sexta-feira, setembro 20, 2013

Too Much Flesh / Sensual Demais

Dia 263

Filme: Too Much Flesh / Sensual Demais (2000) IMDb 5,2
Diretor: Pascal Arnold , Jean-Marc Top
Roteiro: Pascal Arnold , Jean-Marc Top
Atores: Rosanna Arquette, Élodie Bouchez, Jean-Marc Barr e mais
Duração: 110 min
Pais: França

Aceito que algo possa ser igualmente bom e ruim. Aceito que o tosco, o estranho, o mal acabado também possa nos encantar.. Se algo pode nos chocar, também pode nos maravilhar, afinal, o choque também pode ser o deslumbramento.
O cinema é a arte de chocar e maravilhar ao mesmo tempo, porque lida com nossa capacidade de observar em todas as suas nuances e sutilezas. O cinema sabe que pode nos tocar de variadas formas e explora isso, explora nosso inconsciente e explora nossas áreas de existência que não estão de todo iluminadas. Explora a nossa sombra. Explorar as áreas iluminadas é relativamente fácil, e digo relativamente, porque mesmo aí há coisas que insistem em não receber essa iluminação. O tema de nosso filme de hoje é uma dessas áreas que julgamos compreender, mas que nunca sabemos lidar com ela com certeza. A sexualidade.




Lyle (Jean-Marc Beaar), morador de uma pequena e conservadora cidade rural do meio-oeste americano, um cara que apesar de casado há anos e já ter cruzado a linha dos trinta anos de idade ainda continua virgem. O filme pretende nos contar como isso aconteceu e, como a chegada na cidade de uma francesa, Juliette (Elodie Bouchez), promove a maior descoberta que Lyle podia fazer sobre si mesmo. Nos primeiros momentos da narrativa percebemos a insuportável tensão sexual a que Lyle vive submetido. Sua vida simples de cuidar do milharal proporciona momentos de absoluta solidão, e ai ele se entrega a única forma de aliviar sua constante tensão sexual. O vemos desfrutando de um desses momentos enquanto explora a velha plantação que já passou da hora da colheita, mas Lyle não parece ser um homem negligente. Direto ao ponto. Sua mulher Amy (Rossana Arquete), a única atriz conhecida no filme, recusa-se a  fazer sexo com marido alegando, uma aparente condição de que Lyle poderia machucá-la fisicamente. Todos na cidade ficaram sabendo da condição de Lyle, quando um dia na puberdade, ao tentar ter relações com uma colega de escola, esta assustada, e certamente movida pela mais absoluta inexperiência, entrou em pânico e acabou por revelar uma coisa que o estigmatizará para sempre. Algo que como diz sua mulher, "um pouco mais de carne la embaixo". Amy sua mulher, tem também seus problemas, menos físicos, mas mais emocionais. Aceitou um casamento arranjado que colocou ambos, ela e o marido na condição de donos de todas as terra que cercam a cidade, mas o fez também depois de perder em um acidente o amor de sua vida, algo que ela nunca superou. Aproveitou-se da inibição de Lyle para mantê-lo a distância. Lyle a ama e por isso, aceita sua condição.


Desde que Freud inaugurou a psicanalise, ele colocou a sexualidade e sua energias como principal fundamento de nossa saúde mental como um todo, e pensando sobre isso podemos ver desde cedo que se Lyle não resolver isso urgentemente ele se romperá. Felizmente a chegada de Juliette a cidade, trazida por um amigo de infância que veio de Paris, logo mudará não apenas a Lyle, mas também a cidade. Apesar de chegar na condição de noiva do seu melhor amigo, Juliette é uma mulher de espirito livre e difícil de ser contida em padrões. Uma noite Juliette, durante uma dança no bar da cidade, tudo entre amigos, percebe a sexualidade de selvagem e ao mesmo tempo ingênua de Lyle, e se sente atraída por ele. Sua dança sedutora e sensual pra cima de Lyle não funciona a principio, a muralha de inibição dele é intransponível. Não de todo. Encarregado de levar a noiva do amigo para casa, Juliette consegue leva-lo para o milharal, e assim Lyle faz a descoberta da sua vida.

Sua percepção sobre si mesmo muda assim que percebe que ele não machuca ninguém, que tinha vivido uma grande mentira imposta pelo povo da cidade e sua mulher. Pela manhã ele procura Amy e lhe diz que fez sexo com a francesa naquela noite e não a machucou, e que por isso também não a machucaria. Sua mulher o rejeita, o perdoa pela traição, mas como sempre, tenta manipula-lo fazendo-o sentir-se culpado pelo amigo e pela cidade.

Lyle faz outras tentativas, mas sem sucesso com sua mulher e finalmente resolve reivindicar para si o direito de ter Juliette como amante se ela assim quiser. Nem mesmo o noivo consegue conter ambos e logo eles desafiarão o povo da conservadora cidade em que vivem.

Sensual Demais, se mostra um filme tosco com uma câmera estranhamente fora do convencional e uma imagem também estranhamente granulada que aflige o espectador quando passeia em foco por pequenas partes de peles e pêlos dos personagens. A cenas de sexo são bem menos explícitos que nos filmes mais conservadores de Hollywood, a nudez essa sim explicita, mais nunca em ação, é calma e complacente quase beirando o poético em contraste com ambiente quase sempre selvagem do campo em que os amantes se encontram. Não há mensagens moralistas no filme o que ha nele é a crueldade de se impor a si mesmo, voluntariamente ou não, a negação de umas das principais forças da natureza presente em si mesmo. Seu final é imprevisível mais possível dentro de um quadro de intolerância. Nem mesmo a cumplicidade de Amy com seu marido, aceitando a presença de Juliette é capaz de salvar Lyle do conservadorismo insano dos seus vizinhos.



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