sexta-feira, novembro 08, 2013

Somos o Que Somos

Dia 312

We Are What We Are - 2013
Dir: Jim Mickle
Elenco: Bill Sage, Ambyr Childers, Julia Garner 

“Guts”, em inglês, é um termo que quer dizer tanto “tripas” quanto “coragem”. E, se algo pode ser dito sobre Somos o Que Somos, é que esse filme tem tripas no mais amplo e bilíngue sentido da palavra.
Tudo começa com a morte da mãe: uma mulher do alto de seus cinquenta, talvez até menos, anos que sofre com tremores e dificuldades de locomoção que acabam por encerrar sua vida de uma forma violenta. Então conhecemos sua família, extremamente religiosa, cheia de rituais, entre os quais está o jejum que dura vários dias, cheia de dogmas. Com sua morte restam apenas o marido, duas filhas e um filho mais novo. Algo que chama atenção sobre o marido e, inevitavelmente, acaba levantando questões é o fato de que ele sofre dos mesmos tremores da mulher, algo incomum que logo levanta a hipótese, embasada pela grande religiosidade da família, de incesto.
We Are What We Are é denso, visualmente impecável e que traz uma história surpreendente e atemporal. Uma crônica familiar, intensa e corajosa, sobre um grupo de pessoas com um segredo sombrio e doentio que não pode, em hipótese alguma, vir à tona. Um segredo que começa a ruir no exato momento em que um policial recém formado e um médico forense encontram pistas de que há algo de errado em algum ponto daquela cidade, onde nos últimos 20 anos 3 pessoas desapareceram sem deixar rastros e mais de 30, nos arredores do local, tiveram o mesmo destino.
Quando a verdade vem à tona, algo bem mais sombrio que incesto entre caipiras é revelado. Um segredo que acompanha aquela família há muitas gerações...
E eu não vou dizer qual é.
SoQS é o tipo de filme para ser visto sem se saber nada a respeito, sem se ler absolutamente nada revelador sobre a produção. É muito comum ver por aí gente revelando o grande mistério da obra em poucas linhas, algo trágico em minha opinião, visto que é feito de tudo para segurar o segredo enquanto pode, para causar um impacto em sua revelação, por mais que essa ocorra de forma gradual e comedida.
Temos aqui o esforço de um pai tentando proteger sua família e sua forma de viver sob os olhos de Deus, custe o que custar. Temos aqui duas filhas amedrontadas com a ideia, mas que só se veem em uma situação realmente terrível após a morte da mãe. Temos também um filho pequeno alheio a tudo e um grupo de pessoas que se aproxima cada vez mais da verdade nua e crua... Personagens fantásticas em um embate lento e silencioso que só pode terminar de uma maneira. E a maneira como termina é brilhante, é explosiva, é retumbante! Ainda mais pela forma como esse segredo é mostrado, sem nunca cair no clichê, sem se deixar levar por facilidades...
We Are What We Are é violento, cru e intenso sem se tornar, jamais, mais explícito ou violento que o necessário. Todos os momentos em que se aproxima de cruzar a linha do bom gosto, o diretor Jim Mickle (do ótimo Stake Land) segura a rédea e conduz o longa de forma certeira.
No fim das contas, na cena final, você se vê com o olhar fixo na tela, observando cada movimento, atento a cada detalhe e, quando as letras brancas na tela preta começam a subir, você percebe que precisa voltar a respirar.

Somos o Que Somos é o remake americano de um filme mexicano e que possui uma coragem oriental.
Não é necessário ter estômago forte para vê-lo, o estômago fica por conta da própria obra. Mas é preciso de unhas e pulmões...

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