quarta-feira, setembro 18, 2013

Back To Black - Amy Winehouse, ou: Você bem sabe, eu não sou um cara legal.

Dia 261.

Eu enganei a mim mesmo/ Como eu sabia que faria.
Eu te falei que eu era um problema/ Você sabe que eu não presto.

Com um refrão desses, como uma música/disco/cantora podem dar errado?


Amy Winehouse era vinho raro. Bagulho do bom, diriam alguns, mas eu dispenso o trocadilho. O que ela fez foi mostrar que a música ainda tem coisas boas para surpreender. O que ela fez foi estimular bons cantores e cantoras e bandas a fugir dos estereótipos cansados da indústria fonográfica e sua incansável busca de pasteurização.

Amy era um incêndio de verdade numa floresta de árvores de vidro.

"Back To Black" (2006) é um disco cheio de culpa, arrependimentos e partidas - mas não é triste. É como uma boa saudade, daquelas que machuca mas te faz sentir vivo. É uma revolta que te afirma enquanto indivíduo. E que se fodam os outros! Eu sou quem eu sou, e não vou abrir mão disso por uma imagem falsa pra vender nada pra ninguém.

Amar é saber deixar partir, é perceber que ninguém é de ninguém, é citar clichês aleatoriamente por um texto que beija a boca da madrugada... a dor de Amy é intensa, e ela a utiliza em seu show. Ela nos embriaga enquanto se embriaga em todos os tipos de sofrimento. Ela nos leva junto, nos coloca na Rehabilitação de nós mesmos, nos conduz da luz para as trevas. De volta para as trevas.

Amy nos ensina que sofrer e perder e depois beber para esquecer não é necessariamente algo ruim. Sua música pede isso: para entrarmos em comunhão com ela precisamos abdicar daquilo que em nós é manhã de domingo e abraçar aquilo que em nós é madrugada. Ficar parados na chuva, encarar - sozinhos - o horizonte sobre o mar, perder contato com a família e os amigos... saborear a solidão com tudo de ruim que ela tiver de trazer, e todas as boas lembranças. Lamentar, e se regozijar com isso: sofrer por amor - pelos perdidos, pelos não correspondidos e por aqueles amores safados que nos prometem mundos e fundos e vão embora sem dizer adeus.

Amy buscava sua inspiração nas divas do soul e do jazz das décadas de 1950 e 1960. Sua música não pertencia a esta época superficial e supérflua que busca ser feliz e politicamente correta - ela era de uma época em que éramos complexos, sujos, orgânicos e multifacetados. Somente quem viveu essas multidimensionalidades será capaz de perceber a riqueza de "Back To Black".


Abra mão de seu personagem. Abrace sua escuridão... deixe-se levar pela mágoa e pela dor. Sofra, guarde ressentimento, pragueje... por alguns instantes, faça/seja como ela. Aceite suas camadas, flerte com o negrume. 

Faça como eu. 

Afinal, apesar de tudo, você bem sabe que eu não sou um cara legal.

P.S.: Aprendi a gostar de Amy Winehouse com uma mulher que sabe apreciar suas escuridões - assim como eu. Uma pessoa que admiro além da conta, que me ensinou muito sobre distâncias, profundidades e consequências. Uma das pessoas mais complexas que já conheci, e das mais interessantes: Mauricelia Lima. A ela, que, apesar de tudo, jamais perde a doçura: Mau, essa é pra você. De coração. 

P.S.2: Amy morreu injustiçada. Ela merecia ter tido/sido um Bond Theme. Mas para mim, Amy, saiba: não há Adele que supere "Back To Black".



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