Dia 150. Michel 130 e DOIS.
Hoje à noite a Julia - minha filha e princesa - teimou em querer dormir comigo. Estava impaciente e cansada, resistindo ao sono mais que o normal, então me candidatei para deitar com ela na rede.
Ela se recostou em meu peito e comecei a cantar baixinho. "Lagarta Pintada", "Ferrugem" do Djavan, "Tigresa" do Caetano...
E "Andrea Doria" da Legião. Mais especificamente, do álbum "Dois", de 1986.
"Dois" é um disco difícil e paradoxal. Uma sonoridade sombria se insinua entre os versos e músicas de Renato Russo, Bonfá, Dado e Renato Rocha. Embora a maioria das composições sejam de Russo, é inegável o papel dos outros músicos da Legião na construção deste álbum que tanto valoriza o tum-dum-dum do baixo - e isso, meus amigos, é lindo de se ouvir. Há uma sombra poderosa que ronda "Dois", e ela reverbera imediatamente com aquilo que é em nós escuro, profundo e verdadeiro. Música para a carne, para o corpo - e o corpo sempre lembra.
Renato Russo testa os limites de sua voz e nos entrega uma poesia verdadeira e intensa. O baixo de Renato Rocha marca presença aqui fortemente, junto com um sintetizador suave e harmonioso. A bateria de Bonfá se mostra um tanto limitada, mas consegue dar conta do trabalho. Em suma: "Dois" é Legião Urbana aplicada direto no coração.
As faixas são todas clássicas e totalmente inseridas nos desejos e no DNA da década de 1980 - mas isso não limita o álbum, mas o enriquece com as promessas. A única que não me encanta é "Eduardo E Mônica", por ter se tornado - em minha opinião - clichê. Não vou me justificar, eu apenas pulo essa e pronto. Meu relacionamento com ela nunca foi muito profundo, e nada me marcou associado a ela.
As top do disco são as mais sombrias. Tenho um carinho especial por "Andrea Doria", "Acrilic On Canvas", "Tempo Perdido" e "Música Urbana 02". "Indios" , "Fábrica", "Quase Sem Querer" e "Daniel Na Cova Dos Leões" entram fácil no meu top 20 da Legião.
Esse videoclipe foi um dos melhores que já vi.
Coloquei um cover do Tiago Irc sim, e daí? Porra, ficou massa...
Percebe-se claramente a luta entre o campo e a cidade, o amor e a solidão, a paz e a guerra, o masculino e o feminino, a luz e a escuridão, a paz e a depressão... Um disco que pode ser ao mesmo tempo desesperado e alegre, oscilando entre o topo e as profundezas, preocupado com a passagem do tempo e o vazio que nos espera adiante...
"Dois" não envelhece. Tenho certeza que meus filhos viverão seus próprios dilemas ao som de "Tempo Perdido" e "Índios" - assim como eu fiz.
Não sou daqueles que renegam a Legião, ou que se irritam quando alguém grita "Toca Raul!". Eu sou grato aos garotos de Brasília e sua vibe. Me perdi e me achei ao som desses caras, e fiquei devastado com a morte do Renato e o fim da Banda.
Mas se o Rei está morto, viva o Rei.
Legião Urbana Vence A Tudo.
Mas, resumindo a história... Julia, minha querida filha, dormiu ao som de Andrea Doria, transformando uma canção triste e rica de lembranças em um agradável momento de paz.
Boa noite a todos.
P.S.: "Nem foi tempo perdido/Somos tão jovens...".
Esse álbum tem a musica que mais gosto do legião - FÁBRICA. Mostra mais uma vez o lado humaníssimo de Renato.
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