Data de lançamento: 15 de março de 2006 (Berlim)
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Roteiro: Florian Henckel von Donnersmarck
Elenco: Ulrich Mühe, Martina Gedeck, Sebastian Koch, mais
Música composta por: Stephane Moucha, Gabriel Yared
Prêmios: Oscar de melhor filme estrangeiro.
Berlim Oriental, Novembro de 1984. Cinco anos antes da sua queda a RDA (República Democrática Alemã) procura manter o seu poder com a ajuda de um sistema impiedoso de controle e observação. A Alemanha Oriental, habitada por 16 milhões de pessoa que estão sendo incansavelmente espiada por sua polícia secreta – a Stasi. Neste mudo muito real do muro de Berlim, há muitos Stasis, 90.000, supervisionando a população, com a cumplicidade de centenas de milhares de informantes. Muitos destes foram chantageados ou pressionados a colaborar por meio de ameaças a seus entes queridos. Um mundo pavoroso onde não era possível se confiar em nada ou ninguém.
Neste mundo aterrador há peças de resistências. Ela vem da arte, ou melhor, dos artistas. Um escritor de peças para teatro, um dramaturgo, Georg Dreyman (Sebastian Koch), sua companheira, com quem ele divide um apartamento, Christa-Maria Seiland (Martina gerdeck). Eles e sua arte sobrevivem dentro das restrições do teatro patrocinadas pelo estado. Dreyman é um homem descente que parece cooptar, mas está tentando ganhar apoio para seus amigos dentro de uma lista negra. Por razões que tornarão bastante clara na trama, Dreyman cai sob suspeita e todo sofisticado sistema de espionagem Stasi entra em jogo em 1984. Todo seu apartamento está grampeado e todos os seus sons passam a ser monitorado 24 horas. Nosso terceiro personagem é o Capitão Gerd Weisler (Ulrich Muhe). O desempenho de Ulrich é nada menos que brilhante. Ele começa com uma presença quase autômata, vestida de cinza, ele quase desaparece em cada cena em que ele está participando, mas se detecta uma inteligência clara em seus olhos brilhantes, a única parte dele que está viva.
O Capitão Weisler é o soldado perfeito, e uma das peças funcionais da engrenagem do sistema de espionagem estatal. Fora disso ele não existe. Sua vida é espartana ao máximo e é fácil ver como pelo seu apartamento, para onde ele volta depois de entregar o seu turno de vigilância a um subalterno. Mas o Capitão começa a despertar lentamente enquanto escuta sorrateiramente sobre o estado-da-arte a partir do sótão do prédio de Dreyman. Na noite de aniversário de Dreyman, um dos seus convidados é um diretor que tem seu nome na tal lista negra do Ministério da Cultura. Ele dá de presente a Dreyman uma partitura musical de uma peça para piano de Bentovhen, “Appaisonata”. Na Alemanha oriental ela era conhecida como “Sonata Para um Homem Bom”. Logo o amigo que está na lista sucumbe ao ostracismo e se lança ao suicídio. Quando Dreyman recebe a notícia a primeira coisa que faz e executar a peça em seu piano. O que temos aqui é uma das passagens mais icônicas da trama, a peça transformadora que faltava ao espirito do Capitão Weisler. Ele escuta ao que parece pela primeira vez a peça e se emociona. Sua vida já está profundamente tocada pelo casal e agora a música atinge o mais fundo do seu ser. Dizem que Lênin ao ouvi-la disse: “Se eu continuar a escutá-la não consigo levar a cabo a revolução”. A mesma experiência parece ter o nosso capitão e à partir desse momento ele já não está mais certo de que lado está. A visão sobre a vida dos outros é transformadora para Weisler, torna-o ciente da sua própria pobreza, do pensamento-livre e do amor que lhe é negado.
Mas o sistema tem que continuar, não pode mais ser interrompido e um jogo perigoso que destrói o amor de Christia e Dreyman e de muitos modos também atinge Weisler está instalado. Ele se esforça, mas não consegue. Até a queda do muro, que se daria dali a 4 anos, cada um pagou um grande preço.
Este filme, com honras, ganhou o Oscar de melhor Filme Estrangeiro. Com um pouco mais de esforço e se fosse um filme americano, poderia ir mais longe. O fato é que nada, na cinematografia, havia lançado um olhar tão perturbador e ao mesmo tempo artístico sobre a Alemanha Oriental. Uma recriação do estado de terror que é viver num Estado absolutista e Orwelliano em sua essência. O olhar do cinema em direção a estes tempos eram apenas de comédias como Sonnenallee e Adeus a Lenin, que eram grandes e engraçads, mas inconsistentes com a realidade, que passavam a ideia da Alemanha Oriental como uma espécie de “Estado Mickey Mouse”, cheios de personagens idiotas, mas charmosos. Nada para se levar a sério finalmente. Há uma atmosfera terrivelmente claustrofóbica por trás de cada parede, ruas desabitadas ou com poucas pessoas a circular, um ar falsamente limpo, cheio de mentiras e medo, esse é o lado mais realista e obscuro da Alemanha oriental que certamente poderemos ter. Tudo graças a uma direção magistral e atores absolutamente convincentes em seus papeis.
Por tudo isso, Das Leben der Anderen/A vida dos Outros entra para categoria de filmes que eu chamo de “imperativo assistir”. Nestes dias de hoje, quando fantasma de regimes autoritários ainda sobrevivem sobre nossas cabeças, este filme pode lhe fazer pensar sobre o quão é importante o amor, a vida e a liberdade.
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