O Lobo de Wall Street de Martin Scorsese é um filme sem vergonha, nojento, emocionante. Uma montanha russa de emoções desgastante e ao mesmo tempo esclarecedor. Um filme sobre homens repugnantes. Tudo isso sem perder o foco do principal: divertido. Se o compararmos com a história do imperador romano Calígula, como fez sua estrela principal Leonardo De Caprio, ele e nós não estaremos errado.
Uma adaptação de Terence Winter do livros de memórias de Jordan Belfort (que já se encontra na lista dos mais vendidos por aqui). Jordan Belfort foi um corretor da bolsa que acumulou uma fortuna nos anos 1980/1990. É um filme excessivo e sobre excessos, sobre prazeres compulsivos e apetites que podem tornar um homem repugnante ao mergulhar profundamente em sua própria esteira de coisas sujas. Ele pode ser fascinante e ao mesmo tempo perturbador, algo que parece ter sido feito com a parte de nossos cérebros que chamamos reptiliano, e por essa razão ele foi feito para ser assistido com essa mesma parte do seu cérebro, caso contrario, há um risco grande de você deixar o cinema antes que todas as 3 horas do mesmo se encerrarem.
Belfort, tentou e não conseguiu estabelecer-se em Wall Street de uma forma mais tradicional no final dos anos 1980 sob a tutela de um cara delirante e viciado em dinheiro interpretado por Matthew McConaughey, mas foi despedido na quebra da bolsa em 1987. A partir dai ele se reinventa em Long Island assumindo um "esquema" (leia-se crime) menor, mas semelhante ao esquema maior e não menos criminoso da bolsa oficial. Enquanto o esquema maior negociava milhões, o menor negociava centavos, explorando a confiança dos investidores classe média e trabalhadores. Logo ele funda a sua própria corretora, a Stratton Oakmont.. Em seu momento de maior ascensão ela empregava mais de 1000 corretores envolvidos em emissões de ações no valor de 1 bilhão de Dólares, incluindo um aumento de capital para uma empresa de fachada a Steve Maden Calçados, da qual ele mesmo e seu sócio Donnie Azoff (Jonah Hill) eram donos em mais de 85%. Belfort e sua corretora especializaram-se em operações que inflavam artificialmente o valor de uma ação que não valia nada até um valor máximo e em seguida vender por um maior lucro possível. Posto as coisas no lugar certo, em um momento futuro, os investidores perdiam muito dinheiro. Belfort foi indiciado em 1998 por lavagem de dinheiro e fraudes de titulo, passou quase dois anos em uma prisão federal e foi condenando a pagar 110 milhões de Dólares que ele tinha tomado dos investidores fraudulentamente. Nada perto do que de fato ele amealhou pelo que sabemos agora.
O filme mostra como Belfort subiu de uma origem humilde, para se tornar rico e famoso (O titulo The Wolf Wall Street, vem de um perfil de Belfort em uma revista que chamou a atenção do Ministério Publico). Ao lado deste Robin Hood ao contrario se junta uma equipe de homens de todas as origens sociais, até de um estrato mais duvidoso da sociedade, mas que em comum, têm o vicio de ganhar dinheiro, e uma obsessão desmedida por tudo que vem com ele, ampliados pela capacidade de Belfort de convence-los que eles precisam de mais. O sócio e braço direito de Belfort, Donnie Azoff é talvez mais sem consciência que o próprio Belfort: um gordinho bolado como um helicóptero reluzente e que encerra o expediente em restaurantes se sentido o próprio herói americano. Ele se junta ao esquema de Belfort para ajuda-lo a lavar o dinheiro ganho ilicitamente, e apresenta-o ao crack, como se Belfort já não tivesse intoxicantes suficientes em seu sistema. Como diz o personagem de McConaughey a Belfort no inicio do filme, "esse negocio é tão imprestável que as drogas são uma obrigação para estimular nossas ideias de livre-pensadores. Eu não sei se ele estava falando da bolsa ou da vida." (A bolsa ou a vida? isso parece outro roubo).
Belfort começa casado com uma mulher boa e respeitável que não aprova suas travessuras financeiras ou a sua infidelidade crônica, mas ele logo se jogará para uma loura troféu. O casamento com essa mulher que o aprova e o apoia é o próximo passo natural para todo o estilo de vida que ele escolheu. Como poderia ser difícil isso para ela? Não demora muito e Belfort está vivendo em uma mansão que outro personagem de De Caprio poderia ficar a vontade dentro dela, Jay Gatsby. Um helicoptero, um iate e festas. Muitas festas com um Belfort absolutamente fora dos limites e uma mente lotada das mais pesadas drogas. Serio! quem aguentaria isso?
Entra em cena um procurador federal chamado Patrick Denaham (Kyle Chandler), cercando e fazendo Belfort suar, confrontando-o em seu próprio território (incluindo o iate de Belfort), deixando-o se gabar de sua própria megalomania e dando corda para ele se enforcar
Para se situar melhor, imagine os últimos trinta minutos de Os Bons Companheiros estendidos e uma versão de três horas. Eis o ritmo do filme. Ai está a sensação que ele desperta. Uma maldita coisa atrás da outras que quase não da pra respirar: fraude em ações e lavagem de capitais, ou branqueamento, como chamam por lá; viagens para Suíça para depositar dinheiro em bancos, cortes em ritmo pop-rock acionados por mudanças na velocidade do filme, aquela coisa de clip "ostentação" e algumas cenas de diálogos aparentemente semi-improvisados ousadamente prolongados e que nos faz senti-lo como pequenas peças de teatro em um ato. O meu preferido é o de McConaughey (nome chato de escrever...), como mentor de Belfort, o insano Mark Hanna, que a certa altura inicia um padrão percussivo batendo em seu próprio peito enquanto entoa uma canção a la Bobby McFerrin, o que acaba se tornando o hino da empresa de Belfort, e é estranhamente direto, como sugere, uma canção tribal de bárbaros em violência permanente.
Belfort, o lobo, é o macho alfa com uma postura de atração-repulsão, servindo-se de drogas e de prostitutas e ficando over em boa parte do espetáculo. Em sua atuação mais exuberante desde Titanic, DiCaprio interpreta Belfort como um Mussolini do pregão, um atleta arrogante que bomba seus rapazes chamando-os de "assassinos" e "guerreiros" e atrai os famintos, mulheres auto-destrutivas, em parte, via a impetuosidade e sua boa aparência com cara de bebê, mas principalmente por sua ousadia contagiante e insana. O filme não tem o mesmo distanciamento suave que Scorsese conferiu aos "Bons Companheiros" e "Cassino", onde se adotou um distanciamento a la Stanely Kubrick, neles todos os envolvidos pareciam narrar os fatos a partir de uma nuvem no céu ou um poço no inferno. Lobo está no meio das coisas a todo momento, pra sufocar qualquer efeito, privando o espectador de qualquer âncora moral.
Isso não é a mesma coisa que dizer que o filme é amoral, no entanto. Não é. Pode ser uma história nojenta com todas essas pessoas beirando ao grotesco, muitas vezes filmadas a partir de ângulos distorcidos ou em tomadas profunda e largas que os fazem parecer animais bem vestidos em terraços luxuriante e ricamente decorados. Mas não é uma apologia ao imoral.
Scorsese e Winter nunca perdem de vista o quadro maior. Em teoria, o assunto do filme é a mentalidade de Wall Street, que é apenas uma versão mais limpa da mentalidade gangster exibidos em Caminhos Perigosos/Mean Streets (1973),Os Bons Companheros/Goodfellas (1190) e Casino (1995) por Scorsese. Lobo começa como uma festa a la Fellini na empresa de Belfort para em seguida congelar a imagem de Belfort arremessando um anão em direção a um alvo de velcro enorme, literalmente e figurativamente abusando do pequeno cara. O filme vai além de um culto ao anti-herói. O filme é como é um bom números de filmes de Scorsese, sobre vícios. Uma doença ou uma condição que toma posse de suas emoções e imaginação, e faz com que seja difícil imaginar qualquer vida que não seja aquela. Muitas pessoas ficam tentadas a seguir as façanhas de empresários, financistas, banqueiros e artigos semelhantes, e quando tais homens são pegos contornando caminhos ou quebrando leis tendemos a torcer por eles como se fossem heróis populares de má reputação, gangsteres com canetas tinteiros, em vez de armas. Por todo seus egoísmo e crueldade, estão acima das regras mesquinha a que está submetido o resto de nós. Tais homens são viciados, instigados por uma torcida de caras que fantasiam em ser grande. Nós permitimos que eles se divirtam com suas façanhas, não prestando atenção o suficiente para seus malefícios, e muito menos exigindo leis mais duras que impeçam que caras como Belfort floresçam.
Haverá alguns pontos durante o filme que você vai pensar: "Essas pessoas são revoltantes, por que eu estou tolerando isso, sem obter nem um pouco de emoção repulsiva?" Nesses momentos é melhor pensar sobre o que "ele" se refere. Não são apenas esses personagens, e essa configuração, é está história em particular. É o mundo em que vivemos onde homens como Belfort nos representam, mesmo que eles estejam nos roubando cegamente. Eles são a America, eles são o Brasil e considerável parte do planeta. Belfort nunca foi punido em um nível condizente com a magnitude da dor que ele certamente causou as pessoas. De acordo com o Ministério Público Federal de lá, ele não conseguiu cumprir os termos de seu acordo de restituição de 2003. Ele agora é um palestrante motivacional, e se você ler alguma de suas entrevistas perceberá que ele realmente não sente muito pelo seu passado. Rimos do filme, mas caras como Belfort nunca vão parar de rir de nós.
Belfort, o lobo, é o macho alfa com uma postura de atração-repulsão, servindo-se de drogas e de prostitutas e ficando over em boa parte do espetáculo. Em sua atuação mais exuberante desde Titanic, DiCaprio interpreta Belfort como um Mussolini do pregão, um atleta arrogante que bomba seus rapazes chamando-os de "assassinos" e "guerreiros" e atrai os famintos, mulheres auto-destrutivas, em parte, via a impetuosidade e sua boa aparência com cara de bebê, mas principalmente por sua ousadia contagiante e insana. O filme não tem o mesmo distanciamento suave que Scorsese conferiu aos "Bons Companheiros" e "Cassino", onde se adotou um distanciamento a la Stanely Kubrick, neles todos os envolvidos pareciam narrar os fatos a partir de uma nuvem no céu ou um poço no inferno. Lobo está no meio das coisas a todo momento, pra sufocar qualquer efeito, privando o espectador de qualquer âncora moral.
Isso não é a mesma coisa que dizer que o filme é amoral, no entanto. Não é. Pode ser uma história nojenta com todas essas pessoas beirando ao grotesco, muitas vezes filmadas a partir de ângulos distorcidos ou em tomadas profunda e largas que os fazem parecer animais bem vestidos em terraços luxuriante e ricamente decorados. Mas não é uma apologia ao imoral.
Scorsese e Winter nunca perdem de vista o quadro maior. Em teoria, o assunto do filme é a mentalidade de Wall Street, que é apenas uma versão mais limpa da mentalidade gangster exibidos em Caminhos Perigosos/Mean Streets (1973),Os Bons Companheros/Goodfellas (1190) e Casino (1995) por Scorsese. Lobo começa como uma festa a la Fellini na empresa de Belfort para em seguida congelar a imagem de Belfort arremessando um anão em direção a um alvo de velcro enorme, literalmente e figurativamente abusando do pequeno cara. O filme vai além de um culto ao anti-herói. O filme é como é um bom números de filmes de Scorsese, sobre vícios. Uma doença ou uma condição que toma posse de suas emoções e imaginação, e faz com que seja difícil imaginar qualquer vida que não seja aquela. Muitas pessoas ficam tentadas a seguir as façanhas de empresários, financistas, banqueiros e artigos semelhantes, e quando tais homens são pegos contornando caminhos ou quebrando leis tendemos a torcer por eles como se fossem heróis populares de má reputação, gangsteres com canetas tinteiros, em vez de armas. Por todo seus egoísmo e crueldade, estão acima das regras mesquinha a que está submetido o resto de nós. Tais homens são viciados, instigados por uma torcida de caras que fantasiam em ser grande. Nós permitimos que eles se divirtam com suas façanhas, não prestando atenção o suficiente para seus malefícios, e muito menos exigindo leis mais duras que impeçam que caras como Belfort floresçam.
Haverá alguns pontos durante o filme que você vai pensar: "Essas pessoas são revoltantes, por que eu estou tolerando isso, sem obter nem um pouco de emoção repulsiva?" Nesses momentos é melhor pensar sobre o que "ele" se refere. Não são apenas esses personagens, e essa configuração, é está história em particular. É o mundo em que vivemos onde homens como Belfort nos representam, mesmo que eles estejam nos roubando cegamente. Eles são a America, eles são o Brasil e considerável parte do planeta. Belfort nunca foi punido em um nível condizente com a magnitude da dor que ele certamente causou as pessoas. De acordo com o Ministério Público Federal de lá, ele não conseguiu cumprir os termos de seu acordo de restituição de 2003. Ele agora é um palestrante motivacional, e se você ler alguma de suas entrevistas perceberá que ele realmente não sente muito pelo seu passado. Rimos do filme, mas caras como Belfort nunca vão parar de rir de nós.
Esse filme simplesmente é sensacional! Pensei em resenhar ele, mas sou meio suspeita para falar de Scorsese! Assisti duas vezes, Scorsese como sempre se superando, Leonardo era um dos meus favoritos ao Oscar! Parabéns Assis! Mega postagem!
ResponderExcluirScorsese é algo para se ver sempre. Ele consegue fazer de Dicaprio um ator para além. O filme é algo pra não se cansar de ver e compartilho com você o gosto pela obras de Scorsese
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