Dia 302
Há dias nos quais tudo o que se quer é esmurrar alguém.
Digo isso como o pacifista que sou desde a sétima série, desde os 13 anos de
idade. Um pacifista que, vez ou outra, experimenta doses cavalares de
adrenalina seguidas por um desejo quase insaciável de bater com a cara de
alguém em um tampo de mesa. Há certos dias na vida de cada homem e mulher que
habita este planeta...
Cada homem e mulher que abre os olhos quando o sol espalha
sua luz irritantemente viva, cada ser que respira esse ar e caminha sobre este
solo, cada animal, cada molécula, cada átomo que compõe esta realidade... Cada
um de nós tem um dia em que já se acorda sabendo: esse dia vai acabar mal.
Esse é o tipo de dia para o qual deveria haver um alerta
sonoro de baixa frequência que afastasse as pessoas de você, todas elas,
indiferente de quem seja. Ou algum tipo de led que oscilasse de acordo com seu
humor. Mas não existe, você tem de conviver com isso e a sociedade vai fazer de
tudo para que o mundo perceba que você está tendo um dia ruim e vai enviar
pessoas específicas até você com um único e claro objetivo: te irritar. Te
fazer perder o controle.
Deveria haver uma lei que nos impedisse de sair de casa,
ou uma solução miraculosa que pusesse fim a essa desgraça. Mas não há. Para
dias assim não há cura. Há apenas música. O correto a se fazer nessas ocasiões é
pegar um disco do Coldplay, algo alegre ou triste que te faça acalmar os
ânimos, esfriar as turbinas, baixar a bola. Mas não é isso o que acontece, você
sabe muito bem disso. O que é que você faz quando está se sentindo mal, quando
está deprimido, quando está magoado, na fossa? Maximiza o sentimento com a
música mais desgraçadamente deprimente que estiver ao alcance!
O mesmo acontece com a raiva.
Para dias assim só há uma opção.
Lightning Bolt,
o trabalho de estúdio mais recente do Pearl
Jam, é uma ode aos dias de fúria. Cada faixa representa perfeitamente um
momento daquelas 24 horas terríveis nas quais tudo o que se se quer é que as
pessoas parem de te encher. Pois já dizia o Led Zeppellin: “se continuar
chovendo, a represa vai arrebentar”. E quando ela arrebenta, garoto, sai da
frente.
Há momentos de fúria, de decepção, de dúvida, há momentos
em que você se pergunta “isso é realmente necessário?” e há momentos em que o
universo te responde “não, mas Deus está se divertindo muito às tuas custas,
então aguenta!”.
Bolt tem momentos de pura fúria homicida que oscilam com
um sentimento fantasticamente abrangente de dúvida e outros de plenitude. Há
música violenta, há música melancólica e há canções inspiradíssimas que falam
sobre dias como hoje, que vão se encaixar, que vão te fazer se identificar de
alguma maneira.
São doze músicas que vagam entre todos os estágios da
fúria - da raiva ao arrependimento – com uma beleza e uma musicalidade únicas.
O tipo de música que exorciza, que maximiza o que há de mais poderosos, seja a
alegria, a tristeza, a dor ou a pura raiva, afim de fazer transbordar e, no
fim, te fazer ver todas as marcas que você vai deixando pelo caminho.
Lightning Bolt começa violento e termina brando,
contemplativo. É como um dia de fúria, um dia que te faz se questionar e se reconstruir
do que sobrou ao se chegar ao fim.
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