quarta-feira, outubro 09, 2013

Fonte Da Vida - Darren Aronofsky, ou: Dissolva-se no infinito.

Dia 282.

"E o Senhor Deus disse: "Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e tome também do fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente." Gênesis 3:22



Eu me guardei por muito tempo para poder fazer a análise deste filme, pois ele é, para mim, fonte de muitos significados. Assisti-lo é revolver as brasas de meu coração e reacender fogueiras-feridas que eu julgava há muito tempo estarem extintas.


"Fonte Da Vida" (The Fountain, 2006), é um filme dirigido pelo ultra-talentoso Darren Aronofsky. O filme narra três histórias: no passado, a jornada do Conquistador Tomás Creo em busca da fonte da Vida, em missão para a Rainha Isabel de Espanha; no presente, o doutor Thomas Creo busca desesperadamente a cura para o câncer terminal de sua esposa, Izzy Creo; no futuro, um viajante sideral em uma nave-bolha busca chegar até Xibalba, uma estrela em colapso, na tentativa de compreender o sentido da vida, da morte e da existência.

No decorrer do filme, a história dos três personagens (vividos por Hugh Jackman, na melhor atuação de sua carreira) se mistura. Izzy (Rachael Weiss), tenta finalizar seu livro, que conta a história do Conquistador na América recém-descoberta. Pouco antes de morrer, deixa nas mãos de Thomas a missão de terminar seu livro - e a frase "Termine-o" atravessa a história inteira.






 A sensação de desespero e falta de centro passada por Jackman é palpável e real. Em uma das cenas, Thomas sai na rua extremamente preocupado com suas pesquisas e a doença da esposa. Sua concentração nestas questões passa para nós através da total ausência de som (genial!), e apenas ao tomar um susto o áudio da rua retorna com toda a intensidade e impacto. Há também uma incessante sensação de atraso. Sabe-se (sente-se/pressente-se) que jamais conseguiremos alcançar aquilo que buscamos: a solução para a maior doença de todas: a Morte, o grande desconhecido.

A película é filmada em tons de amarelo e sépia, com toques de ouro. Há muita sombra nos momentos do passado e do presente, e muita luz no segmento que se passa no futuro. O som é magistralmente gravado, e a trilha sonora... Putz! (Não vou entrar em detalhes sobre a trilha: segue o link para minha análise feita no distante fevereiro - http://www.01pordia.com/2013/02/a-fonte-da-vida-clint-mansell.html).

Tento não largar spoilers aqui, e ser o mais técnico possível, mas é quase difícil demais não largar em cima de vocês a carga emocional que este filme me traz. Da primeira vez que o assisti, após o final, eu chorei por mais de quinze minutos. Algo em mim se quebrara, partido em milhões de pedaços. Algo em mim envelhecera irreversivelmente. Algo se perdera. 

Não é um filme fácil. É um daqueles que remexe muito profundamente no lodaçal das memórias - das que lembramos e das que não vêm à tona com facilidade. "A Fonte Da Vida" tenta responder às perguntas fundamentais da vida (Por que existimos? O que é a vida? O que há após a morte?) sem arrogância e sem didatismo. Ele exige fidelidade, atenção e respeito. Enquanto teu ego/verniz é Tomás/Thomas Creo, todo o resto, toda a profundeza e escuridão que há em nós, tudo isso é a selva do Novo Mundo.

A Morte é um câncer, mas ela é necessária. Viver para sempre traz mais ansiedade que consolo, mais dúvidas que respostas. Ninguém deveria ser condenado a vagar pela eternidade imerso em solidão, sofrimento e arrependimentos.

Não precisamos das respostas. Precisamos apenas viver - mas viver até o fim.

A Morte se revela a nós como uma estrada, uma ponte, algo sobre o que pisar:

A Morte é o caminho para o Sublime.





Evitarei rever este filme por um bom tempo, pois a cada vez que o vejo criam-se em mim novas tempestades. E ultimamente tenho tido muito medo das respostas.

A dúvida me encanta; a busca me sacia. Somos todos Conquistadores, separados de nossa amada Rainha pela Morte.



A derradeira resposta explodirá sobre você em luz e trevas.

Não tenha medo. Abrace a destruição e o caos, nade, afogue-se.

Dissolva-se no infinito.

No fim, tudo é apenas um recomeço. A cobra morde seu rabo, estrelas explodem e liberam suas partículas para que novos mundos surjam.

No fim, após a escuridão, somente silêncio e luz.




*     *     *


"Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.
Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?
Uma geração passa, outra vem; mas a terra sempre subsiste.
O sol se levanta, o sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo.
O vento vai em direção ao sul, vai em direção ao norte, volteia e gira nos mesmos circuitos.
Todos os rios se dirigem para o mar, e o mar não transborda. Em direção ao mar, para onde correm os rios, eles continuam a correr.
Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer. A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir.
O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol."


Eclesiastes.



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