quarta-feira, outubro 09, 2013

Exciter - Depeche Mode, ou: A canção dos corpos solitários, melodia da noite, o som do calor.

Dia 282. 

Dizem que a noite é uma criança, e eu não concordo com isso. A noite é uma mulher madura, sensual e faminta, ardendo em desejo de sexo, sangue, violência e morte.



Ouvir "Exciter" (2001) é ouvir o canto da sereia da brisa noturna e sair para a rua. Cheiro de fumaça, de gasolina, de perfume barato e de bebidas alcoólicas. Suor de pessoas desconhecidas, contatos imediatos e desnecessários, olhares que se cruzam e se desviam à velocidade do pensamento e do arrependimento...

O décimo disco de estúdio da banda inglesa traz uma sonoridade que mescla o eletrônico ao orgânico. É um som úmido e cansado, que se espalha pelo seu corpo como um líquido insidioso que não quer sair. É música que deixa profundas marcas - queimaduras, cicatrizes, segredos, palavras ditas em momentos de ódio ou de prazer.

"Exciter" é uma ode ao amor descompromissado, paixão entre desconhecidos, tesão entre estranhos. Mãos e toques e beijos e suspiros e arrepios, gargalhadas entre copos de cerveja e vodca, a ameaça do dia que teima em se aproximar, noites maldormidas, mentiras, desejos.


O medo de amar e não ser amado, a supremacia da maquiagem sobre a pele, a dor de perder algo que não te pertence.

Noite quente, impessoal, cruel e sádica.

Noite.

O grupo soa como luzes coloridas e distantes. Ouvi-los é como escutar música sob a água: algo meio abafado, porém claro em sua mensagem: não há anjos, apenas caídos. Somos todos filhos órfãos, deixados de lado por alguém que faz questão de se esquecer de nós.

- Temos um ao outro - digo à moça morena com cheiro de jasmim e amêndoas.
- Ninguém possui ninguém - responde ela, e concordamos.

Dizem que o corpo fala, e eu discordo. O corpo canta. E a música que sai pelos poros e orifícios do corpo é melhor executada à noite, pelos bares e esquinas e praças e encruzilhadas abandonadas.


"Exciter" canta essa música. A canção dos corpos solitários, melodia da noite, o som do calor.


E no fim, quando o dia nasce, voltamos a usar máscaras de cetim, e a fingir que somos normais.

Até amanhã à noite, crianças. Boa noite.


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