sábado, fevereiro 01, 2014

Jogos Vorazes: Em Chamas

Dia 32.

Filme: Jogos Vorazes: Em Chamas (2013) - IMDb 8,0
Diretor: Francis Lawrence
Roteiro: Simon Beaufoy,Michael Arndt
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth

Resolvi fazer uma coisa que me assusta. Falar do filme Jogos Vorazes, da sua continuação "Em Chamas". Um filme que agrada tanto para uma maioria, me faz recear de não ser justo, e com isso ferir algum sentimento que porventura você tenha desenvolvido pela franquia. Ficaria mais a vontade de tivesse lido o livro que lhe deu origem, mas não o fiz. Gostaria de deixar essa bola para o Felipe, mas vou me arriscar devido ao componente distópico do filme, o que não exclui a possibilidade de assim mesmo,  de que o Felipe, sempre competente, no futuro nos ofereça também seu olhar sobre ele.


O fato é que um filme como Jogos Vorazes: Em Chamas, ter em seu interior uma adolescente feminina de 13 anos com tendências feministas e desejosa de fazer uma revolução, me faz levantar e aplaudi-lo. E claro, a mera existência de uma franquia para o publico teen, conduzida por uma garota, e que não gira em torno de potenciais pretendentes com tendências sobrenaturais é suficiente para me manter sorrindo. Jennifer Lawrence como a guerreira essencial Katniss Everdeen neste segundo round é tão indispensável como foi Vivien leigh em Gone With the Wind / E o Vento Levou. De repente tudo gira em torno do seu casamento e o que vestir durante uma entrevista de TV feita para distrair a massa oprimida de Panem. O que parece inicialmente como uma gaiola branco-fosca de varias camadas no instante seguinte, como magica, é envolvida em chamas e se transforma em um simbolo alado flexível da meia-noite azulada, uma subversão que emula o mascote de uma rebelião que toma corpo pelo país. Um vestido (de noiva) que representa o aprisionamento feminino e suas expectativas,  e outro, em que ele se transforma, a liberdade humana e suas oportunidades. Chama-lo de um momento em que "Barbie-encontra-Joana D'arc" não é exagero. Nem todo homem pode pode carregar um rabo de cavalo e um topete ao mesmo tempo, mas o maldito Stanley Tucci, como o apresentador de TV, Cesár Flickerman, bajulador do sistema e cara de pau em pessoa, com um sorriso de escárnio e conhecendo o que aquilo significa, só consegue dizer: "Girl on Fire é tão atrevido". Mais cínico impossível.

Sim, a moda pode ser uma arma para o bem e um veículo para a revolução, pelo menos nesta distopia, com o seu regime fascista liderado pelo serenamente insidioso Presidente Snow (Donald Sutherland), aqui terrivelmente berrante para um estilo e auxiliado por  Effie Trinket (Elizabeth Banks) sob o disfarce vertiginoso de chefe de torcida que a torna irreconhecível com suas perucas e cílios, mas que pelo menos está autorizada a ser mais quente dessa vez. Ato de troca rápida e vemos Katniss quase como Liz Taylor em Cleópatra, com seu cabelo e maquiagem romano-circo, andando em uma biga hi-tec em meio a uma trovejante multidão e depois vestindo outra roupa impressionante de inspiração alada, para um sarau pré-Jogos Vorazes. Tudo isso para transmitir silenciosamente a sua assustadora psique de arqueira-guerreira por baixo de seus vestidos de fantasia e o seu severo estado mental pós-traumático após os acontecimentos anteriores. A trama simplesmente pega onde onde o primeiro filme parou e fecha nem de longe a um clímax satisfatório.

O tempo de 2 horas e meia de filme é dividido em dois momentos: primeiro aprendemos como se deu o estratagema usado por Katniss para derrubar as regras do jogo e permitir que ela e o falso namorado Peeta Mellark, o padeiro (John Hutcherson, ainda indevidamente fofinho), sobrevivessem como co-campeões o que também faz os menos afortunado de Panam pensarem que podem se levantar contra seus senhores. Mostra os jovens namorados e depois supostos noivos, em turnê para cumprimentar seus fãs. Torna-se claro que eles veem em Katniss uma liderança inspiradora, papel que ela centímetro por centímetro cresce em aceitar.O fascismo de estado tem agora a assistência de Philp Seymour Hoffman como o suave e novo gamesmaker, Plutarco Heavensbee. Ele anuncia, algo que saiu de sua cabeça, uma especie de especial All-Star do 75º Aniversario de Jogos Vorazes, onde os ex vencedores dos jogos anteriores, serão colocados uns contra os outros e Katniss e Peeta devem colocar suas vidas em risco novamente.

A última hora é dedicada a um jogo de morte olímpico em uma selva tropical simulada. A diversão tal como ela é, começa com desafios visualmente intrigantes como uma névoa tóxica, babuínos raivosos e uma chuva de sangue. Vários novos participantes são bem vindos a bordo. Muito parecido com Hoffman, tais talentos fantásticos como Jeffrey Wrigth, Amanda Plummer e Jena Malone são extremamente qualificados para suas peças, cada um oferece um caráter nitidamente definido que ilumina consideravelmente o processo. Em particular Malone como uma punk legal fornece a Lawrence uma inspiração feroz para jogar contra. O maior e talvez melhor momento de descontração para a assistência fica por conta de Johana tirando suas roupas em um elevador para a apreciação de Peeta e o desdém de Katniss.


O diretor Francis Lawrence, de Eu Sou a Lenda e Água para Elefantes, é confiante o suficiente para não ir muito pesado sobre o trabalho de câmera de mão muito desprezado pelo seu antecessor, Gary Ross. Jogos Vorazes: Em chamas, no entanto sofre do mesmo "algo velho, algo emprestado", doença que é inimiga da originalidade em muitos esforços de Hollywood nos últimos tempos. É difícil desfrutar de um filme quando você vê muita coisa tirada forçadamente de fontes referenciais como "Lost" e "Suvivor" da televisão, Star Wars (sendo imitado com os soldados Stormtrooper), The Running man, filmes romanos e mitos gregos.

O que faz, talvez, os livros e os filmes interessantes é a  forma como eles definem as angústia e obsessões da cultura pop em nossas vidas diárias: raiva sobre os políticos, fascínios com celebridades fora de controle, uma subclasse cada vez mais descrente e crescente, vícios em reality's shows e videogames e a regularidade em dimensionar enormemente os atos violentos que monopolizam a cobertura televisa e surtos de ódio transformados em bullying.

Claro, a única coisa verdadeira e refrescante e que mais importa é Katniss. A cada capitulo na tela, a menina pobre do Distrito 12 continua a cumprir seu destino como inspiração e combatente rebelde. Ela é apenas uma mulher, mas ela é o antidoto perfeito para o excedente de super-heróis masculinos lá fora.

E por falar em rebelião, este é o blockbuster de ação raro que se atreve a se virar sem o famigerado e odioso 3D. Nós que já usamos óculos e preferimos gastar o troco do bilhete na pipoca, saudamos você Katniss e companhia.





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