Pink Floyd The Wall. O tijolo nosso de cada dia - Assis Oliveira

Dia 234

Filme: Pink Floyd The Wall (1982) - IMDb 7,8
Diretor: Alan Parker
Roteiro: Roger Waters
Atores: Bob Geldof, Christine Hargreaves, James Laurenson
Duração: 95 min

Um dos mais importantes Álbuns musicais da história do Rock era para ser apenas mais um disco da banda Pink Floyd se não tivesse sido usado como base para uma obra de cinema. A criatividade de três caras, Roger Water como roteirista, a direção de Alan Parker e a atuação de Bob Geldof, produziram um filme que a trinta anos arregimenta fãs em todas as gerações. Uma obra abrangente que vai de elementos gerais a coisas pessoais e subjetivas.

The Wall é uma obra essencialmente musical, mas com um forte apelo gráfico. O caráter contestador da banda em toda sua plenitude mostrando o processo de formação individual a partir do personagem Pink (Geldof). Os primeiros tijolos de sua formação colocados lá pelos pais, uma mãe que o esmaga com seu excesso de zelo e um pai ausente que cumpre o seu dever patriótico de ir a guerra. Anos depois a educação acresce mais alguns tijolos a seu muro com um professor sádico, e provavelmente frustado que não se vê como parte de um processo de moldar a mente de seus alunos segundo os ditames da lei e da ordem. As coisas ficam ainda pior quando Pink começa a construir seu próprio muro escrevendo poesia como forma de se proteger do mundo exterior, ele é ainda mais punido pela ousadia.

Finalmente Pink se torna uma estrela do Rock. O que poderia ser sua redenção acaba por o isolar mais ainda. Todo o filme são suas lembranças do caminho que ele trilhou até chegar aquele quarto de hotel, onde sozinho e sob o efeito de drogas, ele preenche suas lembranças com imagens distorcidas. 

Aqui esta a principal ferramenta do filme, além da musica da banda, a arte gráfica, repleta de imagens psicodélicas e inquietantes. Elas produzem um visual que a cada passada de olhar lhes mostra algo diferente e novo. São referencias a nossa formação enquanto parte de algo maior e alheio a nossa vontade e controle e, os meios pelos quais o sistema se reproduz a partir de cada tijolo do muro, que somos nós. Não faltam referências a guerra pelo pode de controlar o maior numero de mentes possíveis, a águia simbolo do poder nazista, os exércitos de martelos em formação marcial, os bombardeios e finalmente a dissolução de nossas individualidades As imagens gráficas inovadoras usadas no filme, são a ultima parte do verdadeiro quebra cabeças, o toque final em uma magnifica obra de arte.

Também é Pink uma referência a um dos falecidos membros da banda, o genial Syd Barret, que de um modo semelhante ao protagonista sucumbiu aos excessos lisérgicos. Barret é considerado um dos mais inovadores compositores do Rock Britânico e é frequentemente citado como influência de nomes consagrados, mas do mesmo modo que Pink, queimou-se na industria musical e seu isolamento e fastamento do grupo acabou com sua morte. 

São tantos o níveis de leitura que se podem extrair de The Wall, mas eu gosto de um em especial. O momento em que Pink resolve demolir o seu muro, não o seu próprio que é a sua musica, a sua poesia. O outro, o erguido a sua revelia. O que ele se torna depois de fazê-lo não é algo melhor. É alguma coisas igualmente fascista. igualmente controladora, vociferando palavras de ordem em todas as direções, e não podia ser diferente. O circulo finalmente se fecha e ele se torna parte daquilo, senão "aquilo" que ele mais lutou contra. Gosto do fato de não terem matado o personagem, o que poderia ser uma solução fácil como o caminho tomado por Barret.

The Wall não é um filme agradável, nem é um filme simplista ou banal. É brutal, cínico e perturbador, mas tem momentos de beleza, de formigamento na carne e uma mensagem edificante no final (não que devesse ter), se você perseverar até o fim ou vê-lo mais de uma vez. The Wall juntamente com alguns outros álbuns do Pink Floyd, representam o auge da música Rock.