quarta-feira, dezembro 04, 2013

Ensaio Sobre a Cegueira

 Dia 339

Blindness - 2008
Dir: Fernando Meirelles
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Gael García Bernal 

Qual é a forma mais desastrosa de se acabar com a humanidade ou mesmo com a civilização como a conhecemos? Eu torço muito pelo apocalipse zumbi, odiaria se fosse uma invasão alienígena e acho o apocalipse bíblico estiloso pra caramba. Mas e se o fim viesse de uma forma inesperada, totalmente inusitada e para qual nós não tivéssemos preparação, nem psicológica, nem estrutural? E se nós simplesmente ficássemos cegos, todos ao mesmo tempo e em todos os lugares do mundo?
Essa é a premissa de Ensaio Sobre a Cegueira, adaptação hollywoodiana do brasileiro Fernando Meirelles para o texto do português José Saramago.
No filme a humanidade se depara com o início de seu fim da forma mais brusca e sutil possível, que vai fazendo a sociedade definhar violentamente até que todas as nossas bases, até que toda a nossa moral e toda a nossa superioridade intelectual perante as outras espécies sejam reduzidas a nada. Da noite para o dia, todos os seres humanos, ou ao menos as pessoas que vivem na cidade em questão, são acometidos por uma cegueira coletiva. Não uma cegueira comum, mas uma estranhíssima cegueira branca.
E este elemento em questão é o primeiro passo para o declínio da espécie, para o início do fim deste mundo, para o começo de um novo.
Em uma medida desesperada para tentar conter a infecção, que aparentemente se comporta como uma epidemia, o governo ordena que todos as pessoas que se encontrarem nessas condições sejam enclausuradas em uma desumana quarentena.
Ali estão pessoas de todas as classes, de todas as cores, de várias etnias, e ali começa a nova sociedade humana. E não é uma coisa bonita de se ver.
Em meio a todos, apenas uma pessoa resiste à enfermidade, mantendo sua visão intacta em um mundo completamente cego: a mulher. Não o ser humano do sexo feminino, a personagem de Julianne Moore. No mundo de Blindness, ao perder sua visão, as pessoas perdem suas identidades. Nomes já mais não importam, rostos já não significam nada, ninguém mais pode ser segregado por cor de pele, ninguém mais é bonito ou feio, somos todos iguais.
Então aqui temos um cara (Mark Ruffalo), sua esposa (Moore) e um grupo de pessoas que se unem aos dois com o objetivo de sobreviver, primeiramente à quarentena, depois à insanidade que se torna o enclausuramento e, por último, ao mundo selvagem, totalmente abandonado.
Dentro do local onde eles ficam aprisionados inicialmente, forma-se um novo tipo de comunidade. Um tipo novo e completamente caótico, sem regras, sem lei se não a do mais forte. As pessoas se dividem em grupos e um deles decide dominar os outros. Liderados pela personagem (acho isso muito bizarro, mas personagem é um substantivo feminino e não varia de sexo por nada) de Gael Garcia Bernal, que se autodenomina o “Rei da Ala 3”, esse grupo confisca os recursos, forças as mulheres servi-los sexualmente, age com extrema agressividade...
Até o momento em que o grupo guiado por Julianne Moore consegue fugir daquele hospício e inicia sua nova jornada: o novo e devastado mundo.

É claro que tudo não passa de uma metáfora, a cegueira poderia ser substituída por qualquer elemento que desencadeasse tamanha comoção, há dezenas, centenas de mensagens poderosíssimas encrostadas na trama, questões que nos fazem reformular-nos como humanos, questionar nossa superioridade e o fato de que baseamo-nos em coisas tão pequenas e insignificantes que, ao serem tiradas de nós, fazem com que desmoronemos.

Não fosse suficiente a história poderosa do longa, ainda há um drama fantástico por trás de sua produção. Um drama que culminou em uma das cenas mais emocionantes da história do cinema. Cena protagonizada pelo próprio Meirelles e pelo próprio Saramago, pouco antes de morrer.
O vídeo abaixo vale mais que qualquer descrição:


Aliás, estamos de volta na casa, deu nem tempo sentir falta, mas aqui estamos.
PS: Gostaria de agradecer ao meu irmão por segurar a barra enquanto estava fora. Bom trabalho ;)

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