O campo de batalha é um cemitério involuntário, e seu
objetivo único é a morte. Pode haver poesia e tratado sobre o quanto a GUERRA “enriquece” e “enobrece” o homem,
MAS SEU ÚNICO FIM É A MORTE.
A ironia é que o rastro da morte, nesse caso, resulta na
invocação da maior ambição do guerreiro: a VITÓRIA.
Não vimos nenhum êxito. Tudo que veio antes do final de SPARTACUS
foram momentos de queda, de infortúnio, de imolação. Tudo que vimos nesta
derradeira semana foi a reafirmação do nome Spartacus. Além desse nome, um período
importante para registro histórico, mas que nunca conseguiu alcançar objetivos
imediatos. Considerando o tempo que levou para a queda do Império Romano, não
houve alcance de objetivos nem a longo prazo. Por isso a iminência da batalha
também era a iminência da morte e saber que os escritores da série entenderam
bem isso, é crucial para compreender a verdadeira grandiosidade dessa
despedida.
Ser fã de Spartacus, a série quer dizer viver uma experiência
nem sempre compartilhada por fãs de outros programas: a experiência da
qualidade absoluta.
O homem que desafiou um Império, mas nunca saberemos se viveu
sua própria história de maneira tão lúdica. Pensar no trácio da vida real, que
há muitos anos atrás, esteve em algum lugar das terras italianas, colhendo
seguidores em busca do sentido da liberdade. Ele teria ficado feliz com as
tintas usada na pintura de sua existência... e que desenharam um quadro
desbravador e irônico: A glória descrita no final de Spartacus é curiosa e intrigante. É a glória da derrota
Houve a oportunidade de cada um externar o líder rebelde que
havia dentro de si, como parte da estratégia de despistar Pompeu ao atacar as vilas. Cada um a gritar em alto brado “Eu sou
Spartacus!” foi simbólico. O povo é como Spartacus ou uma rebelião de tão
grandes proporções não seria possível. E Spartacus ao mesmo tempo, precisa
atender às expectativas de uma massa que jamais seguiria um homem comum. O trácio
foi quem foi, porque indiretamente, endeusou-se, aproveitando as coincidências
para reforçar sua imagem de semideus.
Imagino que todo soldado que está no campo de batalha, se
pergunta como será seu final, quando ele vier. Essas são pessoas que estão
sempre na linha limítrofe da vida e da morte, e todos os dias podem ser
potencialmente os últimos. Para nós, diante daquela imagem panorâmica dos dois
grupos frente a frente, a sensação era pior, porque nós sabíamos que eles iam
morrer. Por isso, a cada golpe de espada, a angústia e a agonia compartilhadas…
E como esperávamos, eles começaram a cair, um por um.
O primeiro a cair foi Lugo,
queimado. Castus que queria ser Agron, em seguida. Saxa teve seu momento, até que só sobraram aqueles que mais nos
fariam tremer
Foi uma batalha épica. Da manobra linda de Spartacus,
dando um olé estratégico em Crassus, até os momentos finais, quando
acompanhamos pasmos, o processo lento e terrível do lado rebelde diminuindo e
sendo cercado, calmamente, pelos inimigos rastejantes. E Gannicus,
que foi interpretado por muitos de nós como aquele que talvez sobrevivesse à
guerra, acaba por protagonizar um dos momentos mais sufocantes dessa finale:
a chegada de Caesar, triunfante, após a morte brutal de Naevia,
saboreando o cerco ao gladiador, vendo a elegância de seus métodos sendo transformados
em desespero, com golpes perdendo a precisão, tornando-se bofetadas esmas, até
o cansaço derradeiro, quando o soldado percebe que aquele deve ser mesmo o fim.
Matar Crassus seria impossível, ou essa não
seria uma série respeitosa, seria uma série inconsistente. Mas dentro de um
pensamento coerente – e sobretudo porque nunca houve um corpo – a glória de Crassus também
foi impedida em sua plenitude, quando Agron adentrou o
momento, salvando seu mestre daquela última exposição, e tornando sua participação
nessa trama, uma das mais especiais de toda a história.
Quem não vibrou quando ele chegou, tem coração de pedra. Agron demonstrou
sua lealdade e afeto das maneiras mais bonitas e honestas, compondo uma
trajetória irrepreensível, cheia de honra e nobreza. E que foi reconhecida
quando se tornou necessária para os minutos finais. Agron protegeu Spartacus,
salvou-o da exposição romana, e deitou-o sobre solo livre, profetizando seu
papel histórico num pequeno monólogo emocionado, reiterado por um beijo na face
daquele que lhe fez especial como nenhuma arena seria capaz de fazer.
Como agradecer por tamanho respeito desses roteiristas? Como
retribuir tanta qualidade e inteligência? Eles me deram tudo que eu queria, e
mais um pouco. E o que não me deram, não podiam mesmo me dar. Foram coesos do
início ao fim, foram equilibrados desde sempre… Nos encheram daquela boa
tristeza.
A chuva enfim veio pela segunda vez… Ela recolheu Spartacus e
se foi. Nós ficamos aqui em meio a seca, gritando nas arquibancadas… Quando
haverá outra como essa? Quando voltará a chover nas terras áridas das nossas
expectativas?
Quando?
O "cast" |
Spartacus, o homem que desafiou Roma
O ex-escravo colocou em risco o poder do império durante os três anos
de uma rebelião com milhares de comandados que abalou a Itália
Um exército dos mais improváveis virou de pernas para o ar o coração do
Império Romano, cerca de 70 anos antes do nascimento de Cristo. Embora fosse
inteiramente formada por escravos, a imensa maioria deles sem nenhuma
experiência militar, essa força rebelde chegou a contar com 90 mil soldados,
deu um trabalho imenso aos principais comandantes de Roma e chegou perto de
engendrar o colapso político e econômico da Itália. À frente dos revoltosos
estava um ex-gladiador, um gênio militar nato, apesar da origem aparentemente
humilde. Seu nome era Spartacus.
Mais de 2 mil anos depois, os detalhes da vida e personalidade desse
guerreiro foram quase totalmente engolidos pela lenda. Para os antigos
historiadores gregos e romanos, ele não passava de um bandido, enquanto
teóricos socialistas e revolucionários de todos os tipos o transformaram num
herói quase sobre-humano. Calúnias ou idealizações à parte, o fato é que a
história de Spartacus e seu exército mostram à perfeição como a enxurrada de
escravos que havia inundado o Império Romano criou um desequilíbrio social de
proporções bíblicas. Sem saber, os romanos tinham plantado a semente de seu
próprio pesadelo, embora, no fim das contas, tenham conseguido acabar com ela.
Isso é História!
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