Dia 224
Dir: David Fincher
Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr., Brian Cox.
Quero informar um duplo assassinato. Vá um quilômetro e meio para leste na Avenida Columbus.
Em um parque público, tem dois garotos em um carro marrom.Atiraram neles com uma Luger 9 milímetros.
Também matei os garotos do ano passado.
Adeus.
O Assassino do Zodíaco foi um serial killer americano que
fez pelo menos 5 vítimas confirmadas entre dezembro de 1968 e outubro de 1969.
Suas vítimas eram em geral jovens em lugares pouco movimentados, seus alvos
eram casais sozinhos em lugares escondidos. Seus crimes em si não foram dos
mais notórios: cinco vítimas confirmadas, duas sob forte suspeita e mais
algumas das quais havia certa desconfiança. Outros serial killers com certeza
metiam, em questão de números, muito mais medo que o Zodíaco. Suas ações eram
bruscas, algumas simplesmente não surtiram o efeito desejado, duas vítimas
sobreviveram aos seus ataques e seus atos criminosos sequer chegaram a evoluir
tanto assim. O que fez do Zodíaco um assassino tão instigante a ponto de ganhar
um livro para contar sua história e, mais adiante um filme pelas mãos do
diretor David ‘fucking’ Fincher (segundo melhor diretor do mundo), foi seu
modus operandi... peculiar. O sujeito era o que se podia chamar de terrorista
doméstico.
Zodíaco, de 2007 dirigido pelo já mencionado Fincher, conta
a história desse assassino peculiar, um homem misterioso que matava suas
vítimas e enviava cartas e mensagens para a polícia e para jornais contando de
suas façanhas e fazendo ameaças. Um de assassino que, por cometer crimes em
vários pontos dos EUA, pôs uma nação inteira em pânico no início dos anos 70,
quando esse tipo de ação só era divulgada por meio de noticiários e a
informação sofria para chegar à casa das pessoas. A comunidade americana,
amedrontada por boatos que apenas pioravam a situação como um todo, escondia-se
em casa, vivia sob toque de recolher, olhando para os lados...
Outro detalhe interessante sobre o assassino é que as
cartas que ele enviava à polícia e aos jornais eram codificadas, cartas
escritas com símbolos que mesclavam a escrita de várias culturas: Grego, código
Morse, metáfora naval, senhas astrológicas... O cara não estava de brincadeira
(ou estava, quem saberá?). O jogo começou a virar quando o cartunista Robert Graysmith
(interpretado pelo, aqui excelente, Jake Gyllenhaal) conseguiu sacar os
códigos, interpretou a loucura do Zodíaco e, em conjunto com um professor de
história que enviou as respostas para o jornal onde o cara trabalhava, decifrou
os códigos do sujeito e deu uma luz no caso, o que só acabou por gerar mais
paranoia e incerteza.
O fato é que (não sei se deu pra sacar, mas o filme é
baseado em uma história real) o assassino NUNCA foi preso, nunca foi descoberto
e talvez nunca tenha se chegado nem perto de sua pessoa. Até hoje não se faz
ideia de quem é o Zodíaco ou qual era seu objetivo. Houveram dúzias de
suspeitos, a polícia investigou de perto cada um deles mas, até os dias atuais,
a verdadeira identidade do misterioso assassino nunca veio à tona.
O filme tem um elenco estelar: Jake Gyllenhaal no papel
do protagonista Robert Graysmith; Mark Ruffalo como o inspetor de polícia David
Toschi; Robert Downey Jr. (0/) como o jornalista Paul Avery; Brian Cox, Elias Koteas,
Dermot Mulroney...
E que elenco fantástico o Fincher conseguiu reunir num
set sem que um ficasse sufocando o papel do outro (ainda mais arriscando-se com
Jake Gyllenhaal no papel principal, um ator que só atua realmente bem quando
guiado por grandes diretores (ainda mais arriscado é ter Robert Downey Jr como
coadjuvante num filme em que o Gyllenhaal protagoniza)). Obviamente, dos
envolvidos no caso Zodíaco (todos os citados acima) Downey Jr. é o um dos que
mais chamam atenção, com seu jornalista autodestrutivo que encontra tesão no
trabalho ao ver o circo pegar fogo. O cara chega ao ponto de divulgar em sua
coluna que o assassino é homossexual (uma ofensa gravíssima na época) só para
ver a reação do mesmo, fazê-lo dar sinais de vida.
Tecnicamente fantástico! Vemos aqui uma nova incursão de
Fincher nos cenários criados digitalmente, assim como em vários momentos de
Clube da Luta e em O Curioso Caso de Benjamin Button. Sendo que aqui ele faz
uso desse recurso de forma muito mais sutil, camuflando-o na fotografia impecavelmente
nítida de
Harris Savides (Um Lugar Qualquer). Além disso ainda há a trilha
sonora implacável de David Shire, repleta de músicas da época (os anos 60/70),
como na fantástica cena de abertura, na qual o assassino faz suas duas
primeiras vítimas ao som de Hurdy Gurdy Man, do cantor Donovan. Não fosse
suficiente, toda a recriação da época é belíssima: carros, roupas, cenários
(grande parte digital, mas muito reconstruído em set)...
Além disso ainda há o recurso constante da passagem de
tempo (a história se desdobra por quase quinze anos) sem que isso fique repetitivo,
cansativo ou superficial.
Em resumo, o que se pode dizer de um sujeito que
conseguiu dirigir Clube da Luta na FOX? O cara só pode ser um dos diretores
mais poderosos do mundo atualmente. Poucos caras tem poder de escolha e
respeito por parte dos estúdios como David Fincher. Poucos caras vivos, pelo
menos.
Sujeito foi sacaneado como foi pelo estúdio (que não
conhece a novela Alien 3, sai debaixo da pedra) e recebeu como pedido de
desculpas DA FOX a carta branca para dirigir um dos maiores clássicos modernos
como bem entendesse! E hoje temos o que temos: Clube da Luta, páreo duro com
Pulp Fiction no quesito melhor filme da história.
Zodíaco é extremamente visual, mas sem ser espalhafatoso,
que conta uma história intrigante, mas sem ficar extremamente exagerada e que
conta com um elenco poderoso, mas sem excessos por parte de ninguém. É uma obra
de diretor, não de estúdio.
Apesar disso tudo o filme acabou passando meio
despercebido nos cinemas. Não gastou muito, não arrecadou muito e acabou por
não ser um prejuízo assim tão grande mas, definitivamente, merece ser
apreciado.
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