Eu tenho um problema grave para ler livros. Pra mim não
basta ter a vontade de ler, não basta ter em mãos um livro excelente de um
autor que eu gosto muito... Eu também preciso da trilha sonora perfeita que
represente bem o que está escrito naquelas páginas e que dê um ritmo à
história. O Pacto, por exemplo, (falei dele uns dias atrás) eu li ao som de
Back In Black, o disco do Ac/Dc e funcionou muito bem, encaixou perfeitamente
no contexto.
O que aconteceu com o livro O Príncipe da
Névoa, do espanhol Carlos Ruiz Zafón,
foi uma situação angustiante e desesperadora. Eu tinha um livro muito bom em
mãos, com uma história que prende o leitor e eu queria ler demais e que a cada
página que eu virava, prendia mais minha atenção. Mas eu não tinha uma trilha
sonora que se encaixasse a ele, então eu não tinha ritmo de leitura, não tinha
foco e não tinha paciência. Alguém me dê o diagnóstico e me receite um remédio,
por favor.
Fato que me fez levar quase um mês e meio pra ler um
livro com menos de 200 páginas. Até o momento que eu finalmente encontrei algo
que me deu ritmo de leitura e o livro se foi das minhas mãos em 3 dias. O que
eu ainda acho muito, para algo tão curto. E o pior: uma música só! Imagine
passar algumas horas do seu dia (eu lia dentro do ônibus, indo e voltando do
trabalho) ouvindo a mesma música sem parar, sem trocar...
Enfim...
O livro, O Príncipe da Névoa, conta a história de uma
família que, durante a Segunda Guerra Mundial, decide abandonar a cidade onde
vive e se mudar para um povoado de pescadores a fim de fugir da loucura e da
violência, quase que totalmente a contragosto. Dos cinco membros, o único que
parecia realmente empolgado com a mudança era Maximilian Carver, o patriarca. O
resto da família ainda reluta, não quer sair da cidade, abandonar amigos, essas
coisas. E então eles conhecem a casa nova: um casarão antigo e castigado pela
maresia num dos pontos mais altos do lugar. Logo de cara o pai chega e conta
uma história que ele ouviu sobre um casal que construiu a casa anos atrás e tiveram
um filho nela, sendo que eles não podiam ter filhos, só para que anos depois o
garoto morresse afogado e o casal caísse numa depressão desgraçada e ninguém
nunca mais ouvisse falar deles. E, óbvio, fica aquele climão desgraçado na
família por que o pai sem noção provavelmente acabou com qualquer possibilidade
de os outros aceitarem aquele mausoléu como um lar.
O protagonista de PdN é Max, o filho do meio de
Maximilian, garoto de uns doze anos que acaba por se empolgar com a coisa da
casa nova e decide explorar a propriedade, que é gigantesca, e a cada novo
passo que dá descobre coisas mais sinistras. A mais assustadora delas é um
jardim que fica nos fundos da propriedade, cheio de estátuas de mármore de
artistas de circo, posicionadas de modo a fazer uma estrela de seis pontas
dentro de um círculo e, no meio, um palhaço sinistraço que parece se mover
conforme se desvie o olhar. Negócio bisonho. O que só se torna mais sinistro
quando o pai de Max encontra uma caixa de vídeos caseiros da antiga família que
morava na casa e os vídeos mostram o jardim numa configuração totalmente
diferente.
Depois de uma experiência nada agradável com os vídeos da
família, o patriarca decide que aquilo não é exatamente uma sessão da tarde e
decide se livrar dos vídeos. Nos dias seguintes a vida corre normalmente, a
família acaba conhecendo e se enturmando com a nova vizinhança e Max acaba por
fazer um amigo inesperado que se oferece para ser seu guia da ilha: seu nome é
Rolland, um jovem poucos anos mais velho que Max, velho apenas o suficiente
para se sentir apreensivo em ser chamado para lutar na guerra que está
acontecendo naquele momento. O avô de Rolland é um senhor de idade que mora num
farol há mais de vinte anos e cuida dele depois que seus pais morreram num
acidente de carro.
Rolland dá uma leve pincelada na história da ilha e da
família que vivia na casa antes dos Carver, o que acaba ligando fatos
históricos a alguns acontecimentos estranhos que ocorreram nos últimos dias e,
finalmente, envolvem na trama o avô do garoto, o velho faroleiro.
E nesse ponto as coisas começam a acontecer.
E quando a irmã mais nova de Max sofre um misterioso
acidente e entra em coma, o homem decide contar a história do que realmente
aconteceu à família... E fala também do Príncipe da Névoa, um mago antigo e
imortal, uma entidade sinistra e demoníaca, que atormenta sua vida e amaldiçoa
a todos que se aproximam, fazendo promessas, realizando pedidos e cobrando
preços mortais por eles.
O Príncipe da Névoa é a primeira parte de uma trilogia
escrita por Zafón sendo que os outros dois volumes não possuem ligação imediata
com o primeiro. Nesse volume Zafón atribui à narrativa um clima cinematográfico
e assustador em certos momentos, conferindo a outros uma leitura prazerosa e,
em outros ainda, uma injeção de adrenalina. Não se aprofunda demais em
descrições, nem físicas nem psicológicas, de seus personagens, deixando uma
brecha para o leitor imaginá-los como bem entender e descrevendo sua
personalidade através de seus atos. Algo que funciona muito bem, por que você
acaba por se empolgar bastante com cada um deles. Mesmo assim, em alguns
momentos, como no desfecho, falta um pouco de profundidade, talvez até de
exagero, de drama mesmo.
O Príncipe da Névoa é uma leitura rápida (a menos que
você seja um neurótico esquizofrênico que não saiba ler sem ouvir música) e não
totalmente despretensiosa, com um final inevitável e um tanto pessimista. Opta
por um horror mais psicológico que visual, o que é excelente nesse caso, e prende
o leitor do início ao fim.
E se quer saber qual música serviu de acompanhamento para minha leitura, vou logo dizendo: ela não lembra o livro em nada, talvez, no máximo, pela menção à guerra, mas tem que forçar muito pra perceber...
E se quer saber qual música serviu de acompanhamento para minha leitura, vou logo dizendo: ela não lembra o livro em nada, talvez, no máximo, pela menção à guerra, mas tem que forçar muito pra perceber...
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Até daqui a pouco.
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