segunda-feira, outubro 21, 2013

Lovelace - A pornografia quase chegou lá nos anos 1970

Dia 294

Filme: Lovelace (2013) (MDb 6,6
Direção: Rob Epstein, Jeffrey Friedman
Roteiro: Andy Bellin
Elenco: Amanda Seyfried, James Franco, Peter Sarsgaard |e mais

A história de um ícone dos "loucos anos 1970", Linda Lovelace, nascida Linda Susan Boreman, protagonista do filme que não apenas se tornou cult, mas também alterou a cena cultural dos Estados Unidos e chegou a influenciar a politica na década; Deep Throat/Garganta profunda.

Fazer uma cinebiografia, por si só, imagino, ser algo complexo. Fazer uma sobre a controversa pessoa de Linda Lovelace, eleva essa complexidade. O pano de fundo, o cenário da America protestante e conservadora é algo que eleva o grau de de complexidade. É uma tentativa, mas nunca saberemos a verdade por trás da verdadeira personalidade de Linda.

Ao longo de sua existência, ela mudou sua vida e sua história muitas vezes (incluindo suas quatro biografias escrita por ela mesma), a narrativa só foca uma; chamada sugestivamente de PROVAÇÃO. Qual é a verdadeira Linda? A Atriz, a cristã ou a linda feminista e ativista na luta contra a industria que a criou, ou ainda a Linda envelhecida e sem dinheiro.  Não se pode fugir disso, parte do filme é um convite um tanto tendencioso que lhe conduz, ou melhor, lhe induz a acreditar em uma das diversas personas de linda. O problema desse filme é que ele se centra na parte mais bizarra que a verdadeira Linda deseja que seja lembrada como a própria verdade de Deus. Outro problema é Amanda Seyfried, é algo muito bonito e angelical para ser Linda com algum tipo de credibilidade. Eu teria chutado o pau da barraca escalando para o papel a "endemoniada"  Lindsay Lohan se, fosse o caso, de mandar Linda direto pro inferno, mas não é esse o objetivo da produção.

Então o que temos é uma história contada em dois contextos diferentes, começa com uma certa "glamourização" de como Linda alcança o status de atriz maior da pornografia da época, com seu marido Chuck Traynor (Peter Sarsgaard) não sendo pintado como o abusador e violento cara que o colocou nesse mundo por dinheiro. Tudo leva a crer que o ambiente controlador da família de linda, em especial a mãe (Sharon Stone) e sua consequente saída de casa tenha sido seu principal passo para a industria do pecado. Ainda aqui, temos o contexto cultural e politico americano da época com aparição de personagem daquela época como o Presidente Nixon, Sammy Davis Jr, e Hugh Hefner o criador da marca Playboy vivido por James Franco. Temos cenas do set de filmagem dos 17 dias que envolveram a produção, a curiosidade da imprensa, as discussões gerada pelo filme e o frisson de pessoas indo ao cinemas, e até o momento celebridade de Linda no tapete vermelho de Hollywood, algo impensável para os dias de hoje. O outro contexto começa com uma linda, sofrida com marcas da violência e dos abusos do marido, confrontada com um poligrafo, exigência de seu editor para a publicação de uma de suas autobiografia, o livro Provação.

Linda e o marido, o "culpado".

Dai em diante tudo muda. A mesmas cenas da primeira metade do filme, em outro contexto, com uma Linda sendo vitima de tudo e de todos e disposta ao final, em encerrar com a personagem de Deep Throat e junto com ela a industria pornô em definitivo. Um interminável conto de auto-vitimização com os pedaços pornográficos sendo filmado com uma arma literalmente apontada para sua cabeça com ela se tornando a mais famosa atriz porno de todos os tempos só por medo de ser assassinada pele marido e por não poder voltar para casa da família quando precisou disso. Isso é precisamente contrario aos relatos de todos com que ela trabalhou, que consideraram Linda - que tinha até mesmo protagonizado cena com um cão diante das câmeras (felizmente não mostrado no filme) - uma mentirosa. Em sua vida privada também, cada vez que um de seus casamentos aparentemente felizes terminavam, ele se jogava de vitima novamente, alegando abuso de praticamente todo homem com quem esteve envolvida, incluindo Larry Marchiano, que aparece em seu "final feliz" no fim do filme. Lovelace era uma personagem muito triste querendo mais que qualquer coisa aprovação, simpatia e atenção, e aparentemente fez o que qualquer "boa menina" faria no mundo em que vivia. Como disse sua companheira em filmes adultos, Gloria Leonard: "Esta foi uma mulher que nunca assumiu a responsabilidade por sua própria escolhas, mas responsabilizou tudo que lhe aconteceu à pornografia".

Ao engolir cada alegação bizarra de uma fonte não confiável  ela mesmo, fazendo de sua história exclusivamente de uma vitima, estamos infantilizando uma mulher adulta, tratando-a mesmo depois de morta, como uma criança assexuada (por isso não podemos ter Linsay Lohan aqui), que nunca cresceu. Isso até soa como um insulto para ser apresentado como desculpas de auto-piedade de um mentiroso patológico descrito como realidade objetiva.

De resto, talvez, sobre a diversão e alguns diálogos dignos de nota se você se interessar em compreender um pouco do cenário cultural e politico dos chamados "loucos anos 70". A proposito, por que os "anos loucos" nunca são os nossos. De que forma aqueles eram anos mais loucos que os nossos? Será que só conseguimos ver a loucura de cada época quando os observamos de uma forma mais distanciada no tempo? Mas, sobre os diálogos, transcrevo em seguida alguns bem elucidativo daquela época que ainda servirá para nos definir como cultura quando chamarmos esses de os "loucos anos 2000".

Linda Lovelace em foto da época
Uma entrevista de TV durante o sucesso:

- Então, o que você fazia antes de ser a primeira estrela de filmes pornográficos? Como você se sente como garota propaganda da revolução sexual? (sem resposta).

Ainda na TV:
- O filme Deep Throat tornou-se um dos mais populares e rentáveis filmes pornos de todos os tempos.

- Hoje, um juiz do tribunal do crime de Manhattan qualificou o filme como obsceno e ordenou sua retirada dos cinemas em Nova York.

E o mais interessantes de todos:

- Esse é o tipo país estranho não é? Os juízes podem ver Garganta profunda, mas não podem ouvir as fitas. - Sobre a indecorosa politica de Nixon.

Lovelace não é um filme honesto, e não é porque não pode ser. No tempo em que Deep Throat foi feito não eram tempos de honestidade, assim como não são os de hoje. Pessoas cometem erros em todos os tempos e nem sempre se pode falar deles com honestidade. O que pode redimir nosso erros do passado é assumi-los com todas as sua consequências sem culpar os outros ou mundo, ou um contexto. Aqui não  se sabe quais interesses, além do de fazer dinheiro, estão envolvidos, por isso a cinebiografia da mulher Linda Susan Boreman, já nasce estigmatizada pelos 17 dias em que ela, e apenas ela escolheu os para viver. O resto é cinema.



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