Dia 231
Imagine
um filme com requintes do sombrio, da melancolia, ou seja, a estética gótica
presente em um filme musical... tais elementos combinam? Para o diretor Tim Burton é possível sim, combinam de
uma maneira perfeita e intrinsecamente ligadas a não perder nenhum elemento.
Admito que filmes musicais não são muito minha praia, não tenho muita paciência
para ficar ouvindo aquelas letrinhas meio chatinhas, além do mais se for aqueles
de um romantismo super-ultra-mega meloso. Porém, pela primeira vez um musical me
cativou de maneira absurda, na verdade nunca pensei que iria assistir e adorar
e amar um filme musical. Claro que há motivos para isso, a começar pelo
diretor do filme citado acima, Burton é
um daqueles caras que sabem fazer cinema e escolheu uma trupe para formar filmes
sensacionais. Então, let’s go!
Lhes
apresento um filme de terror-musical: Sweeney
Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet é um filme americano do ano de
2007, dos gêneros suspense, terror e musical, um pouquinho de drama, dirigido
por Tim Burton. É um roteiro
adaptado de um musical da famosíssima Broadway por John Logan,
as letras foram escrita por Stephen
Sondhein e é estrelado por Johnny
Depp, Helena Bonham Carter e Alan Rickman. Pelo título do filme e pela
belíssima fotografia do pôster já podemos notar que a história aqui é bem
excêntrica, um cara barbeiro que é denominado demoníaco por suas ações, mas por
que o chamam assim para ganhar tal denominação; e claro temos a honra de ter
mais uma vez Johnny Depp o rei da
versatilidade no cinema.
A
abertura do filme é composta por cenas bem interessantes, primeiramente vemos
uma cidade enevoada aos tons de cinza devido à chuva, que no decorrer do filme
mostra ser uma Londres em plena revolução industrial do século XIX. Após isso
há uma casa escura, sozinha, os cômodos vão sendo mostrados, retratos antigos de
parentes são expostos, diante disso a câmera vai seguindo até encontrar um
filete de sangue ao chão que vai crescendo e procurando um caminho, é uma
trilha de sangue para ser seguida pelo espectador. Aqui vemos o contraste com o
dark do ambiente e o vermelho vívido
de sangue. Tal sangue vai passando por pisos, carpetes, até encontrar peças de
engrenagem de uma máquina que está moendo carne, então percebemos que este
sangue deriva da carne que está sendo moída. Sinistro.
Surge
então a primeira pergunta: é carne humana ou animal? Simplesmente fica
inevitável não pensarmos isso, devido a primeira impressão de terror quando
assistimos o surgir de uma esteira que mistura sangue e leite, com o arremate
de uma fornalha de tortas bem suculentas. Agora lhe pergunto: tortas feitas de quê? Se
você pensou em várias opções, esclareceremos logo mais. Tudo isso ocorre enquanto
surgem os letreiros na tela na cor branca cinzenta (um requinte a mais para
arrematar o so dark) acompanhados
pela música de fundo apropriadamente perversa, ou seja, aquele que originou
aquele sangue, aquela carne, as tortinhas bonitinhas ao ver, se diverte com
aquilo de maneira demoníaca. Os resquícios de sangue caem em alto mar, um mar
gélido e escuro (aliás, tudo aqui é escuro), um navio se aproxima e dois homens
surgem: Anthonny (Jamie Campbell) e Benjamin Barker (Johnny Depp) cantando
a primeira canção do filme, aqui fica claro que a volta dele é por vingança por uma injustiça
terrível que lhe impuseram.
Benjamin volta
a uma Londres completamente
diferente do que se lembrava, agora é uma cidade sombria, sem vida, vingativa.
Enquanto o navio não desembarca Benjamin
conta a Anthonny, um fiel
escudeiro, o porquê de sua volta aquela cidade. Ao relembrar dos fatos, vemos
que Benjamin era um homem feliz, era
um barbeiro, considerado o melhor de toda Londres, tinha uma família linda, uma esposa belíssima que tinha uma beleza
divinal, e uma filhinha recém-nascida. Só que havia um homem, o juiz corrupto Turpin (Alan Rickman) da corte londrina,
que era apaixonado pela esposa de Benjamin,
o juiz era insistente de todas as formas, mas ela recusou, pois amava seu
marido, visto que não iria conseguir seu intento, Turpin prende e exila Benjamin
na Austrália sob falsas acusações.
Tomado por uma visão vingativa e cego
pela mesma, Benjamin Barker desembarca
na cidade com outro nome, Sweeney Todd é
sua nova alcunha, mostrando que mudou de maneira radical, de um homem puro e
ingênuo a um homem injustiçado e quer somente uma coisa: vingança. Se despede
de Anthonny, afirmando que lhe
procure em seu novo endereço na Rua
Fleet, onde colocará seu plano em prática. Ao chegar no local, Mr. Todd um pouco cansado, esfomeado e
procurando um local para descansar, encontra uma loja de tortas da senhora Lovett (Helena Bonham Carter), a mesma
oferece o andar de cima de sua loja para que ele possa atender os clientes,
pois afinal és um barbeiro. Lovett uma
cozinheira de tortas, que são consideradas as piores de Londres, descobre que Todd na verdade é Benjamin e o conta que enquanto ele estava exilado, o juiz Turpin violentou sua esposa, diante
disso a mesma comete suicídio, e tomou a filha dele, a guardando a sete chaves
para um futuro casamento! Um espécime de juiz super corrupto que não mede
esforços para conseguir o que quer.
Ao saber disso Sweeney Todd, coloca seu plano de vingança em ação, começa a
exercer novamente a profissão de barbeiro, para que possa um dia barbear o juiz
e o degolar com suas amigas, essas
amigas são suas navalhas de prata pura (belíssimas peças por sinal, brilham).
Porém um outro barbeiro descobre novamente que Todd é Benjamin, com
medo de que seu plano seja prejudicado Todd
mata o infortúnio e a senhora Lovett
tem a ideia (macabra) de se desfazer do corpo de maneira eficaz, para que
não deixe rastros. Ela faz tortas, está falida, mata gatos para fazer o recheio
das tortinhas, nas palavras dela: um
corpo tão robusto como aquele ser jogado dessa maneira, que mal têm
aproveitá-lo? Já sacaram? Pois é, a partir daí os clientes que vão se
barbear, aqueles considerados insignificantes para a sociedade, são mortos por Todd para que se tornem
os recheios de carne das tortas da senhora Lovett.
Logo mais suas tortas se tornam as
mais deliciosas e as mais procuradas de Londres! Arrepiante!
Ao decorrer daqui a história toma o rumo
muito mais legal, só contei o aperitivo, literalmente exótico não? Tudo isso narrado
de forma musical, e as músicas muito bem adaptadas, bastantes legais, afirmo, elas
dão uma certa leveza a história de traições, assassinatos e vingança. O filme
possui uma fotografia de tirar o folego, existe o tempo da iluminação quando Todd era feliz, coloridos, em que
prevalecem a cor creme e mel, a doce e perfeita vida antiga do barbeiro
assassino. E a enevoada cidade, em que prevalecem os sentimentos de vingança,
roupas, maquiagem bem góticos. Apesar de ter cenas de mortes bem fortes o filme
te gruda na tela. Tudo, bem a cara de Tim
Burton.
Quem conhece seus filmes, sabe de sua
predileção pelo gótico, é simplesmente adorável ver mais uma produção sua com
aquela atmosfera e histórias surreais mas que tem um sentido lúdico. Sei três
coisas sobre Tim Burton: a primeira
é que ele é super fã do grande Edgar Allan
Poe, a segunda é que considera Johnny Depp o cara certo para
protagonizar seus personagens mais complexos e a terceira é que sua musa
inspiradora é sua esposa, a talentosa Helena
Bonham Carter. Burton é responsável por vários sucessos, tais como O Estranho Mundo de Jack, Edward-Mãos de
Tesoura, A Noiva Cadáver, e muitos outros. Tim Burton é um dos meus diretores favoritos, porquê seus filmes de
uma forma ou de outra sempre mostram os conflitos do ser humano, afinal quem
não tem seus momentos sombrios?
Depp
e Helena sempre estão em seus filmes, juntos ou não, em Sweeney Todd os dois atuam magicamente.
Elenco cinco estrelas. Helena Bonham
Carter é uma excelente atriz, um talento fora de série, a atuação dela no Discurso do Rei merecia um oscar,
injustamente não indicada. Interpretou a maléfica bruxa Belatriz em Harry Potter e a
Ordem da Fênix, sem falar de sua atuação em Clube da Luta, mais uma vez ótima e perfeita. Johnny Depp, o que falar dele? Excelente ator, excêntrico, bonito e
absurdamente talentoso, como afirma a crítica, Depp é o ator mais versátil do cinema atualmente, vai do bonzinho
ao maléfico, do deprimido a personagens complexos. Como sempre uma atuação
digna de prêmios, excelente. Não podemos esquecer do grande Alan Rickman, interpreta o juiz de forma magistral, sem falar naquela voz dele, gutural, grave e arrastada, a maldade muito bem interpretada.
Sweeney Todd é um excelente filme, um filme que me mostrou
que musicais podem ser muito interessantes quando bem elaborados, extirpando um
pouco do preconceito que tinha em relação a tais filmes, aviso que não é um
musical de letras felizes e bonitinhas. As canções possuem seu tom mais escuro,
são o expoente de um personagem complexo e confuso que vê no limiar de sua
razão quando lhe é imputado o senso de vingança. A vingança vale a pena? Em Sweeney Todd a vingança toma proporções
descabidas, ao ponto de machucar quem menos se espera. É uma lição de moral
diferente, com muito sangue, uma aviso de que não temos tudo planejado. Burton talvez nunca construiu uma
história tão atraente e devastadora em todos os sentidos!
Devastadora
quando Todd inicia a matança de
pessoas inocentes por simples prazer de sadismo, devasta quando o mesmo escolhe
suas navalhas como amigas, o cortar do pescoço, o som do jorrar do sangue se
torna uma canção em seus ouvidos vingativos! Afinal, a revenge é o que respira, a vingança surge cada vez mais pulsante em
cada pescoço degolado. Se quer passar longe de musical e sangue passe longe
deste longa, mas confirmo que será um crime não assistir um futuro épico
moderno! É como Todd afirma nas
entrelinhas, somos seres desprezíveis, pobres, porque jogamos tudo fora por um
simples desejo! Há um buraco no mundo como um grande poço negro, e ele está repleto de
pessoas que não valem nada! E a ralé do mundo mora nesse lugar! – Mr. Todd
Bjooss!
Janiê Maia
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