domingo, fevereiro 08, 2015

Êxodo: Deuses e Reis - de Ridley Scott (2014)


Sou fã de Ridley Scott. Sou fã de Alien, de Blade Runner, de Robin Hood - e até mesmo de Prometheus. Sou fã de seu estilo detalhista e criativo, e mesmo de suas falhas e limitações.
Enquanto ia assistir a Exodo: Deuses e Reis, fui repetindo este mantra incessantemente em minha cabeça, esperando um blockbuster fraco e insosso, com as expectativas bem baixas.

Ainda bem que me enganei.

Porém, se você é uma pessoa muito religiosa, que leva a sério e ao pé da letra o que está escrito na Bíblia, este filme não é para você. Se você chegou até aqui, saiba que nem está crítica é para seus olhos. Esteja avisado. Siga adiante por sua conta e risco. E se quiser discordar, é um direito seu, só não venha encher meu saco depois com mimimi.

Enfim.


O background é o mesmo: Egito, reinado de Seti. Há dois filhos: o de sangue, Ramsés – arrogante, impetuoso, inseguro...; e Moisés, o adotivo, exato oposto de seu irmão de sangue real. São irmãos, apesar de tudo, mas também competidores pela atenção do pai e pelo amor do povo – embora Ramsés pareça ter essa necessidade, para Moisés é apenas consequência de quem ele é.

O faraó adoece e morre... e Ramsés torna-se Ramsés II, o novo Rei-deus. Moisés torna-se seu conselheiro, e as coisas começam a desandar...

Quando se descobre que Moisés é hebreu, e se vê levado a desacreditar de tudo o que conheceu.

Exilado, vaga pelo deserto até encontrar um lugarejo afastado onde constitui família, e deixa todos seus problemas para trás, tornando-se pastor de cabras.

Então vem Deus, e a visão de Scott torna-se insana e muito cínica: Jeová é uma criança maltrapilha sedenta por vingança, e por derramamento de sangue egípcio! Ainda estão ali a montanha e a sarça ardente, mas Moisés tem a visão de Deus após levar uma forte pancada na cabeça, com a perna quebrada e submerso na lama apenas com o rosto de fora!

Não é fantástico?

Ele arde em febre e sua esposa tenta dissuadi-lo de sua jornada pela libertação de seu povo – agora é o povo dele, Deus disse! -, falando que ele estava alucinando, mas não! Ele abandona tudo e segue, cajado na mão, rumo ao Egito. Entra clandestinamente na capital e começa a treinar os hebreus na arte da guerrilha urbana.

Incêndios e explosões, meus caros. Os hebreus de Scott são terroristas explodindo transportes e fontes de alimentação dos Egípcios. Mas Deus está descontente, pois o faraó louco interpretado por Joel Edgerton (péssima escolha étnica, mas o cara é tão bom que logo você esquece e o aceita!) não abre mão daqueles milhares de escravos.

Aí vem as pragas. E o Moisés de Christian Bale pergunta: “Não é crueldade demais?”. O Deus-menino responde: “E todos esses anos de miséria e escravidão?”

Começam. Nilo em sangue, sapos, moscas, gafanhotos, feridas na pele, morte de gado, fome... e nada do Faraó abrir mão.

Devo dizer mais uma vez que os atores principais são excelentes: Bale é um ator competente e entrega o que lhe pede – um Moisés cético e irônico, perturbado por dúvidas e questões existenciais; e Edgerton é esforçado, seu Ramsés um psicopata completo, obcecado pelo amor do filho – coisa que seu pai dedicou a Moisés.

Pena que Bem Kingsley e Sigourney Weaver foram muito subutilizados. Ah, e o Jesse Pinkerton tá aqui também, irreconhecível e muito mal explorado.

Voltando à história, a praga dos primogênitos... uma cena forte e muito bem realizada, que finalmente leva à libertação dos hebreus...

E à mudança de ideia do Faraó enlouquecido de vingança pela perda do filho, que persegue os ex-escravos deserto e montanha rumo ao Mar Vermelho sem se importar com a perda de seu pessoal no caminho.

E temos a cena de abertura do Mar Vermelho, menos impactante que a de Cecil B. DeMille, mas ainda assim poderosa e grandiosa.

Devo falar ainda de Maria Valverde, a linda e excelente atriz que interpreta Zíphora, a esposa de Moisés. Apaixonei-me por ela umas quinhentas vezes durante o filme.


E é isso. Bom entretenimento... não vá esperando a história bíblica, nem um clássico do cinema. Assista sem muitas pretensões. Se você for um fanático psicopata, deixe de ver e seja feliz.

Esse vai junto do meu bem querer para a estante com o Noé do Aronofsky. Tendo você gostado ou não.

Abraços e até mais.

P.S.: A trilha do Alberto Iglesias é grandiosa mas não é pretensiosa, e casa bem com a proposta de Scott.

P.S.2: Ele dedicou o filme ao irmão falecido, Tony Scott. Dedico este post a ele, também.

Valeu.

Um comentário:

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