segunda-feira, setembro 23, 2013

Come Away With Me - Norah Jones, ou: A beleza de se olhar para aqueles dias.

Dia 266.

2002: Tempos de discman azul. Tempos de andar de ônibus, adorando a janela e os momentos de distração da paisagem. Eu nem me importava tanto com quem sentava do meu lado àquela época: éramos eu, os fones de ouvido e o meu Livro Negro, que traz histórias e poesias daquela época tão linda.


Cores, cores e velocidades: eu tinha apenas vinte anos quando eu conheci a Norah, e foi paixão à primeira vista/escutada. Ela enchia minhas estradas e idas e vindas de texturas que eu ainda não havia escutado. Muitas das decisões de minha vida foram tomadas escutando a voz doce e aveludada dela. Era o primeiro disco dela; era minha primeira vida.

Norah muitas vezes me chamou para caminhar com ela pelo centro de Fortaleza, pela Ponte dos Ingleses, pelo Maracanaú e seus caminhos. Ela dizia: "Come Away With Me", e eu ia, seguindo sua voz como os ratos seguiam o Flautista, ou como se seguiam os cheiros nos desenhos animados de antigamente.

Minhas paixões eram simples e complicadas. Eu amava uma moça que não me amava, lia livros que me arrebatavam, caminhava e caminhava ouvindo músicas e sonhando acordado com aquele beijo que me faria desejar nunca mais beijar mulher nenhuma que não a dona daqueles lábios vermelhos e carnudos.

Como eu era tolo. Como eu era feliz.

Escutar "Come Away With Me" me transporta para aqueles dias, aquela luz do sol, aqueles passeios. A hora do almoço na Praça do Ferreira, os sebos cheios de livros, as pessoas que iam e vinham de minha vida com tanta frequência e velocidade... e eu espantosamente me agarrava a desejos cheios de fogo e ventania, recém saído da adolescência, verde e despreparado.

Norah me acompanhou, então. Eu e ela éramos uma dupla estranha, pois ela estava e não estava ali com sua bela voz rouca. Mas Norah sempre me respeitou, nunca riu de mim. Pressentiu o homem que eu seria. Viu-me com olhos sinceros e desprovidos de julgamento. Eu era uno com ela, e juntos éramos a Música.


Hoje eu escuto novamente este disco e me encho de esperança. Parte do cansaço se foi: agora fica uma nostalgia meio agridoce que me acompanhará provavelmente até o fim de semana, pois eu não me tornei o homem que prometi à Norah. Sou mais amargo, mais cínico, muito mais cético, bastante ácido. No geral, um cara não muito agradável.

Mas sou eu. E no fim das contas, fico feliz por ser assim. Norah caminhou comigo naqueles dias, e eu a amei com muita verdade.

Bom te rever, Norah Jones. Agora é minha vez de te convidar:

Come away with me?


P.S.: Dedico esta postagem para o garoto magro e tímido que ficou onze anos no passado. Aquele cara que era muito bobo e cheio de certezas, que envelheceu, engordou e está ficando careca - mas ainda bobo e cheio de certezas. Garoto, ainda temos muitas coisas em comum, nós dois. Nos vemos por aí, Michel Euclides.

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