quinta-feira, outubro 03, 2013

Um Dia de Fúria (Falling Down) 1993 – Até quando suportamos todo o ódio reprimido? Uma crítica voraz a nossa sociedade consumista!

P.25 Dia 276

Imagine um dia terrível, começa ruim desde o momento que você acorda! É um daqueles dias que faz você relembrar os mais péssimos acontecimentos de sua vida para te deixar mais furioso.
Tudo vem à tona em sua mente, vozes, lembranças, laços quebrados, daí você nota que a culpa não é sua. Então de quem é a culpa? Da sociedade, talvez, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe? Talvez também! Por mais que lá fora esteja superensolarado, para uma linda manhã, tudo ocorre contra você, o levando a um ponto de ruptura, e todo o ódio que contemos dentro da gente para não machucar ninguém acaba saindo. Então você se lembra: foda-se tudo e todos, ninguém me segura.
Olá querido leitor, depois de muito tempo sem dar as faces por aqui! I’m back! Agora com força total, problemas técnicos e afins! Creio que vocês devem está se perguntando o que significa aquela introdução tão raivosa? Significa que o filme em questão os deixará no mínimo revoltados, não com o movie e sim com o sistema, com o estado, com toda essa esfera política e urbana que nos envolve. Um Dia de Fúria (Falling Down) é um filme de produções americana e francesa do ano de 1993, é um suspense e drama. Dirigido por Joel Schumacher e estrelado por Michael Douglas, Robert Duvall e Barbara Hershey.
William Foster é um homem comum, trabalhador, pai de família, todo santo dia sai de manhãzinha para trabalhar. Mas neste dia ele sentiu algo de diferente, já começa terrivelmente mal, afinal ele sente que está furioso, mas aquela fúria é diferente, sobretudo bastante perigosa para todos. As primeiras cenas do filme se concentram em mostrar o nosso protagonista, William sentado pacientemente em seu carro, transpirando generosamente, suor de ódio e impaciência, esperando um longo engarrafamento se dissipar para seguir com sua vidinha miserável a seu ver. As feições dele são de dá pena, os dentes serrados mostrados nos primeiros segundos de filme já nos expõe o que devemos esperar, a ruptura total de um ser humano diante dos outros.
William em seu carro, mãos ao volante, suado, um calor terrível lá fora e um mosquitinho o incomodando; de roupa social, seu charme não condiz com seu real estado de espírito. Ele assiste obrigatoriamente as outras pessoas nos seus carros e o comportamento de cada uma, algumas normais, outras esquisitas, e mais algumas beirando a bizarrice. Além disso, há o som das buzinas e rádios, as reclamações que não levam a nada, e ainda tem o carro a sua frente com uma garotinha o observando. Se a narrativa nos deixa perturbados, imagine ele; então William toma uma decisão, simplesmente abandona o carro no túnel diante das reclamações dos outros motoristas e sai andando no sol, na poeira e tudo que é desgraça ocorre.


William Foster não está com raiva por causa do engarrafamento, ele está perturbado emocionalmente, perdeu o emprego, acabou de se divorciar e mora com a mãe porque sua situação financeira não permite lhe comprar uma casa nova. Para piorar ele não admite que seu casamento acabou e sua ex-mulher o proibiu de ver a filha. Tentando relaxar ele se dirige a uma lojinha para comprar uma soda, o dono da loja é um oriental mal educado que vende suas mercadorias a preços absurdos e a soda é uma das coisas caras que deixam William revoltados. Não suportando a exploração financeira e a tamanha grosseria do dono, ele toma para si um taco de baseball e detona a loja e surra o oriental. Eu achei a cena de uma genialidade impagável, merecida surra! A partir daí ele ver que não tem nada a perder e exala a fúria em todos que passam por seu caminho, começamos a acompanhar um cara massacrado que inverteu os papéis.
O simples proletário demente enfrenta uma gangue que tenta matá-lo mas não consegue, acabam mortos, William rouba a sacola de armas e inicia sua saga de uma um dia de fúria. Com acontecimentos tão incomuns, o policial Martin persegue William que está aterrorizando as ruas, em um dia nada bom para ele também, pois sendo sua aposentadoria próxima, é o último dia de trabalho como policial. Ele não fere inocentes, criancinhas, apenas quer castigar as pessoas que considera culpadas por ter chegado a tal ponto. Uma das minhas cenas preferidas é quando ele pára em uma lanchonete, uma clara referência ao McDonald’s, e crítica todo o sistema da franquia, sabe o hambúrguer que agente vê na foto, grande e bonito, dá uma fome e você pede, quando eles trazem você vê a realidade, totalmente diferente da foto, uma propaganda enganosa. É dessa forma que ele satiriza o capitalismo fast-food.
Um Dia de Fúria é um filme que possui beleza na maioria de suas proporções, a direção de Joel Shumacher é célebre, claro que sua filmografia possui pérolas e fracassos merecidos, mas aqui soube dirigir magistralmente, e compôs um clássico. A fotografia é bem inteligente, toda a película é trabalhada nos tons vermelho e laranja, a raiva, a fúria e o sangue pulsante são inspirações claras. O roteiro todo é composto por diálogos bem ferozes, frases de efeito que grudam na sua cabeça e diversas formas de crítica a uma sociedade consumista. Nosso protagonista Michael Douglas faz jus a sua fama de ator completo, o cara se garante, a forma como ele coloca a raiva em suas caras e bocas é simplesmente magnífico. É uma daquelas atuações que você imita em frente ao espelho, você fica preparado para um dia de colapso.


O ritmo acelerado da vida urbana, a selva de pedra, a falta de uma certa natureza no ambiente transformam o homem, o simples cidadão comum, em uma peça operante que faz a engrenagem política e econômica girar. A chegada da modernidade, com sua manufatura, sua revolução industrial transformou a vida social em uma simples escalada para um nível social melhor, afinal nosso protagonista encara muito bem isso, quando tudo e todos o olham como um cifrão. Um Dia de Fúria é uma crítica bastante sagaz e inteligente ao ritmo frenético da urbanidade, como uma pessoa que nunca enfrentou ou buscou violência, encontra nesta a saída para toda a sua frustração. Assim ocorre com William, podemos notar que quando se tem uma arma na mão nos sentimos deuses, conseguimos o que queremos, temos a vida do outro aqui, é como dá um slow motion na velocidade diária. A revolta dele é clara, como aquele que não tem nada a perder ele não mais se importa em matar, roubar e ameaçar a vida de outrem.
Creio que um filme de 1993 nunca pareceu tão atual a meu ver ao que condiz a modernidade desenfreada e sem nexo algum. Nexo até tem, quem nunca enfrentou um dia de fúria, claro que não vamos sair matando por aí, mas há sempre aquele dia em que as pequenas coisas deveriam está no lugar correto como num ritual, mas simplesmente desandam. Considero William um anti-herói, ele não é aquele que salva vidas, faz bondades, mas é aquele cara que mata um lojista nazista porque odeia a ideia de preconceito de todas as formas concebíveis. É aquele cara que não se encaixa na mais alta esfera econômica por que é um desempregado.

Na forma que a humanidade está caminhando muitos William’s já surgiram e sumiram por aí. Muitos entram em escolas e matam colegas, outros assaltam bancos, outros são marginalizados pela sociedade, outros simplesmente estão no poder com o colarinho branco. De toda forma, Falling Down é uma crítica pungente e poderosa, digna de uma análise minuciosa; afinal um homem com a vida pessoal e profissional sem rumos tem todo o direito de ter um colapso emocional. A aceleração de nosso ritmo nos tornam estressados, apenas assistam e repitam a cena do engarrafamento, quando você estiver num desses, observe tudo e pense: estamos enlouquecendo e nos degenerando, principalmente porquê não sou economicamente viável!


Bjooosss! Até a próxima!


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