domingo, novembro 03, 2013

Motherland - Natalie Merchant, ou: Uma rua, um amor, uma música.

Dia 307.

 Era 2003 quando meu coração foi machucado pela primeira vez. Eu trabalhava e estudava, e quando o relógio batia dezessete horas, eu levantava de minha cadeira e seguia caminhando desde o centro de Fortaleza até o Centro de Humanidades da UECE, no Bairro de Fátima. Era um percurso de três quilômetros em linha reta, mas eu tinha um ritual que me fazia encompridar este trajeto em pelo menos mais um quilômetro: eu me afastava para o leste e apanhava a rua Conselheiro Tristão, que era pouco movimentada de gente e de carros - e extremamente rica em árvores e flores e casas antigas. Aquilo me fazia muito feliz.


Nesse meu caminhar diário, eu escutava música e pensava na vida enquanto sofria por amor. Era o clássico caso de conhecer, pela primeira vez na vida, uma mulher de verdade - não uma menina com problemas de carência ou rebeldia contra os pais. Ela era linda, madura e sublime, e eu me peguei completamente encantado por ela.

Nesta época em que eu amava com tanto ardor e verdade, as músicas que embalavam meu caminho eram muitas. Eu e meu discman azul da Philips, uns dez cds e a Natalie Merchant cantando com sua voz marcante em meu ouvido.

Meu cinismo ainda estava dormente. Eu acreditava que era possível duas pessoas de diferentes mundos encantarem-se uma com a outra. Eu cria plenamente no poder criador do amor e da poesia, acreditando que a música a tudo curava.

O tempo e suas gargalhadas e seus chutes ensinar-me-ia que não era bem assim que as coisas funcionavam.

Natalie Merchant caminhou comigo por todo o percurso de minha paixão: do feitiço inicial ao contemplar da possibilidade; do choque de realidade até a conclusão de algo que nunca começou. Natalie me embalou, me consolou e me deixou sozinho quando eu precisei.

Confesso que fazia muito tempo que não voltava a ela, e que eu não refazia o percurso da Conselheiro Tristão em minha lembrança; mas fico feliz em saber que o que havia de ferida hoje é apenas uma cicatriz. Todos os cheiros e texturas e temperaturas devidamente colocados em seus lugares no museu da memória, à prova de terremotos, maremotos, furacões e outros acidentes vasculares amorosos.

"Motherland" é o terceiro disco de Natalie. Lançado em 2001, traz uma pegada mais intimista e clássica, que privilegia sua voz vibrante e luminosa. Um álbum perfeito para ser ouvido durante aquelas longas caminhadas de fim de adolescência, quando se está aprendendo a viver, a amar e a cair na real.



"Ninguém ama ninguém", diz Chris Isaak em sua clássica "Wicked Game". Mas o amor pode ser tantas coisas... Uma rua, uma música, um caminho, um desvio, um poema, uma promessa. 

Ou uma lembrança agridoce, escrita à época:

A Luz

Luz que surge, imensa e intensa
De um sorriso com a voz de mil sóis
Música que emana dos teus lábios
Sonhos que queimam de tua alma

Doce, doce mulher, menina
Suave brisa, aroma de pétalas e especiarias
O que faz tão bela, o que te faz tão
Linda
Que encanta e magnetiza os olhares e as atenções?


Trago-te tatuada na memória, eis a resposta:
Não te esqueço, então! Pensar e pensar,
Sorrir neste momento, e ouvir tua voz,
Saber teu jeito, e sorrir

E assim
Dizer teu nome baixinho
Um sussurro
Para que só você escute
Uma prece, um delírio, um acesso de paixão
Medo de que não me aceites,
Que não acredites
Medo mesmo de me revelar, de te procurar
Medo de Ter entendido mal
Medo das conseqüências
Medo de que dê tudo certo

Tudo isso mora no momento de pensar em ti
As coisas simples tornam-se ainda mais bonitas
É quase perfeita essa conjunção de eu e você

Como gostaria de Ter você para mim
Sentir tua pele, teu aroma, teus lábios
Doce ilusão, como sonhar é doce!
Como é amargo acordar...

Mas deixemos de divagação e partamos para a ação!
Poesia... render-se a teus encantos
Dizer teu nome e num sortilégio trazer-te a meu mundo
Paixão: nos faz vítimas felizes
Um sorriso tolo e um olhar fascinado
Você me tem, e eu não tenho você
Doce escravidão platônica...



Boa semana, meus queridos caminhantes. Escutem o Conselheiro. Escutem Natalie.

Longos dias e belas noites.


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