Dia 312
We Are What We Are - 2013
Dir: Jim Mickle
Elenco: Bill Sage, Ambyr Childers, Julia Garner
“Guts”, em inglês, é um termo que quer dizer tanto “tripas”
quanto “coragem”. E, se algo pode ser dito sobre Somos o Que Somos, é que esse
filme tem tripas no mais amplo e bilíngue sentido da palavra.
Tudo começa com a morte da mãe: uma mulher do alto de
seus cinquenta, talvez até menos, anos que sofre com tremores e dificuldades de
locomoção que acabam por encerrar sua vida de uma forma violenta. Então
conhecemos sua família, extremamente religiosa, cheia de rituais, entre os
quais está o jejum que dura vários dias, cheia de dogmas. Com sua morte restam
apenas o marido, duas filhas e um filho mais novo. Algo que chama atenção sobre
o marido e, inevitavelmente, acaba levantando questões é o fato de que ele
sofre dos mesmos tremores da mulher, algo incomum que logo levanta a hipótese,
embasada pela grande religiosidade da família, de incesto.
We Are What We Are é denso, visualmente
impecável e que traz uma história surpreendente e atemporal. Uma crônica
familiar, intensa e corajosa, sobre um grupo de pessoas com um segredo sombrio
e doentio que não pode, em hipótese alguma, vir à tona. Um segredo que começa a
ruir no exato momento em que um policial recém formado e um médico forense
encontram pistas de que há algo de errado em algum ponto daquela cidade, onde
nos últimos 20 anos 3 pessoas desapareceram sem deixar rastros e mais de 30,
nos arredores do local, tiveram o mesmo destino.
Quando a verdade vem à tona, algo bem mais sombrio que
incesto entre caipiras é revelado. Um segredo que acompanha aquela família há
muitas gerações...
E eu não vou dizer qual é.
SoQS é o tipo de filme para ser visto sem se saber nada a
respeito, sem se ler absolutamente nada revelador sobre a produção. É muito
comum ver por aí gente revelando o grande mistério da obra em poucas linhas,
algo trágico em minha opinião, visto que é feito de tudo para segurar o
segredo enquanto pode, para causar um impacto em sua revelação, por mais que
essa ocorra de forma gradual e comedida.
Temos aqui o esforço de um pai tentando proteger sua
família e sua forma de viver sob os olhos de Deus, custe o que custar. Temos
aqui duas filhas amedrontadas com a ideia, mas que só se veem em uma situação
realmente terrível após a morte da mãe. Temos também um filho pequeno alheio a
tudo e um grupo de pessoas que se aproxima cada vez mais da verdade nua e
crua... Personagens fantásticas em um embate lento e silencioso que só pode
terminar de uma maneira. E a maneira como termina é brilhante, é explosiva, é
retumbante! Ainda mais pela forma como esse segredo é mostrado, sem nunca cair
no clichê, sem se deixar levar por facilidades...
We Are What We Are é violento, cru e intenso sem se tornar,
jamais, mais explícito ou violento que o necessário. Todos os momentos em que
se aproxima de cruzar a linha do bom gosto, o diretor Jim Mickle (do ótimo
Stake Land) segura a rédea e conduz o longa de forma certeira.
No fim das contas, na cena final, você se vê com o olhar
fixo na tela, observando cada movimento, atento a cada detalhe e, quando as
letras brancas na tela preta começam a subir, você percebe que precisa voltar a
respirar.
Somos o Que Somos é o remake americano de um filme
mexicano e que possui uma coragem oriental.
Não é necessário ter estômago forte para vê-lo, o estômago fica por conta da própria obra. Mas é preciso de unhas e pulmões...
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!