Dia 123 - Felipe Pereira 117
Uma das poucas coisas as quais trago até hoje o
arrependimento é de não ter visto Batman Begins no cinema. Pior ainda... Eu vou
contar uma história muito triste pra vocês. Um dia, quando eu tinha 13 anos de
idade, meu irmão chegou pra mim e perguntou: “Felipe, cê quer ir ver o que?
Batman Begins ou Quarteto Fantástico?” Cara... isso não se faz. Garotos de 13
anos de idade são incapazes de tomar decisões desse porte. Pelo menos não
decisões corretas. E é com o coração pesado que eu me lembro de ter escolhido
ver Quarteto Fantástico. Na época eu adorei aquele lixo. Teria dado 5 luas sem
pensar duas vezes. Mas hoje, vendo o que eu deixei de ver na tela grande... Revendo
Batman Begins... Revendo Quarteto Fantástico (aliás, que exercício infeliz é
rever Quarteto Fantástico, que filme pra envelhecer mal! E o segundo então,
caramba... A Jessica Alba tá um trabuco de feia...), eu morro um pouco por
dentro...
Então, hoje, vamos juntar forças e fazer uma análise
sobre toda a trilogia do Sr Chistopher Nolan, A Lenda.
A começar por...
Batman Begins - 2005
Dir: Christopher Nolan.
Elenco: Christian Bale, Michael Caine, Liam Neeson.
Batman Begins,
de 2005, não só zerou o que havia sido feito com Batman nos cinemas, não só deu
início a uma nova franquia, ele resgatou o morcego do fundo do poço, lançou Christian
Bale ao estrelato e alçou Christopher Nolan ao posto de Deus. Aliás, que nome
bacana de se pronunciar, Christopher Nolan...
O filme conta a história de Bruce Wayne, gênio,
milionário, playboy, filantropo, detetive, treinado em mais de cem artes
marciais mortíferas... E como esse jovem ricaço sem rumo na vida se tornou um
ícone de esperança e heroísmo para o povo da cidade mais desgraçada do mundo da
DC Comics (um apontamento: DC é a sigla para Detective Comics. Logo DC Comics
quer dizer Detective Comics Comics???): Gotham. Uma cidade devastada pelo caos
e pelo crime organizada, cheia e dominada por assassinos, traficantes e
cafetões, tudo o que há de ruim e de errado habita em Gotham City, lado a lado
de pessoas que só querem tocar suas vidas e cuidar de suas famílias.
Foi numa noite sombria e úmida em Gotham que o jovem
Bruce Wayne viu seus pais sendo assassinados bem diante de seus olhos por um
ladrão pé de chinelo que tentou roubar as joias de sua mãe. E ao ver, anos
depois, o assassino de seus pais saindo livre da prisão, Bruce decidiu tomar
uma atitude.
Mas antes disso ele rodou o mundo, conheceu lugares que,
do alto de sua torre, ele jamais imaginou existirem, pessoas com quem ele nunca
pensou cruzar, conheceu outros tipos de criminosos, tipos que nem mesmo Gotham
havia contemplado. Conheceu Henri Ducard (Liam Neeson), um homem que foi até
ele quando encontrava-se numa prisão num dos extremos do mundo e o fez uma
proposta: transformá-lo em algo que estava além de seus objetivos para que seus
objetivos pudessem ser cumpridos. Ducard se ofereceu para treinar Bruce para
que ele virasse um membro da Liga das Sombras, uma sociedade secreta de
assassinos treinados que tem como objetivo levar a ordem ao mundo, mesmo contra
sua vontade. Uma sociedade milenar que atuou em momentos chave da humanidade,
como o incêndio de Roma (Sodoma e Gomorra, quem sabe). O objetivo? Basicamente o
mesmo de Bruce: combater o crime e a corrupção, mas com métodos muito mais
efetivos e extremos. Recomeçar tudo do zero.
Batman Begins conta a mesma história contada um milhão de
vezes em filmes, animações e quadrinhos baseados nas aventuras do morcego. Mas
adiciona elementos novos, dramaticidade, se aprofunda no psicológico do homem
por trás da máscara, dá a ele uma motivação mais plausível que apenas punir
aqueles como o assassino de seus pais, dá ares mais universais, transforma-o
num mito, numa entidade como nenhum filme e poucas histórias foram capazes de
fazer.
Os inimigos, quando surgem, são em parte, elementos
narrativos. Ducard, ao revelar seus métodos e sua real identidade, Ra’s Al
Ghul, o imortal, ganha em Bruce/Batman um rival mortal, disposto a todo custo a
combater seu plano de fazer a Gotham o mesmo que foi feito a Roma: queimar tudo
e reiniciar do zero. O Espantalho, Dr Jonathan Crane, é visualmente assustador,
mas nada mais é que um vilão de segunda, um bucha de canhão que retorna em
todos os outros filmes da franquia e sempre se ferra. O outro inimigo é a
própria cidade, insistindo em se afundar mais e mais na própria sujeira e
loucura, apenas no fim contemplando uma luz de esperança...
Os personagens clássicos recebem uma cara nova, uma
importância maior que o usual, James Gordon (Gary Oldman, impecável), até então
não comissário, o mordomo Alfred (Michael Caine dando inicio a uma parceria
inquebrável com Nolan), que é mais que humor cínico e piadas britânicas (ou
humor britânico e piadas cínicas), o armeiro Lucius Fox (Morgan Freeman). E o
surgimento de novos personagens, como o interesse romântico do herói, Rachael
Dawes (Katie Holmes, que estava fazendo tudo, menos atuando e é um dos poucos
problemas do filme).
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The Dark Knight - 2008
Em Batman – O Cavaleiro
das Trevas, de 2008, tudo o que foi feito em 2005 é maximizado em milhões
de vezes, o lado psicológico do herói é explorado ainda mais, a ação, que no
primeiro já era frenética, quadruplica, Batman é tratado pela população de
Gotham e por seus criminosos como algo místico, uma entidade superior de outra
dimensão. Algo tão palpável quanto a teoria de Elvis ainda estar vivo. E ele
inspira a população, de um jeito um tanto errado e equivocado, mas inspira. Caras
com fantasia de Batman saem na rua afim de bater de frente com a máfia, que vai
ganhando mais e mais espaço e poder. Sujeitos armados, dispostos a matar em
nome do herói... Exatamente como na HQ de Frank Miller. E eis que, no meio disso
tudo, surge uma força imparável que vai de encontro a um objeto imóvel: O
Coringa, o mais brilhante e genial psicopata do século XXI até então. E toda
aquela questão de profundidade psicológica simplesmente não se aplica a ele por
que ele seria capaz de enlouquecer qualquer um que se dispusesse a analisá-lo.
O Coringa surge destruindo tudo, espalhando o caos e disseminando o medo e a
dúvida. Aqui o vilão não é mais um elemento de roteiro, ele é quase um
protagonista! Heath Ledger atinge o ponto máximo e jamais novamente atingível
ponto de sua carreira antes de ter uma morte trágica e até hoje lamentada.
O Coringa e O Batman são duas forças totalmente opostas,
duas forças implacáveis em rota de colisão. Batman com seu objetivo
de salvar a cidade da destruição e o Coringa com objetivo nenhum. Um cão
correndo atrás de um carro... Ele só quer destruir, causar dor e corromper. Aqui
conhecemos Harvey Dent, um promotor de justiça honesto e verdadeiro que tem um
relacionamento amoroso com Rachael (Maggie Gyllenhaal, substituindo Katie
Holmes) a amada de Bruce e que cruza o caminho do Coringa de uma forma trágica
e irreversível. O Coringa não só mata Rachael, mas ele faz questão de destruir
Harvey e transformá-lo no monstro que ele tanto se empenhava em combater: um
criminoso. O Duas Caras.
The Dark Knight fez ainda mais pelo morcego.
Fez também pelo cinema. Depois desse filme, durante um
longo período (que ainda dura, aliás), todo filme de herói tinha de ser
realista, sombrio e dramático. O que nos rendeu o Homem-Aranha mais insosso da
história...
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The Dark Knight Rises - 2012
Dir: Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Gary Oldman, Tom Hardy
Então chega Batman – O
Cavaleiro das Trevas Ressurge em 2012. Enquanto TDK foi uma unanimidade,
TDKR dividiu opiniões. Mesmo eu fico dividido em certos pontos do filme. Há
falhas estúpidas no roteiro, dá até dor de falar... Mas eu não consigo desgostar
do filme, continuo achando incrível. Pra mim seu principal problema foi o seu
capítulo anterior. O filme anterior é inacreditável, insuperável eu diria. Ser
melhor que TDK é uma missão impossível. Ainda mais sem o Ledger, sem o
Coringa... Que inimigo depois do Palhaço do Crime poderia assustar mais?
A aposta foi Bane (Tom Hardy), um sujeito criado para um momento
extremamente específico das HQs do morcego. Uma montanha de músculos que nutria
um ódio inacreditável pelo herói sem aparente razão alguma. Para ele Batman é
um colosso a ser derrubado, apenas isso. Para ele nenhum homem deveria
conquistar tanto poder... Apenas ele. E ele chega em Gotham oito anos depois
dos acontecimentos narrados na última vez que revimos o herói. Batman está
velho e aposentado, Gotham está em paz, não precisa mais de heróis. Todos os
criminosos estão atrás das grades e a cidade prospera... Isso não dura. Bane
chega e põe tudo abaixo. Diferente do Coringa, Bane tem um plano traçado, tem
uma estratégia infalível e tem meios para pôr em prática. Ele chega e Batman
está fora de ação e de forma, ossos quebrados, músculos desfiados, andando de
bengala, ninguém o vê e ele não sai de casa há oito anos. As pessoas inventam
histórias sobre Bruce Wayne, ele acaba virando uma daquelas lendas regionais
que as pessoas contam para assustar os filhos... E quando o inimigo, um membro renegado da Liga das Sombras, atraca, o herói precisa voltar à ação...
E o embate entre eles não poderia ser mais desastroso.
Bane destrói o Batman de todas as formas, física e mentalmente e o manda para
uma prisão no meio do nada, para morrer.
E ele renasce, ou melhor... Ressurge.
“Batman - Ressurge” tem suas falhas, tem suas
conveniências descabidas de roteiro e exige um nível violentíssimo de suspensão
de descrença, mas não é nem de longe inferior a nenhum outro da trilogia. Por
uma razão simples: ele não é só verniz, é invenção. Não é só pancadaria, tem
algo por baixo daquilo, tem uma filosofia, respeita uma mitologia e cria novas.
Adiciona ao que já foi contado, dá novos rumos e cria possibilidades antes
impensáveis! E o melhor de tudo: faz do jeito certo. O mesmo foi feito em
Superman – O Retorno e acabou terrivelmente mal... Mas aqui... Aqui é outra
coisa, meu irmão... Aqui é o fechamento de uma das maiores sagas da história do
cinema, aqui você vai ter que fazer vista grossa pra algumas coisas? Sim, mas
vai valer a pena. Batman – TDKR é o mais próximo das HQs dos três filmes,
visualmente, falando, conceitualmente falando... Tem cenas inteiras tiradas da
história do Frank Miller, quadros copiados de A Queda do Morcego, aparatos que
não davam as caras nas partes anteriores aqui surgem... O Morcego, aquela
geringonça assustadora que passa voando entre prédios, inspira mais medo que
qualquer outra coisa...
Aqui vemos o ressurgir e o partir de um herói...
E seu final não poderia ser mais digno.
No fim das contas, o que podemos fazer é enxugar a cara,
aceitar que acabou (ou não) e dizer:
Muito obrigado Christopher Nolan (e companhia). E Hans
Zimmer, não esqueçamos desse “pequeno” detalhe.
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Postagem gigante e excelente! Parabéns friend!!!
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