SPARTACUS, A GUERRA DOS
CONDENADOS, se aproxima do fim. Faltam apenas mais dois episódios, mas
poucas séries entre as que já vi deixará tanta vontade de não acabar para min.
Qual a melhor maneira de destruir
um inimigo bem motivado para guerra? Não é necessário ser o melhor dos
estrategistas pra saber: Dividindo-os. As coisas carregam em si mesmo a sua
vitalidade e a sua fraqueza, aprenda isso e é provável que aceite melhor a vida
e suas contradições. O que nos torna forte também é o motivo de nossa fraqueza.
O grupo de revoltosos e escravos de Spartacus tem nele também essas
contradições. A diferença aqui é que quem promove a divisão que prenuncia o fim
dos revoltosos não são seus inimigos Romanos, mas sim ela mesma. Seus maiores
protagonistas, e seu líder que abandonou a postura de vingança pela perda da
mulher amada, e começa a filosofar sobre o valor da liberdade. Enquanto o grupo
era apenas de guerreiro a coisa era fácil, mas agora que ele se torna mais e
mais heterogêneo, com pessoas comuns que querem apenas sobreviver aquele horror
imposto pelos Romanos, seu líder vacila e as contradições pessoais de seus principais
condutores surgem.
Crixus, é o que sobrou da
ética guerreira que mais tarde encontraremos entre o os Espartanos, aqueles
para quem uma vida sem lutar não e digna de ser vivida. As profecias se
cumpriram, e a narrativa de Plutarco sobre
a rebelião serviu realmente como ponto de partida para resoluções que vimos
neste devastador oitavo episódio. Ainda que a jornada de Crixus para Roma seja um mito dentro da narrativa histórica, ela
faz todo sentido se pensarmos em tudo que já vinha acontecendo desde o começo
desta ultima temporada.
“Separate Paths” Caminhos
separados é um ponto de ruptura não apenas do grupo, mas de sua principal
força. A separação da ética guerreira e da força, simbolizada por Crixus, e da
humanidade libertária de Spartacus. Mas é também uma busca pela consolidação de
um ideal. O que separa Crixus e Spartacus, na verdade é uma divergência de
objetivos práticos. Não podemos perder de vista o fato de que Spartacus tinha
uma vida racional antes de atravessar no caminho dos Romanos, ele representa certa
dose de racionalidade que sempre foi importante para suas vitorias. Crixus é só
instinto, e como toda pessoa que é apenas instinto, ele tem fé. Crixus não
acredita no valor simbólico das coisas.
Mas essa guerra não é uma guerra
de fé. E assim sendo, Spartacus acerta, e ele não. O mundo do gaulês Crixus não
é o da conformidade, é o do confronto. Um mundo para quem as coisas só se
resolvem pela luta, especialmente num cenário ameaçador como o imposto pelos
Romanos. A obsessão quase religiosa de Crixus, não leva em conta nem mesmo a
possibilidade de vitória contra seus perseguidores, ela é apenas sua epifania
pessoal de viver ou morrer lutando.
Para fazer justiça a Spartacus
devo dizer que ele não é simplesmente um conformista. Ele é alguém que pensa
coletiva e humanamente. Ele encarna o símbolo daqueles que só admitem o
sacrifício em nome de um bem maior, aqueles que fazem a diferença e que não
esgotam sua capacidade de agir nem mesmo depois que as armas se calam. Entendem
que o combate é apenas uma fase do dialogo que tem que continuar depois, para o
bem daqueles que por alguma razão não sabem pegar ou não desejam as armas.
A consumação está preparada. Como
uma série sobre sangue, suor e vísceras pode conseguir ser tão emocional ao
mesmo tempo? E sem fazer força ou parecer piegas? Por que trata de um tema
universal: liberdade. Algo que nos é tão caro e que para alguns ainda não é
real.
O maior vilão dessa temporada
parecia ser Caesar, sim o futuro Imperador, ou pelo menos um deles, aquele
que inaugurou a tradição e que teve o nome tornado titulo de futuros
imperadores de Roma. Talvez por isso a cena de violação de Caesar por Tiberius tenha
sido tão chocante. Tiberius, o
subestimado e vacilante jovem escolheu o menos nobre caminho da vingança nas
sombras para provar ao pai, Pretor de Roma, que havia amadurecido e ganhar o
direito de liderar uma legião. Caesar encarna algo tão grandioso, um símbolo de
poder tão completo que não posso deixar de pensar que ele terá sua vingança
contra o garoto, Caesar é tão perturbado emocionalmente, tão doente que nem
posso imaginar como ela se dará. A cena seguinte com Caesar a pé à frente das
tropas, lambendo suas feridas diante do estranho riso de satisfação de Tiberius
é tão perturbadora até mesmo para alguém que tenha odiado Caesar.
Enfim... Spartacus atravessa a
montanha e tudo que o motiva não é a aparente covardia do confronto, é a sábia
certeza que até mesmo para a ousadia existe um limite.
O mais importante, no fim das
contas, é que nós também precisamos começar a nos entender e a entender o plano
maior. Esse não é o momento de pedir por tangentes históricas que poupem os
personagens. Spartacus sempre foi uma série corajosa… É por
isso que a amamos. Precisamos ser igualmente valentes, e sentar em frente à TV
com honra e bravura, sabendo que os golpes de espada, a dor e a derrota virão,
mas cientes de que por três temporadas e um prelúdio, vimos uma das histórias
mais coesas e belas aconteceram para nosso amor e privilégio.
Está acabando para eles e para
nós… Eu nem sabia que isso ia fazer tanta diferença pra mim.
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