá passar. A metalinguagem se faz presente no momento em que Harold escuta a “voz” em sua cabeça narrando sua rotina, mas só quando essa mesma voz anuncia que após um acontecimento aparentemente ínfimo e que poderia passar despercebido a partir dali ele estaria a caminho da sua própria morte. Sim, Harold escuta uma voz em sua mente, afirmando categoricamente que a qualquer momento ele iria morrer.


A partir desse momento Harold tenta desesperadamente entender o que está acontecendo com ele, até que vai ao encontro do professor de Literatura Jule Hilbert (Dustin Hoffman, genial como sempre). Nesse ínterim Harold conhece Ana Pascal (Maggie Gyllenhaal), dona de uma padaria que sonegou impostos por não concordar com a guerra com o Afeganistão, e não tarda para que o fiscal da receita se apaixone perdidamente pela padeira. Mas os questionamentos passam a povoar a mente de Harold: Quanto tempo ainda terá de vida? A voz em sua cabeça realmente controla todas as suas ações ou ela apenas os narra? E de quem será essa voz? Diante de tantas perguntas, só resta a Harold seguir o conselho do professor Jule: “Viva a vida. O que ainda lhe restar dela!” E a partir dessa premissa Harold nos mostra que em nossas próprias vidas temos as nossas escolhas, mas são os detalhes que podem fazer a diferença. Será que viver a vida é tão somente se deixar levar para o que a própria vida lhe oferece? Entretanto se deixar levar pela rotina e constância simplesmente pela aparente segurança que a mesma nos oferece não pode ser perigoso pra nós mesmos? Quantas vezes um pequeno detalhe pode ter transformado as nossas vidas? Pare para pensar e tente lembrar-se de alguma situação em sua vida na qual um simples detalhe fez toda a diferença, seja aquele ônibus que atrasou ou ter estado em um determinado lugar, na hora certa. Se quiser pode contar sua história nos comentários, será ótimo ler a respeito de algo do tipo. Caso ainda não tenha assistido ao filme, fica aqui a dica de uma grata surpresa de Will Ferrell, conhecido por comédias bem exageradas, mas aqui vemos que a direção de Marc Foster foi muito bem conduzida e vemos um homem solitário, talvez por conta das escolhas que fez, mas que tem a oportunidade de abraçar a sua vida, quando se depara com a própria morte. Saber que ia morrer foi o que manteve Harold mais vivo. Não vou nesse post contar o final do filme. Mas deixo aqui os 3 minutos iniciais do filme pra atiçar a curiosidade.

A Escritora 


Karen Eiffel (Emma Thompson) é a escritora, e ignora o fato de que o personagem de seu livro existe e a ouve narrando todos seus passos. Como dito anteriormente o filme se utiliza de uma metalinguagem, em outras palavras ele se utiliza de uma linguagem dentro de outra linguagem. Dessa forma vemos que a autora que já é conhecida por sempre ter personagens que morrem no final dos livros encontra-se com um bloqueio criativo e a editora a pressiona para que entregue o livro a tempo, o mesmo livro que está escrevendo sobre Harold Crick. 


Acompanhando a dificuldade de Karen em matar seu personagem é possível notar que ela está apegada a ele, o que explicaria a dificuldade em terminar sua obra. A atuação de Emma Thompson é impecável, a ponto de deixar o espectador dividido entre querer que Harold se salve da morte iminente ou esperar que ela ocorra, pois até mesmo a morte pode ser poética. Para saber como termina convido você a assistir essa simples, mas instigante história, e terminar o filme com um novo olhar sobre a vida e os detalhes que a compõem. Espero seus comentários e até a próxima.


Sidney Pires

P.S.: (Por Michel Euclides)

Eu estou sortudo. Duas boas colaborações - boas? Excelentes! - de pessoas por quem tenho uma profunda admiração, que vêm para renovar o 01Pd com novos olhares. Sidney, meu filho, tu é bom cara! Excelente crítica de um filme fantástico. Aguardaremos ansiosos suas participações futuras.

Abraços!

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