Sou fã de Ridley Scott. Sou fã de Alien, de Blade Runner, de
Robin Hood - e até mesmo de Prometheus. Sou fã de seu estilo detalhista e
criativo, e mesmo de suas falhas e limitações.
Enquanto ia assistir a Exodo: Deuses e Reis, fui repetindo
este mantra incessantemente em minha cabeça, esperando um blockbuster fraco e
insosso, com as expectativas bem baixas.
Ainda bem que me enganei.
Porém, se você é uma pessoa muito religiosa, que leva a
sério e ao pé da letra o que está escrito na Bíblia, este filme não é para
você. Se você chegou até aqui, saiba que nem está crítica é para seus olhos.
Esteja avisado. Siga adiante por sua conta e risco. E se quiser discordar, é um
direito seu, só não venha encher meu saco depois com mimimi.
Enfim.
O background é o mesmo: Egito, reinado de Seti. Há dois
filhos: o de sangue, Ramsés – arrogante, impetuoso, inseguro...; e Moisés, o
adotivo, exato oposto de seu irmão de sangue real. São irmãos, apesar de tudo,
mas também competidores pela atenção do pai e pelo amor do povo – embora Ramsés
pareça ter essa necessidade, para Moisés é apenas consequência de quem ele é.
O faraó adoece e morre... e Ramsés torna-se Ramsés II, o
novo Rei-deus. Moisés torna-se seu conselheiro, e as coisas começam a
desandar...
Quando se descobre que Moisés é hebreu, e se vê levado a desacreditar
de tudo o que conheceu.
Exilado, vaga pelo deserto até encontrar um lugarejo
afastado onde constitui família, e deixa todos seus problemas para trás,
tornando-se pastor de cabras.
Então vem Deus, e a visão de Scott torna-se insana e muito
cínica: Jeová é uma criança maltrapilha sedenta por vingança, e por
derramamento de sangue egípcio! Ainda estão ali a montanha e a sarça ardente,
mas Moisés tem a visão de Deus após levar uma forte pancada na cabeça, com a
perna quebrada e submerso na lama apenas com o rosto de fora!
Não é fantástico?
Ele arde em febre e sua esposa tenta dissuadi-lo de sua
jornada pela libertação de seu povo – agora é o povo dele, Deus disse! -,
falando que ele estava alucinando, mas não! Ele abandona tudo e segue, cajado
na mão, rumo ao Egito. Entra clandestinamente na capital e começa a treinar os hebreus
na arte da guerrilha urbana.
Incêndios e explosões, meus caros. Os hebreus de Scott são
terroristas explodindo transportes e fontes de alimentação dos Egípcios. Mas
Deus está descontente, pois o faraó louco interpretado por Joel Edgerton
(péssima escolha étnica, mas o cara é tão bom que logo você esquece e o
aceita!) não abre mão daqueles milhares de escravos.
Aí vem as pragas. E o Moisés de Christian Bale pergunta: “Não
é crueldade demais?”. O Deus-menino responde: “E todos esses anos de miséria e
escravidão?”
Começam. Nilo em sangue, sapos, moscas, gafanhotos, feridas
na pele, morte de gado, fome... e nada do Faraó abrir mão.
Devo dizer mais uma vez que os atores principais são
excelentes: Bale é um ator competente e entrega o que lhe pede – um Moisés cético
e irônico, perturbado por dúvidas e questões existenciais; e Edgerton é
esforçado, seu Ramsés um psicopata completo, obcecado pelo amor do filho –
coisa que seu pai dedicou a Moisés.
Pena que Bem Kingsley e Sigourney Weaver foram muito
subutilizados. Ah, e o Jesse Pinkerton tá aqui também, irreconhecível e muito
mal explorado.
Voltando à história, a praga dos primogênitos... uma cena
forte e muito bem realizada, que finalmente leva à libertação dos hebreus...
E à mudança de ideia do Faraó enlouquecido de vingança pela
perda do filho, que persegue os ex-escravos deserto e montanha rumo ao Mar
Vermelho sem se importar com a perda de seu pessoal no caminho.
E temos a cena de abertura do Mar Vermelho, menos impactante
que a de Cecil B. DeMille, mas ainda assim poderosa e grandiosa.
Devo falar ainda de Maria Valverde, a linda e excelente
atriz que interpreta Zíphora, a esposa de Moisés. Apaixonei-me por ela umas
quinhentas vezes durante o filme.
E é isso. Bom entretenimento... não vá esperando a história
bíblica, nem um clássico do cinema. Assista sem muitas pretensões. Se você for um
fanático psicopata, deixe de ver e seja feliz.
Esse vai junto do meu bem querer para a estante com o Noé do
Aronofsky. Tendo você gostado ou não.
Abraços e até mais.
P.S.: A trilha do Alberto Iglesias é grandiosa mas não é pretensiosa, e
casa bem com a proposta de Scott.
P.S.2: Ele dedicou o filme ao irmão falecido, Tony Scott.
Dedico este post a ele, também.
Valeu.
Muito boa esta critica. Valeu!
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