quarta-feira, julho 09, 2014

Turn Blue - The Black Keys (2014), ou: O Peso do Amor


Eu costumo dizer que amor é sinônimo de sacrifício. Quando você resolve abrir mão de sua individualidade para morar/casar/viver com outra pessoa, este já é um holocausto sangrento e fumarento à Afrodite/Eros.



Viver junto não é fácil. Egos e desejos se rebelam contra a rotina e as pequenas coisas, e, a não ser que se faça um esforço constante, tudo isto (ou só isto) acaba sufocando a relação e conduzindo ao inevitável e inexorável fim. (E às vezes, mesmo com esforços sobre-humanos sendo feitos, com todas as desculpas e justificativas, ainda assim o casal/a dupla/o duo se separa, e o que fica é só a saudade, o orgulho e a culpa).


O novo trabalho do The Black Keys, "Turn Blue", abre já com essa bomba em tuas mãos: "The Weight Of Love", quase sete minutos de tristeza e dor jogados na tua cara entre riffs insanos de guitarra. É impossível passar por ela incólume, pois se você já amou, algo teu se perdeu.



O disco foi produzido por Danger Mouse, e reflete um momento difícil do vocalista/guitarrista Dan Auerbach: sua separação, e os problemas desta para sua filha.

Enquanto nos discos anteriores tínhamos Carney e Auerbach como num trem desgovernado, entre riffs de guitarra insanos e uma certa violência estilizada, em "Turn Blue" temos um trabalho mais introvertido, contido e sossegado. Mas não se engane: a fúria ainda está lá, sob as camadas de tristeza. Há uma presença maior do sintetizador aqui, mas nada que descaracterize o trabalho da dupla. Vem para enriquecer.

Mas nem só de tristeza é feito "Turn Blue". Como eu disse antes, a chama ainda arde e consome tudo - a tristeza é apenas uma das faces do duo. O single "Fever" é quente e, ainda assim, traz em si os machucados advindos da ilusão destruída.

Terminar um relacionamento é uma das coisas mais difíceis que um ser humano atravessa. Quando termina de maneira violenta e machuca outras pessoas, é impossível não sair ferido, quebrado, mutilado.

"Turn Blue" é assim: uma ode à tristeza, ao fim, à culpa e ao adeus. Um choro raivoso, uma praga lançada, uma briga que vai mais longe do que deveria. Crianças que choram a separação de seus pais e que nunca mais serão as mesmas.

Adultos que se amaram um dia e que agora não se suportam mais.

Será que todos nós sucumbimos ao peso do amor, um dia?


Que disco! Um dos que vai figurar na lista dos dez melhores no fim do ano, com certeza.

(Faça o que puder para salvar seu amor. E se não puder fazer nada, não se esconda atrás de desculpas. Faça o que tem que ser feito. Às vezes, o melhor é apenas o que é menos ruim para todos).

Até mais, meus queridos e queridas.

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