segunda-feira, março 24, 2014

Nymphomaniac Vol I

O AMOR NÃO É APENAS CEGO. ELE DISTORCE ALGUMAS COISAS



O primeiro cartaz lançado para o novo filme de Lars von Trier, NYMPHOMANIAC (Veja abaixo) tinha uma estrutura com imagens de todos os principais atores empilhados em cima uns dos outros, cada um focado no exato momento do clímax sexual. É um cartaz apelativo e engraçado, privado e exibicionista, ao mesmo tempo.

O sexo pode ser natural e bom, mas vendo na tela (seja real ou simulado) é muitas vezes um divisor de águas. Todos nó podemos fazer isso, mas como colocá-lo na tela de uma forma representativa da confusão/humor e a realidade que ele é? Como representar o sexo e também incorporar a sua emoção. Nós seres humanos somos em geral muito bobos em relação ao sexo, especialmente quando assumimos uma postura, digamos, mais filosófica sobre ele. É como filosofar sobre um espirro. Ao contrario de um espirro, o sexo traz vidas associadas a ele, e corpos contorcidos e nus durante ele na tela achatam tudo em um clichê geral representando uma vaga ideia do ato em si. A melhor parte do fascinante, envolvente e muitas vezes didático Nymphomaniac, é que, apesar do tom as vezes triste e um conjunto de cores sombrias, é um filme extremamente engraçado, brincalhão mesmo. É ultrajante e provocador, intelectual e primal, algumas vezes tudo ao mesmo tempo. Possui muito do que se parece com o sexo real (apesar do que nos é informado nos créditos finais que o sexo com penetração foi feito por dublês), e, embora seja obviamente interessado sobre sexo, é muito mais ainda interessado em como falamos sobre ele, como nós o incorporamos a nossa identidade, ou não. Semelhante ao Melancholia, o exame que von Trier faz sobre a depressão, e como é que se processa uma sensação de uma força trabalhando em aqueles que sofrem com isso, Nymphomaniac vê o sexo pelos olhos de uma mulher que se tornou danificada e que tornou a missão de sua vida remover o sexo da nossa "sociedade do amor-fixo". Ela diz sem rodeios: "O amor não é apenas cego, é pior. Distorce algumas coisas. É algo que eu não pedi."

Charlotte Gainsbourg interpreta a andrógina Joe que na abertura do volume I, é achada machucada e surrada em um beco escuro por Seligma (Stellan Skarsgard). Sem saber o que aconteceu Seligma a leva para casa, coloca-a na cama e lhe serve um chá como ela pediu. Ele é um completo estranho para ela e ele pergunta o que aconteceu. Ela resolve lhe contar tudo, desde do principio, mas lhe avisa que não será uma bela história e que ela é uma pessoa má. Ele garante que nada do que ela disser irá chocá-lo. Ele acha que ela pode estar sendo muito dura com ela mesma. Sentimos que há algo inacabado sobre Joe, um plano afetado, como ela insiste que seu comportamento tem sido até agora. A chuva vai e ela vai lhe contando a sua história.

É um dispositivo teatral flagrante, um enquadramento artificial a La Von Trier dividido em seções intituladas, cada uma com sua própria linha narrativa e tom. Ocasionalmente vamos voltar ao quarto com Seligma e Joe, quando ele interrompe para fazer uma pergunta sobre o que ela acabou de dizer ou quando ele próprio sai por uma tangente de pensamento. Ele não está assustado com o que Joe diz. Pelo contrario, ele está encantado por ela e parece encantado também com a oportunidade de falar sobre estes assuntos importantes de uma forma tão profunda. Seligma é um grande pescador que constrói suas próprias iscas-fly, e muito do que Joe descreve, suas várias táticas com os homens, seu uso de diferentes tipos de "iscas", Lembra seu hobby favorito.

Parte do prazer em Nynphomaniac é o seu desinteresse em ser outra coisa senão ele próprio. Esse "eu" pode mudar de base a qualquer momento o que torna o filme uma experiência estonteante. É por vezes estilizado, outras vezes totalmente realista. Equações matemáticas aparecem na tela, contanto as "bombadas" sexuais do primeiro amante de Joe. Existem diagramas intricados de uma tarefa de estacionar um carro em uma vaga, mostrando a parábola de como colocar o carro em um determinado ponto. Um quadro enumerando todas as perguntas começando com what. Longas conversas sobre Edgar Allan Poe, Bach e números de Fibonacci. Ele exige uma audiência única para apresentar todos estes seguimentos, para ir com o fluxo e entregar o controle.

Nas seções de flashbacks do Volume I a Jovem Joe é interpretada por Stacy Martin, que está sendo criada por uma mãe fria e distante e um medico e bondoso pai (Christian Slater), que passa para a filha um amor pelas arvores, especialmente o Freixo com sua bela folhagem. Ela descobre ainda cedo que quando toca-se entre as pernas, ela consegue o que ela chama de " a sensação". Joe vê sua virgindade como algo do qual precisa se livrar e escolhe para isso um mecânico de motos chamado Jerome (Shia Lebouf) e ele o faz com pouca cerimonia e sem preâmbulos. Jerome continua entrando no filme através de varias coincidências difíceis de acreditar. O mecânico de alguma forma, é transformado em um gerente de escritório. Quando Jerome reaparece pela terceira vez, Seligma, ainda ouvido, a acusa de estar fantasiando a história. Isso está soando ficcional agora, reclama Seligma. Ela deve estar mesmo fazendo isso! Von Trier utilizasse desse dispositivo como um distanciamento para comentar a sua própria história, assim como ele configura meticulosamente cada seção de forma independente. Ele sabe que nós, a essa altura, estaremos indo para dentro e para fora da ação. Na verdade ele conta com isso.

A jovem Joe, uma vez perdida a virgindade, começa a sua busca para ter tanto sexo quanto ela puder. Seu parceiro no "crime" para isso é uma jovem amiga que é ainda mais ousada. e que surge com várias competições sexuais. Elas embarcam num trem clandestinamente para competir por um maior numero de conquistas sexuais em única noite. Joe é surpreendida ao descobrir como é fácil. Ela diz a Seligma sobre uma curva de aprendizagem. as táticas e estrategias que ela usou enquanto buscava homens naquele trem. Ela é fria e calculista sobre isso, e a cenas realmente capta a agitação de uma bravura camicase das jovens experimentando pela primeira vez os seus poderes sexuais sem saber nada do que estão fazendo. Nymphomaniac não julga Joe e sua jovem amiga. A única que julga Joe é a Joe mais madura, embrulhada em cobertores, contando a Seligma a sua história.

Toda vez que Seligma interrompe a história, Joe lhe lembra que seus sentimento sobre ela vão mudar quando ele ouvir tudo. É um gancho, uma provocação, a própria "isca" fly-fishing do filme. Em uma sequencia, Joe relaciona as dificuldades e o malabarismo que tem que fazer para ter sete amantes ao mesmo tempo. Muitas vezes alguns deles se encontram ao mesmo tempo em sua porta, um cara saindo e outro entrando. As coisa se complicam. Joe pode ser capaz de separar o sexo da emoção (por uma questão de fato, que é esse o seu objetivo), mas não é tão fácil para as outras pessoas. Um amante aparece em sua porta com um par de ternos enrolados em sacos plásticos, anunciando que ele finalmente deixou sua esposa e está se mudando para ficar com ela, Joe esá horrorizada, fica ainda mais quando a esposa desprezada, conhecida apenas como Sra H (Uma Thurman, cujo o desempenho maniaco vicioso é um dos pontos altos do filme) aparece na porta com os três filhos a tiracolo. Ela quer que os meninos vejam onde o papai gasta o tempo livre. "Venham meninos, vamos dar uma olhada na onde ela se prostitui!" Exclama a Sra H. brilhantemente.

Os atores americanos usam aquele sotaque meio britânico, o que aumenta o humor blasé da coisa. Não é importante de onde são essas pessoas, não é nem mesmo importante o que essas pessoas são. É importante o que elas fazem, e é importante como elas pensam sobre o que fazem. Significa que Nynphomaniac não comete o erro de sugerir que o comportamento de Joe está ligado a uma má experiência em sua infância. Essa não é uma narrativa resgate ou uma narrativa trauma, pelo menos não ainda. Sexo é bom por si mesmo, sexo é a sua própria recompensa.

Seligma, por vezes, perde o foco da narrativa de Joe, refletindo sobre como o vicio pode ser um aparelho maçante da moral de uma pessoa. Joe que ter certeza que está sendo perfeitamente clara com ele: Ela abraçou o sexo por causa da "sensação" que forneceu a ela desde a sua descoberta, o poder que ela tinha sobre os homens era secundário. Ela adora luxúria, e essa luxúria faz dela uma pessoa sem coração. Bem, esse é um mundo sem coração. Joe se vê como uma fora da lei, assumindo o controle de sua própria fome, e como uma jovem mulher, ela e seu grupo de amigas criam um clube onde o amor é proibido e só a luxúria é permitida - "Temos o direito de estar com tesão" diz Erica sobre um dos objetivos do grupo. O clube não permiti que seus membros de apenas garotas, durmam mais de uma vez com o mesmo cara, é o reconhecimento explicito do poder emocional que vem colado ao sexo.

Volume I termina com uma nota violenta, com Joe em uma encruzilhada dolorosa de sua própria filosofia sexual e cenas do volume II desfraldada ao lado do rolo de créditos. Toda a conversa no Volume I sobre luxuria, sensação e "galos" (temos uma galeria de diferentes pênis em close na tela) traduz-se em um pouco de sexo extremamente triste em Nymphomaniac, chato, aborrecido, bobo e embaraçoso.. Você olha para uma parte dele e se pergunta: Que diabos, qual o ponto aqui? Nada disso é erótico. Tudo aqui se trata de bater, empurra e moer, acrescentando-se a uma consciência tácita do vazio no centro da humanidade, a presença ameaçadora da morte. Não é apenas uma possibilidade, mas uma conexão real.

O sexo pode ser muitas coisas, ele pode expressar o amor, o ódio, poder, vingança. Ele pode aliviar o tédio. Ele pode ser sobreposto com considerações intelectuais, ou preocupados com conceitos como consentimento, objetivação, a misoginia, ou seja, todo seu histórico de bagagem cultural, as pessoas trazem para cama com elas. O filme aborda esses temas pesados. O filme é um ato de alta frieza intelectual, que desafia a morte. É divertido apesar da seu caráter sombrio, é criativo e ousado


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