quinta-feira, abril 11, 2013

Spartacus, War of the Damned - Episódio 09, por Assis Oliveira




Lutar com as mesmas armas do seu inimigo, pode ser incrivelmente estúpido.

Os Romanos sempre foram horríveis com seu prazer mórbido pela morte e o sofrimento, mas não eram apenas Romanos na assistência dos chamados “Jogos Mortais” espelhando a morte e a carnificina nas arenas romanas. Eram escravos também. O mesmo prazer animal com a mutilação, o mesmo tesão pelo flagelo o mesmo impulso de afirmar poder pela força. E eis que isso fica patente, quando os escravos, neste episódio de Spartacus organizam seus próprios “jogos”, para contemplarem o publico com uma grande verdade: Lutar com as mesmas armas, pode ser incrivelmente estupido.

Não é fácil sofrer sem um correspondente desejo de vingança que o alivie. Ainda que na hora do sofrimento que nos é imposto pensemos no demagógico discurso politico do “dê a outra face”, sofrimento sem a equivalente justiça, sem motivação e por um longo tempo, costuma gerar cidadãos sedentos por retaliação.
Os governos escravocratas sempre precisaram lidar com a erupção de revoltas não por acaso. Ainda que a escravidão fosse implícita, como na época da Revolução Francesa, quando ser pobre era mesmo que ser lixo. Oprimir o povo é a forma mais eficiente de fazer nascer nele o desejo de liberdade. E a tal liberdade é como uma força vital, tomando o corpo aos poucos, mas de modo completo, até o momento em que se fica impossível conter a ebulição.
Desde a primeira temporada de Spartacus que lidamos com as fundações desse conceito e com a necessidade de vingança do grupo de fugitivos. Só agora, na terceira e ultima temporada, é que estamos vivendo a plenitude da vontade filantrópica. Tudo que Spartacus deseja agora e fugir para garantir a sobrevivência dos que o segue, enquanto tudo que alguns escravos querem, é fazer seus senhores sentirem a mesma dor que lhes consumia.
Cheguei a pensar que a morte de Crixus depois do ultimo episódio, pudesse comprometer a qualidade dos últimos. Mas me enganei. Os roteiristas da serie parecem que não estão de brincadeira, e nos brindaram com uma quantidade impressionante de reviravoltas, preparando o terreno para a batalha final. Para não haver duvida, a narrativa de Plutarco aparece no seu ato derradeiro, com a chegada de Pompeu, aquele que resolveu a guerra e ficou com todos os louros, que eram de Crassus.

Naevia
O retorno de Naevia ao acampamento dos fugitivos com a cabeça de Crixus, foi emblemática: Naevia nunca foi capaz de proteger seu amado dele mesmo... o corpo que ela explorou, ficou pelo caminho... A cabeça que ela fez em fel, trouxe consigo.
Como antecipado por nós, Caesar, foi atrás de sua vigança. Ele subestimou Tiberius e se deu mal. Tiberius o subestimou, e antecipou sua ruína. Foi uma sacada genial fazer com que o menino fosse capturado, e pincipalmente apresenta-lo como atração principal daqueles jogos sangrentos. Os jogos serviram para mostrar a plenitude física de Spartacus. Serviu para vermos Gannicus brincando de gladiador e matando as saudades das areias da arena, serviu para muitas mortes e para um grande clímax. Um clímax que enfim, não veio. A barganha com Crassus foi justa, mas custou a hora certa de eliminar Tiberius. O fim do menino acabou ficando opaco, fosco, abafado no meio de um entreato. Ainda que isso não tenha diminuído o valor da narrativa.
Acho que todos aqui já sabem, mas 6000 sobreviventes da última batalha (seis mil que foram considerados a “minoria” do contingente do trácio) foram crucificados por Crassus em toda a Via Ápia (o trajeto de muitos quilômetros entre Cápua e a capital romana). Então, como souvenir histórico, os roteiristas resolvem mostrar como Crassus teve a ideia de executar tamanho absurdo. Para isso, uma sequência brutal onde Agron sofre os horrores dessa prática.
Foi uma atitude inteligente… Com dois episódios pra frente, não precisavam mesmo matar dois trunfos de uma vez só. Além disso, deram uma virada boa na história e ainda nos presentearam com a cena da crucificação, que já entra para a galeria de melhores e mais impactantes sequencias da série. Mais impactante que isso, só a emoção quanto ele volta para o acampamento e reencontra  Nassir. Sabemos que é por pouco tempo, mas foi muito bom mesmo assim.
Naevia e Nassir

É impressionante a segurança dramatúrgica que se demonstra nesta serie, esperando até o penúltimo episódio para lidar com a grande questão dessa temporada: Essa não é uma guerra inútil apenas porque Roma é maior que qualquer rebelião. Essa é uma guerra estúpida porque desafia as bases de uma sociedade sem perspectiva de reavaliação. Não há para onde crescer. Esse não é um sistema que permite superações. E na ótima cena com Laeta, Spartacus diz muito bem que na época de Batiatus, eles sabiam “o que deviam fazer”, tinham um lugar, um propósito. Escravos nunca serão senhores reconhecidos pelas ordens cotidianas… Esse é um lugar e um papel inalcançável. Talvez até haja como um romano virar um escravo (Laeta a ex romana caída em desgraça gritando, tímida, o nome de Crixus, foi bonito), mas até essa estrada é discutível.
Pensando assim, fica mais fácil entender o raciocínio de Crixus quando se separou dos outros. No próximo episódio, veremos a dura confirmação desses aspectos. E por mais que o roteiro floreie os resultados, a verdade maior perdurará por muito tempo. A Roma de Spartacus é até anterior ao Império, quando Caesar deu um chute no Senado e governou como quis. Para a sociedade romana, a rebelião do trácio foi um quebra-molas totalmente superável. O que sobra? A celebração de um momento. Essa série sabe disso e então, tivemos o privilégio de terminar essa semana com aquela sequência de lembranças dos mortos de outrora.
Está chegando, senhores… Agora só falta um.

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