sábado, dezembro 28, 2013

Traficando Informação - 1999 - MV Bill - Um disco de Rap autêntico no velho estilo crítica social

-3.



MV Bill está em casa/ mandando fechado na comunidade/ Pode acreditar/ 
Vamos fazer uma longa viagem/ Não para o inferno tampouco ao paraíso/ 
Mas uma viagem na vida dura/ Na vida simples, Na vida triste/ De 
muitas pessoas que como nós/ Vivem as margens da sociedade. Vivem sem 
voz, acuadas e oprimidas/ Uma viagem de ida e de volta a uma cidade 
chamada de deus(...) 
Seja bem vindo ao meu mundo sinistro saiba como entrar/ droga polícia 
revólver não pode, saiba como evitar/ se não acredita no que eu falo 
vem aqui. 
Juramento, Borel, Rocinha, Formiga, Alemão, Caixa D’agua, Jorge Turco, 
Mineira, Coroa, Santa Marta (...)/ Em qualquer favela tem que seguir 
as ordens/ sem vacilar, pra não virar finado (...) 
Não há dúvidas. Isso é Rap.
Quando comecei a trabalhar em 1999 e 2000, eu ouvia muito Racionais Mc's. Racionais era um grupo cheio de letras bem feitas, rimas bem boladas e me fez gostar muito de Rap, mas sempre me incomodou a inversão de cor do preconceito, muitas vezes eles não criticavam o sistema mas na verdade o branco em si.


MV Bill, me dava mais prazer de ouvir, ele relatava a vida, da favela, do negro, da violência, tráfico, e  todas as mazelas sociais que acometem camadas da sociedade que foram a muito esquecidas, desassistidas e negadas aos direitos que sabemos que é obrigação do estado. Mas que cidadão pode influenciar tanto para amenizar como para aumentar o abismo que existe entre as classes sociais.

A história é parecida com a de muitos rappers, MV Bill encontrou na música uma forma de falar de tudo aquilo que ele via e que o angustiava. O Rap nesse contexto era não só uma forma dele viver honestamente, como também conscientizar, dar cultura, dar voz, e principalmente ser alguém que conseguia atingir, os ouvidos, o coração, a alma das comunidades.

MV Bill é um missionário da favela, ele liberta de dentro para fora. Mostrando o dia-a-dia da favela, ele não só mostra o que há de feio, ruim. Há missão dele é mostrar o potencial desses meninos e meninas, a beleza das festas, das danças, os valores das pessoas que antes eram vistas como apenas problemas.
É meio que a missão de todo artista. Fotografar a realidade com intenção de transformá-la.

Sobre o nome artístico, e curioso, MV é mensageiro da verdade, atribuído a sua capacidade de retratar a realidade, e Bill é um apelido de criança inspirado em chicletinhos da copa do mundo de 1982, onde existia um ratinho com esse nome.
Seu nome de registro é Alex Pereira Barbosa, nasceu no Rio de Janeiro em 3 de janeiro de 1974. O cenário é a comunidade Cidade de Deus.

Traficando Informação é o seu disco de estréia. Ao ouvir esse álbum entendemos o porque de chamar MV Bill de mensageiro da verdade. O disco é como se você tivesse sido convidado pelo próprio rapper e fosse passeando, pelos sonhos da juventude, das ilusões, das falsas promessas, como vida fácil através do tráfico; promessas típicas de tornar-se um jogador de futebol, as loucuras de caras com "Deus na barriga" e que acabam se dando mal; as covardias com as mulheres, estupros, o destino de caras que fazem isso; a sensualidade das mulheres, o orgulho de ser negro, as noitadas, o álcool, drogas, prostituição; o sorriso fácil dos parceiros, a lealdade, os códigos sociais da favela; as danças, as vinganças; personagens, como o babão, o cabuete, a presença da polícia, a indignação com o etnocídio negro; a falta de estrutura básica para viver, saneamento básico, água potável; comparação entre o O negro escravo na senzala, e o negro "livre" na favela.


A faixa "Soldado do Morro" foi apontada como apologia ao crime. Vai entender...

Interessante como em um momento se mostra a favela como um lugar urbano hostil, e em outro momento se mostra a favela como melhor lugar do mundo, e se tem orgulho daquele lugar, daquelas pessoas.

Cinco Tiros de 12 na sociedade.


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