Dia 238
Trance - 2013
Dir: Danny Boyle
Elenco: James McAvoy, Rosario Dawson, Vincent Cassel.
Em Transe é um filme complexo, seja por sua trama, por
sua estrutura ou por suas dezenas de reviravoltas. É o Inception do diretor
Danny Boyle (Extermínio), reprisa vários dos elementos da obra de Christopher
Nolan, porém ainda mais ambicioso e com menos recursos financeiros. Boyle é um
diretor competente, um dos grandes nomes do cinema britânico, já provou-se como
um grande diretor, um grande contador de histórias, meia dúzia de vezes. Porém
sofre de um problema grave: a síndrome do underground, a necessidade de continuar
filmando como um diretor independente em início de carreira, quando poderia se
assumir como um dos peixes grandes do blockbuster.
Em Trance, seu
trabalho mais recente nos cinemas, Boyle conta-nos a história de um roubo de
arte, algo que tinha tudo para ser simples se corresse como o planejado, mas
simplesmente foge ao controle de uma forma magistral e potencialmente genial.
Potencial é a
palavra aqui.
O filme se inicia com Simon Newton (James McAvoy), um funcionário
de leilão de arte que se vê em meio a um lance milionário no exato momento em
que um grupo de assaltantes pesadamente armados, liderado por Franck (Vincent
Cassel) invade o local com o objetivo de levar uma pintura de Goya,
extremamente valiosa.
Assim como foi treinado para fazer, Simon aproveita o
estardalhaço que os criminosos fazem, pega a pintura e tenta leva-la a um lugar
seguro, como manda o protocolo, mas é interceptado pelo líder do grupo, reage e
é nocauteado agressivamente, de modo que se forma um coágulo em seu cérebro que
precisa ser drenado cirurgicamente.
Em outro lugar longe dali, Franck, o ladrão da obra,
descobre que o que conseguiu roubar no leilão foi apenas uma moldura vazia:
Simon havia ficado com a pintura.
Porém, após a pancada, Simon acorda em um hospital e não
se lembra de absolutamente nada, muito menos do que fez com a pintura.
E quando recebe alta do hospital, chega em casa e vê que
ela foi invadida, seja quem for que o fez revirou-a por completo, destruiu tudo
e aparentemente não levou nada. É quando ele recebe a visita de um conhecido,
que o leva exatamente ao local onde se encontra o grupo de Franck. E então
descobrimos que Simon não só estava envolvido no esquema do roubo, como deveria
facilitar que ele ocorresse e, ainda, que traiu o grupo por motivos que ele
próprio não se lembra.
O grupo o tortura até quase mata-lo antes de compreender
que ele realmente não sabe o que houve com a pintura, então decide ajudá-lo a
se lembrar fazendo-o visitar uma especialista em hipnose, Elizabeth (Rosario
Dawson, belíssima). E é aí que as coisas começam a fugir completamente ao
controle: a mulher vê em Simon algo de diferente, sua capacidade de entrar e
sair de transe com facilidade anormal, e decide explorar essa anomalia, o que
acaba colocando-a cada vez mais próxima do grupo e, consequentemente, gerando
um desconforto (maior) entre Simon e Franck (tá escrito certo).
Então, só para tornar as coisas um pouco menos simples, Elizabeth
passa a hipnotizar Simon com frequência cada vez maior (com o objetivo de
fazê-lo lembrar onde escondeu a pintura), o que o faz começar a ter alucinações
cada vez mais reais e, por fim, não saber mais discernir realidade de
alucinação.
E, só pra variar, Boyle ainda acha espaço para um
triângulo amoroso.
Trance é frenético, veloz e esperto. Tem uma qualidade
fantástica: está sempre indo mais e mais fundo nas situações que cria. A
história, que começa como um simples roubo de arte e termina como um thriller
psicológico é empolgante e o elenco segura a barra de forma muito fluida. O
primeiro ato do filme é excelente, tem um ritmo simplesmente correto e entrega
tudo o que precisa para fazer o expectador colar na tela. McAvoy faz seu papel
mais incomum, quase nunca fica por cima nas situações, chega a ser ingênuo e
por várias vezes acaba se dando mal por isso.
As coisas se perdem um pouco no segundo ato, que fica
quase completamente preso ao relacionamento dos três e acaba se tornando
arrastado, mas as resoluções finais dão um novo e mais uma vez empolgante rumo
à trama. A partir dali Trance poderia acabar de qualquer jeito, ao menos uns
seis, sete finais possíveis e ainda seria ótimo.
Mas entra o terceiro ato, o das explicações. Explicações
essas que fazem todo o sentido no contexto e dentro das regras impostas por
Boyle, algumas empurradas ali completamente à força e de forma grosseira.
Coisas que você percebe que só estão ali por capricho do diretor e se não estivessem
as revelações do terceiro ato simplesmente não fariam sentido.
Normal, todo filme faz isso, mas elas estão ali para dar
um rumo desnecessariamente surpreendente, um final inesperado.
E é o final de Trance que ferra com tudo: você compra a
ideia, aceita bem (apesar de forçado) o desfecho da história, compreende a intenção
do diretor, todas as reviravoltas fazem sentido, mesmo que à força, e todos os
personagens encontram seus devidos finais, após inúmeras traições e plot twists
bastante inteligentes.
Então vem a última cena e, no melhor estilo Brian De
Palma (e recentemente o Oliver Stone começou a fazer isso também), entrega uma
última reviravolta, totalmente desnecessária, só pra dar a uma personagem
específica ares de “mais esperto da turma”.
O final de Trance é tão específico que chega a ser patético.
PS: a trilha sonora é excelente.
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Cara, eu estava mesmo aguardando pra ver teu comentário sobre esse filme. Eu assisti e fiquei pensando como seria seu comentário
ResponderExcluirE o que tu achou dele?
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