segunda-feira, agosto 26, 2013

Em Transe

Dia 238
Trance - 2013
Dir: Danny Boyle
Elenco: James McAvoy, Rosario Dawson, Vincent Cassel.

Em Transe é um filme complexo, seja por sua trama, por sua estrutura ou por suas dezenas de reviravoltas. É o Inception do diretor Danny Boyle (Extermínio), reprisa vários dos elementos da obra de Christopher Nolan, porém ainda mais ambicioso e com menos recursos financeiros. Boyle é um diretor competente, um dos grandes nomes do cinema britânico, já provou-se como um grande diretor, um grande contador de histórias, meia dúzia de vezes. Porém sofre de um problema grave: a síndrome do underground, a necessidade de continuar filmando como um diretor independente em início de carreira, quando poderia se assumir como um dos peixes grandes do blockbuster.
Em Trance, seu trabalho mais recente nos cinemas, Boyle conta-nos a história de um roubo de arte, algo que tinha tudo para ser simples se corresse como o planejado, mas simplesmente foge ao controle de uma forma magistral e potencialmente genial.
Potencial é a palavra aqui.
O filme se inicia com Simon Newton (James McAvoy), um funcionário de leilão de arte que se vê em meio a um lance milionário no exato momento em que um grupo de assaltantes pesadamente armados, liderado por Franck (Vincent Cassel) invade o local com o objetivo de levar uma pintura de Goya, extremamente valiosa.
Assim como foi treinado para fazer, Simon aproveita o estardalhaço que os criminosos fazem, pega a pintura e tenta leva-la a um lugar seguro, como manda o protocolo, mas é interceptado pelo líder do grupo, reage e é nocauteado agressivamente, de modo que se forma um coágulo em seu cérebro que precisa ser drenado cirurgicamente.


Em outro lugar longe dali, Franck, o ladrão da obra, descobre que o que conseguiu roubar no leilão foi apenas uma moldura vazia: Simon havia ficado com a pintura.
Porém, após a pancada, Simon acorda em um hospital e não se lembra de absolutamente nada, muito menos do que fez com a pintura.


E quando recebe alta do hospital, chega em casa e vê que ela foi invadida, seja quem for que o fez revirou-a por completo, destruiu tudo e aparentemente não levou nada. É quando ele recebe a visita de um conhecido, que o leva exatamente ao local onde se encontra o grupo de Franck. E então descobrimos que Simon não só estava envolvido no esquema do roubo, como deveria facilitar que ele ocorresse e, ainda, que traiu o grupo por motivos que ele próprio não se lembra.
O grupo o tortura até quase mata-lo antes de compreender que ele realmente não sabe o que houve com a pintura, então decide ajudá-lo a se lembrar fazendo-o visitar uma especialista em hipnose, Elizabeth (Rosario Dawson, belíssima). E é aí que as coisas começam a fugir completamente ao controle: a mulher vê em Simon algo de diferente, sua capacidade de entrar e sair de transe com facilidade anormal, e decide explorar essa anomalia, o que acaba colocando-a cada vez mais próxima do grupo e, consequentemente, gerando um desconforto (maior) entre Simon e Franck (tá escrito certo).


Então, só para tornar as coisas um pouco menos simples, Elizabeth passa a hipnotizar Simon com frequência cada vez maior (com o objetivo de fazê-lo lembrar onde escondeu a pintura), o que o faz começar a ter alucinações cada vez mais reais e, por fim, não saber mais discernir realidade de alucinação.
E, só pra variar, Boyle ainda acha espaço para um triângulo amoroso.
Trance é frenético, veloz e esperto. Tem uma qualidade fantástica: está sempre indo mais e mais fundo nas situações que cria. A história, que começa como um simples roubo de arte e termina como um thriller psicológico é empolgante e o elenco segura a barra de forma muito fluida. O primeiro ato do filme é excelente, tem um ritmo simplesmente correto e entrega tudo o que precisa para fazer o expectador colar na tela. McAvoy faz seu papel mais incomum, quase nunca fica por cima nas situações, chega a ser ingênuo e por várias vezes acaba se dando mal por isso.


As coisas se perdem um pouco no segundo ato, que fica quase completamente preso ao relacionamento dos três e acaba se tornando arrastado, mas as resoluções finais dão um novo e mais uma vez empolgante rumo à trama. A partir dali Trance poderia acabar de qualquer jeito, ao menos uns seis, sete finais possíveis e ainda seria ótimo.
Mas entra o terceiro ato, o das explicações. Explicações essas que fazem todo o sentido no contexto e dentro das regras impostas por Boyle, algumas empurradas ali completamente à força e de forma grosseira. Coisas que você percebe que só estão ali por capricho do diretor e se não estivessem as revelações do terceiro ato simplesmente não fariam sentido.
Normal, todo filme faz isso, mas elas estão ali para dar um rumo desnecessariamente surpreendente, um final inesperado.


E é o final de Trance que ferra com tudo: você compra a ideia, aceita bem (apesar de forçado) o desfecho da história, compreende a intenção do diretor, todas as reviravoltas fazem sentido, mesmo que à força, e todos os personagens encontram seus devidos finais, após inúmeras traições e plot twists bastante inteligentes.
Então vem a última cena e, no melhor estilo Brian De Palma (e recentemente o Oliver Stone começou a fazer isso também), entrega uma última reviravolta, totalmente desnecessária, só pra dar a uma personagem específica ares de “mais esperto da turma”.
O final de Trance é tão específico que chega a ser patético.

PS: a trilha sonora é excelente.
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2 comentários:

  1. Cara, eu estava mesmo aguardando pra ver teu comentário sobre esse filme. Eu assisti e fiquei pensando como seria seu comentário

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