terça-feira, agosto 27, 2013

Kill For Love (2012) - Chromatics, ou: Nenhuma luz para te salvar ou te denunciar: a ilusão de amar por estes dias.

Dia 239.

Já conversamos aqui antes sobre o Chromatics. Já falamos de sua sensação iminente de noites perigosas, de chuva e trovões. Já dissemos também em voz alta - a titulo de exorcismo - a obsessão de dirigir na escuridão com os faróis acesos rasgando o negrume da estrada.




Nenhuma luz para me salvar ou denunciar. Estou só. E a estrada adiante é a única guia.

Assim é "Kill For Love, sucessor de "Knight Drive". O mesmo drive feeling de dirigir com a janela aberta enquanto o vento te joga no rosto todas as possibilidades.




Ao longe, as luzes da cidade colorem a noite com um tom púrpura e artificial. Falsas promessas de diversão e felicidade surgem diante de meus olhos sonolentos, chocam-se com o para-brisa e revelam-se fragmentos vítreos de sonho e poeira e fumaça.

Há a ansiedade de vê-la, tocá-la, passar a mão em seus cabelos... aspirar lentamente o doce perfume que se desprende de sua pele macia... antecipar em desejos esses momentos de abraçá-la e prendê-la na ilusão de que eu poderia tê-la ali comigo para sempre...




Aumento o volume. Lá fora borrões passam em alta velocidade numa efêmera existência.

A luz revela; a escuridão engole de volta devolvendo a paisagem ao nada. Somente eu existo, cercado de metal e som. Nenhum farol me persegue. Diante de mim somente a imensidão negra de um asfalto que apenas aguarda minha passagem para que possa sumir novamente até o próximo par de luzes que flutuam na noite em busca de fim ou de fugas.

No fim, há apenas desilusão e vazio. Toda e qualquer jura ou promessa é inverdade ou barulho. Somente a estrada é verdadeira. 

Todo amor é vão.

A música do Chromatics é ao mesmo tempo fria e intensa, distante e extremamente real. Como gotas de chuva no para-brisa do carro numa noite sem luar. Como jurar amor eterno.

Como querer matar por amor.



Amar, por estes dias, é apenas mais um trecho de uma canção que se perde na distância.

Todo mundo foge diante das promessas que a rotina nos obriga a quebrar.

Todo mundo foge quando a estrada se revela diante de seus faróis famintos. 

"Nobody loves no one" - diz Chris Isaak em seu clássico "Wicked Game".

Digo eu nesta noite vazia.



Boas noites.

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