Dia 237
Midnight in Paris - 2011
Dir: Woody Allen
Elenco: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kathy Bates, Tom Hiddleston.
Meia Noite Em Paris conta a história de um escritor que
está passando uma temporada em Paris com a namorada/esposa e alguns amigos e
familiares em busca de sossego e inspiração. O sujeito, Gil Pender (Owen
Wilson, excelente), em certo ponto, acaba se separando do grupo 9todos
incrivelmente empolgados com a cidade luz) e decide dar uma volta sozinho,
respirar os ares da cidade, conhecer o lugar à noite. O cara já tá meio bêbado,
dá umas voltas pela cidade e, em certo momento, mais especificamente à meia
noite, se vê sentado nas escadarias de uma igreja, completamente sozinho,
observando a falta de movimento de Paris à noite.
E é nesse momento que um carro se aproxima, um modelo
antigo, incrivelmente lustrado, cheio de gente. Os ocupantes chamam Gil para
dentro e o sujeito, já meio alto, decide entrar.
Normalíssimo.
Os caras, uns totais desconhecidos, enchem Gil de
champanhe e levam-no a uma festa.
É aí que a magia acontece.
Na tal festa o sujeito se depara com algumas figuras
ilustres, como Zelda e F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston) e, a despeito de seu
espanto inicial, acaba por se familiarizar com aquelas pessoas. Pouco depois o
sujeito dá de cara com Cole Porter e, entre outras figuras que o deixam
embasbacado, o fantástico Ernest Hemingway (Corey Stoll).
Essa loucura, essa transgressão toda é dirigida por ninguém
menos que Woody Allen (só), um sujeito que leu, estudou, se alimentou a vida
inteira de literatura clássica mundial e, na idade em que se encontra
atualmente, via sua cabeça entupida por um milhão de referências e personagens
históricos que permeavam seu imaginário, um milhão de situações e pessoas a
quem idolatra, dezenas, centenas de autores, cantores, artistas em geral que
por si só davam uma boa história. O que ele decide fazer é pegar toda essa
gente que marcou sua vida e sua carreira e colocar a todos em um único,
redondo, incrivelmente bem escrito e amarrado roteiro.
E coloca, no meio de todos esses, a si mesmo
(representado por Gil) podendo presenciar toda aquela vida e criatividade, todo
aquele sentimento, toda aquela paixão fervilhando pelas ruas de Paris.
E tudo isso (levando em consideração que o nobre leitor
sabe do que eu estou falando, viu o filme e faz ideia de quem sejam os Fitzgerald
e Hemingway, claro que sim?) é mostrado
de uma forma a deixar tanto Gil quanto a nós bastante perplexos, porém confortáveis.
Afinal quem nunca quis tomar um café com seu autor favorito, caminhar pelas
ruas de Paris trocando ideia com aquele cantor ou cantora que marcou sua vida,
quem nunca sonhou em conhecer pessoalmente um artista morto há muito tempo,
fosse em espírito ou viajando pelo tempo.
Allen pegou essa ideia, bastante óbvia, tanto que me fez
questionar como ninguém teve coragem de fazer isso antes, e levou às telas de
um modo que não ficasse didático demais ou extremamente pedante (só um
pouquinho, mas isso é inevitável), fazendo com que a personagem de Wilson
interagisse com todas essas figuras (e mais uma tonelada delas) e aprendesse
com elas, sobre literatura, sobre música, sobre amor, sobre a vida.
E o resultado disso é uma viagem fantástica por uma
cidade que eu não tenho vontade nenhuma de conhecer, mas que me fascinou
profundamente.
E tudo isso, o que achei ainda mais fantástico, ocorre
indiferente ao tempo nos quais essas pessoas viveram, ao lugar onde viviam, muitas
delas talvez nunca tenham sequer se visto pessoalmente...
Aí mora a poesia e a beleza de Meia Noite. E também na
dúvida. Teria Gil, por mágica, viajado no tempo e encontrado todas aquelas
pessoas? Ou apenas estaria bastante bêbado? A experiência do cara dura algumas
noites, ele volta a vivencia-la, usufrui de oportunidades incríveis (Gertrude
Stein, uma famosa poeta americana que viveu no século 19, (Kathy Bates), revisa
o livro que ele está escrevendo), conhece figuras fantásticas e,
principalmente, vive.
Admito: não peguei metade das referências de Meia Noite,
mas aprendi um bocado, fiz uma bela pesquisa sobre uma dezena de nomes citados
e, de alguns artistas, eu já conhecia um pouco da obra. Se você conhece tudo o
que é mencionado no filme, com certeza vai se deliciar bem mais com o trabalho
apaixonado de Woody Allen. Mas se não conhece, não usa monóculo nem esbofeteia
a cara de pessoas com luvas de seda, nada te impede de ficar fascinado com a
viagem de Gil Pender.
Meia Noite é bem mais que um amontoado de referências, é
uma bela obra de arte, nem tão pretensiosa quanto soa, e uma belíssima
homenagem de Allen a todos os artistas que marcaram sua vida e sua obra.
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