sábado, fevereiro 07, 2015

Sharon Van Etten - "Are We There" (2014), ou: Amar é estar perdido


Há uma urgência sutil em "Are We There", quarto disco de estúdio da belíssima Sharon Van Etten. Segredos cantados à meia voz, dores - nem sempre fáceis - revividas...


Sharon Van Etten - Are We There by Michel Euclides Sousa on Grooveshark Há afirmações que são, na verdade, negações. Há necessidade de arriscar, apesar do enorme peso do medo de errar mais uma vez. Há uma tristeza que ressoa com o vento, um sofrimento que aumenta e diminui com seu cantar de voz suave e tons de cinza.


Para Sharon, o amor é contraditório: se por um lado a segurança está no sentir do outro, é um sentimento perigoso e destrutivo. O amor mata, e o amor imenso e intenso oblitera. É fácil perceber isso em "Tristão e Isolda", do ciclo arturiano, "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, e em "Romeu e Julieta", de William Shakespeare: um sentimento que amaldiçoa os amantes por ser tão maior e infinito que eles - por isso, destrutivo, virulento, violento e impiedoso.


O som de Sharon é sombrio, subterrâneo, úmido e metálico - como um rio que corre sob a terra, ou como o sangue. Pode haver, de início, estranheza - ela parece fria e opaca ao toque, mas esta distância é apenas aparente. Ela consegue se entranhar no ouvinte e mexer com suas lembranças mais doloridas. Ao fazer isso, reverbera em nós revelando-se quente e profunda - o princípio feminino.


É natural ouvir "Are We There" como se fosse um mantra. Sem que se perceba, o ouvinte se pega embalado pela graciosidade de Sharon, por sua beleza entregue e sincera. É como um incêndio irresistível. Ela canta com múltiplas vozes canções que trazem o segredo do amor que todos sabem, mas quase ninguém aceita:


Amar é estar perdido. Irremediavelmente, preso numa armadilha de fogo e sangue da qual é impossível fugir inteiro.


Senhoras e senhores, um dos melhores discos de 2014: "Are We There", de Sharon Van Etten.


Espero que escutem e se percam conosco nessa beleza.




Até a próxima.

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