quarta-feira, abril 10, 2013

Spartacus, A Guerra dos Condenados, por Assis Oliveira

Temo pelo fim das coisas que gosto, insisto em não me separar delas mesmo sabendo que para tudo há um fim, é o mundo. É a natureza.
SPARTACUS, A GUERRA DOS CONDENADOS, se aproxima do fim. Faltam apenas mais dois episódios, mas poucas séries entre as que já vi deixará tanta vontade de não acabar para min.
Qual a melhor maneira de destruir um inimigo bem motivado para guerra? Não é necessário ser o melhor dos estrategistas pra saber: Dividindo-os. As coisas carregam em si mesmo a sua vitalidade e a sua fraqueza, aprenda isso e é provável que aceite melhor a vida e suas contradições. O que nos torna forte também é o motivo de nossa fraqueza. O grupo de revoltosos e escravos de Spartacus tem nele também essas contradições. A diferença aqui é que quem promove a divisão que prenuncia o fim dos revoltosos não são seus inimigos Romanos, mas sim ela mesma. Seus maiores protagonistas, e seu líder que abandonou a postura de vingança pela perda da mulher amada, e começa a filosofar sobre o valor da liberdade. Enquanto o grupo era apenas de guerreiro a coisa era fácil, mas agora que ele se torna mais e mais heterogêneo, com pessoas comuns que querem apenas sobreviver aquele horror imposto pelos Romanos, seu líder vacila e as contradições pessoais de seus principais condutores surgem.
Crixus, é o que sobrou da ética guerreira que mais tarde encontraremos entre o os Espartanos, aqueles para quem uma vida sem lutar não e digna de ser vivida. As profecias se cumpriram, e a narrativa de Plutarco sobre a rebelião serviu realmente como ponto de partida para resoluções que vimos neste devastador oitavo episódio. Ainda que a jornada de Crixus para Roma seja um mito dentro da narrativa histórica, ela faz todo sentido se pensarmos em tudo que já vinha acontecendo desde o começo desta ultima temporada.

Separate Paths” Caminhos separados é um ponto de ruptura não apenas do grupo, mas de sua principal força. A separação da ética guerreira e da força, simbolizada por Crixus, e da humanidade libertária de Spartacus. Mas é também uma busca pela consolidação de um ideal. O que separa Crixus e Spartacus, na verdade é uma divergência de objetivos práticos. Não podemos perder de vista o fato de que Spartacus tinha uma vida racional antes de atravessar no caminho dos Romanos, ele representa certa dose de racionalidade que sempre foi importante para suas vitorias. Crixus é só instinto, e como toda pessoa que é apenas instinto, ele tem fé. Crixus não acredita no valor simbólico das coisas.
Mas essa guerra não é uma guerra de fé. E assim sendo, Spartacus acerta, e ele não. O mundo do gaulês Crixus não é o da conformidade, é o do confronto. Um mundo para quem as coisas só se resolvem pela luta, especialmente num cenário ameaçador como o imposto pelos Romanos. A obsessão quase religiosa de Crixus, não leva em conta nem mesmo a possibilidade de vitória contra seus perseguidores, ela é apenas sua epifania pessoal de viver ou morrer lutando.
Para fazer justiça a Spartacus devo dizer que ele não é simplesmente um conformista. Ele é alguém que pensa coletiva e humanamente. Ele encarna o símbolo daqueles que só admitem o sacrifício em nome de um bem maior, aqueles que fazem a diferença e que não esgotam sua capacidade de agir nem mesmo depois que as armas se calam. Entendem que o combate é apenas uma fase do dialogo que tem que continuar depois, para o bem daqueles que por alguma razão não sabem pegar ou não desejam as armas.
A consumação está preparada. Como uma série sobre sangue, suor e vísceras pode conseguir ser tão emocional ao mesmo tempo? E sem fazer força ou parecer piegas? Por que trata de um tema universal: liberdade. Algo que nos é tão caro e que para alguns ainda não é real.
O maior vilão dessa temporada parecia ser Caesar, sim o futuro Imperador, ou pelo menos um deles, aquele que inaugurou a tradição e que teve o nome tornado titulo de futuros imperadores de Roma. Talvez por isso a cena de violação de Caesar por Tiberius tenha sido tão chocante. Tiberius, o subestimado e vacilante jovem escolheu o menos nobre caminho da vingança nas sombras para provar ao pai, Pretor de Roma, que havia amadurecido e ganhar o direito de liderar uma legião. Caesar encarna algo tão grandioso, um símbolo de poder tão completo que não posso deixar de pensar que ele terá sua vingança contra o garoto, Caesar é tão perturbado emocionalmente, tão doente que nem posso imaginar como ela se dará. A cena seguinte com Caesar a pé à frente das tropas, lambendo suas feridas diante do estranho riso de satisfação de Tiberius é tão perturbadora até mesmo para alguém que tenha odiado Caesar.
Enfim... Spartacus atravessa a montanha e tudo que o motiva não é a aparente covardia do confronto, é a sábia certeza que até mesmo para a ousadia existe um limite.
O mais importante, no fim das contas, é que nós também precisamos começar a nos entender e a entender o plano maior. Esse não é o momento de pedir por tangentes históricas que poupem os personagens. Spartacus sempre foi uma série corajosa… É por isso que a amamos. Precisamos ser igualmente valentes, e sentar em frente à TV com honra e bravura, sabendo que os golpes de espada, a dor e a derrota virão, mas cientes de que por três temporadas e um prelúdio, vimos uma das histórias mais coesas e belas aconteceram para nosso amor e privilégio.
Está acabando para eles e para nós… Eu nem sabia que isso ia fazer tanta diferença pra mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!