Lutar com as mesmas armas do seu inimigo, pode
ser incrivelmente estúpido.
Os Romanos sempre foram horríveis com seu prazer
mórbido pela morte e o sofrimento, mas não eram apenas Romanos na assistência
dos chamados “Jogos Mortais” espelhando a morte e a carnificina nas arenas
romanas. Eram escravos também. O mesmo prazer animal com a mutilação, o mesmo
tesão pelo flagelo o mesmo impulso de afirmar poder pela força. E eis que isso
fica patente, quando os escravos, neste episódio de Spartacus organizam seus
próprios “jogos”, para contemplarem o publico com uma grande verdade: Lutar com
as mesmas armas, pode ser incrivelmente estupido.
Não é fácil sofrer sem um correspondente desejo
de vingança que o alivie. Ainda que na hora do sofrimento que nos é imposto
pensemos no demagógico discurso politico do “dê a outra face”, sofrimento sem a
equivalente justiça, sem motivação e por um longo tempo, costuma gerar cidadãos
sedentos por retaliação.
Os governos escravocratas sempre precisaram lidar
com a erupção de revoltas não por acaso. Ainda que a escravidão fosse
implícita, como na época da Revolução Francesa, quando ser pobre era mesmo que
ser lixo. Oprimir o povo é a forma mais eficiente de fazer nascer nele o desejo
de liberdade. E a tal liberdade é como uma força vital, tomando o corpo aos
poucos, mas de modo completo, até o momento em que se fica impossível conter a
ebulição.
Desde a primeira temporada de Spartacus que
lidamos com as fundações desse conceito e com a necessidade de vingança do
grupo de fugitivos. Só agora, na terceira e ultima temporada, é que estamos
vivendo a plenitude da vontade filantrópica. Tudo que Spartacus deseja agora e
fugir para garantir a sobrevivência dos que o segue, enquanto tudo que alguns
escravos querem, é fazer seus senhores sentirem a mesma dor que lhes consumia.
Cheguei a pensar que a morte de Crixus
depois do ultimo episódio, pudesse comprometer a qualidade dos últimos. Mas me
enganei. Os roteiristas da serie parecem que não estão de brincadeira, e nos
brindaram com uma quantidade impressionante de reviravoltas, preparando o
terreno para a batalha final. Para não haver duvida, a narrativa de Plutarco
aparece no seu ato derradeiro, com a chegada de Pompeu, aquele que resolveu a guerra e ficou
com todos os louros, que eram de Crassus.
Naevia |
O retorno de Naevia ao acampamento dos fugitivos
com a cabeça de Crixus, foi emblemática: Naevia nunca foi capaz de proteger seu
amado dele mesmo... o corpo que ela explorou, ficou pelo caminho... A cabeça
que ela fez em fel, trouxe consigo.
Como antecipado por nós, Caesar, foi atrás de sua
vigança. Ele subestimou Tiberius e se deu mal. Tiberius o
subestimou, e antecipou sua ruína. Foi uma sacada genial fazer com que o menino
fosse capturado, e pincipalmente apresenta-lo como atração principal daqueles
jogos sangrentos. Os jogos serviram para mostrar a plenitude física de
Spartacus. Serviu para vermos Gannicus brincando de gladiador e
matando as saudades das areias da arena, serviu para muitas mortes e para um
grande clímax. Um clímax que enfim, não veio. A barganha com Crassus foi justa,
mas custou a hora certa de eliminar Tiberius.
O fim do menino acabou ficando opaco, fosco, abafado no meio de um entreato.
Ainda que isso não tenha diminuído o valor da narrativa.
Acho que todos aqui já sabem, mas 6000
sobreviventes da última batalha (seis mil que foram considerados a “minoria” do
contingente do trácio) foram crucificados por Crassus em toda a Via Ápia (o
trajeto de muitos quilômetros entre Cápua e a capital romana). Então, como
souvenir histórico, os roteiristas resolvem mostrar como Crassus teve a ideia
de executar tamanho absurdo. Para isso, uma sequência brutal onde
Agron sofre os horrores dessa prática.
Foi uma atitude inteligente… Com dois episódios
pra frente, não precisavam mesmo matar dois trunfos de uma vez só. Além disso,
deram uma virada boa na história e ainda nos presentearam com a cena da
crucificação, que já entra para a galeria de melhores e mais impactantes
sequencias da série. Mais impactante que isso, só a emoção quanto ele volta
para o acampamento e reencontra Nassir.
Sabemos que é por pouco tempo, mas foi muito bom mesmo assim.
Naevia e Nassir |
É impressionante a segurança dramatúrgica que se
demonstra nesta serie, esperando até o penúltimo episódio para lidar com a
grande questão dessa temporada: Essa não é uma guerra inútil apenas porque Roma
é maior que qualquer rebelião. Essa é uma guerra estúpida porque desafia as
bases de uma sociedade sem perspectiva de reavaliação. Não há para onde
crescer. Esse não é um sistema que permite superações. E na ótima cena com Laeta,
Spartacus diz muito bem que na época de Batiatus,
eles sabiam “o que deviam fazer”, tinham um lugar, um propósito. Escravos nunca
serão senhores reconhecidos pelas ordens cotidianas… Esse é um lugar e um papel
inalcançável. Talvez até haja como um romano virar um escravo (Laeta a ex
romana caída em desgraça gritando, tímida, o nome de Crixus, foi bonito), mas
até essa estrada é discutível.
Pensando assim, fica mais fácil entender o
raciocínio de Crixus quando se separou dos outros. No próximo episódio, veremos
a dura confirmação desses aspectos. E por mais que o roteiro floreie os
resultados, a verdade maior perdurará por muito tempo. A Roma de Spartacus é
até anterior ao Império, quando Caesar deu um chute no Senado e governou como
quis. Para a sociedade romana, a rebelião do trácio foi um quebra-molas
totalmente superável. O que sobra? A celebração de um momento. Essa série sabe
disso e então, tivemos o privilégio de terminar essa semana com aquela
sequência de lembranças dos mortos de outrora.
Está chegando, senhores… Agora só falta um.
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