segunda-feira, abril 15, 2013

Spartacus, VITÓRIA. O grande final, por Assis Oliveira




O campo de batalha é um cemitério involuntário, e seu objetivo único é a morte. Pode haver poesia e tratado sobre o quanto a GUERRA “enriquece” e “enobrece” o homem, MAS SEU ÚNICO FIM É A MORTE.
A ironia é que o rastro da morte, nesse caso, resulta na invocação da maior ambição do guerreiro: a VITÓRIA.
Não vimos nenhum êxito. Tudo que veio antes do final de SPARTACUS foram momentos de queda, de infortúnio, de imolação. Tudo que vimos nesta derradeira semana foi a reafirmação do nome Spartacus. Além desse nome, um período importante para registro histórico, mas que nunca conseguiu alcançar objetivos imediatos. Considerando o tempo que levou para a queda do Império Romano, não houve alcance de objetivos nem a longo prazo. Por isso a iminência da batalha também era a iminência da morte e saber que os escritores da série entenderam bem isso, é crucial para compreender a verdadeira grandiosidade dessa despedida.

Ser fã de Spartacus, a série quer dizer viver uma experiência nem sempre compartilhada por fãs de outros programas: a experiência da qualidade absoluta.
O homem que desafiou um Império, mas nunca saberemos se viveu sua própria história de maneira tão lúdica. Pensar no trácio da vida real, que há muitos anos atrás, esteve em algum lugar das terras italianas, colhendo seguidores em busca do sentido da liberdade. Ele teria ficado feliz com as tintas usada na pintura de sua existência... e que desenharam um quadro desbravador e irônico: A glória descrita no final de Spartacus é curiosa e intrigante. É a glória da derrota
.
Os personagens principais

Houve a oportunidade de cada um externar o líder rebelde que havia dentro de si, como parte da estratégia de despistar Pompeu ao atacar as vilas. Cada um a gritar em alto brado “Eu sou Spartacus!” foi simbólico. O povo é como Spartacus ou uma rebelião de tão grandes proporções não seria possível. E Spartacus ao mesmo tempo, precisa atender às expectativas de uma massa que jamais seguiria um homem comum. O trácio foi quem foi, porque indiretamente, endeusou-se, aproveitando as coincidências para reforçar sua imagem de semideus.

Imagino que todo soldado que está no campo de batalha, se pergunta como será seu final, quando ele vier. Essas são pessoas que estão sempre na linha limítrofe da vida e da morte, e todos os dias podem ser potencialmente os últimos. Para nós, diante daquela imagem panorâmica dos dois grupos frente a frente, a sensação era pior, porque nós sabíamos que eles iam morrer. Por isso, a cada golpe de espada, a angústia e a agonia compartilhadas… E como esperávamos, eles começaram a cair, um por um.
O primeiro a cair foi Lugo, queimado. Castus que queria ser Agron, em seguida. Saxa teve seu momento, até que só sobraram aqueles que mais nos fariam tremer

Foi uma batalha épica. Da manobra linda de Spartacus, dando um olé estratégico em Crassus, até os momentos finais, quando acompanhamos pasmos, o processo lento e terrível do lado rebelde diminuindo e sendo cercado, calmamente, pelos inimigos rastejantes. E Gannicus, que foi interpretado por muitos de nós como aquele que talvez sobrevivesse à guerra, acaba por protagonizar um dos momentos mais sufocantes dessa finale: a chegada de Caesar, triunfante, após a morte brutal de Naevia, saboreando o cerco ao gladiador, vendo a elegância de seus métodos sendo transformados em desespero, com golpes perdendo a precisão, tornando-se bofetadas esmas, até o cansaço derradeiro, quando o soldado percebe que aquele deve ser mesmo o fim.
Matar Crassus seria impossível, ou essa não seria uma série respeitosa, seria uma série inconsistente. Mas dentro de um pensamento coerente – e sobretudo porque nunca houve um corpo – a glória de Crassus também foi impedida em sua plenitude, quando Agron adentrou o momento, salvando seu mestre daquela última exposição, e tornando sua participação nessa trama, uma das mais especiais de toda a história.
Quem não vibrou quando ele chegou, tem coração de pedra. Agron demonstrou sua lealdade e afeto das maneiras mais bonitas e honestas, compondo uma trajetória irrepreensível, cheia de honra e nobreza. E que foi reconhecida quando se tornou necessária para os minutos finais. Agron protegeu Spartacus, salvou-o da exposição romana, e deitou-o sobre solo livre, profetizando seu papel histórico num pequeno monólogo emocionado, reiterado por um beijo na face daquele que lhe fez especial como nenhuma arena seria capaz de fazer.
Como agradecer por tamanho respeito desses roteiristas? Como retribuir tanta qualidade e inteligência? Eles me deram tudo que eu queria, e mais um pouco. E o que não me deram, não podiam mesmo me dar. Foram coesos do início ao fim, foram equilibrados desde sempre… Nos encheram daquela boa tristeza.
A chuva enfim veio pela segunda vez… Ela recolheu Spartacus e se foi. Nós ficamos aqui em meio a seca, gritando nas arquibancadas… Quando haverá outra como essa? Quando voltará a chover nas terras áridas das nossas expectativas?

Quando?
O "cast"

Spartacus, o homem que desafiou Roma
O ex-escravo colocou em risco o poder do império durante os três anos de uma rebelião com milhares de comandados que abalou a Itália
Um exército dos mais improváveis virou de pernas para o ar o coração do Império Romano, cerca de 70 anos antes do nascimento de Cristo. Embora fosse inteiramente formada por escravos, a imensa maioria deles sem nenhuma experiência militar, essa força rebelde chegou a contar com 90 mil soldados, deu um trabalho imenso aos principais comandantes de Roma e chegou perto de engendrar o colapso político e econômico da Itália. À frente dos revoltosos estava um ex-gladiador, um gênio militar nato, apesar da origem aparentemente humilde. Seu nome era Spartacus.
Mais de 2 mil anos depois, os detalhes da vida e personalidade desse guerreiro foram quase totalmente engolidos pela lenda. Para os antigos historiadores gregos e romanos, ele não passava de um bandido, enquanto teóricos socialistas e revolucionários de todos os tipos o transformaram num herói quase sobre-humano. Calúnias ou idealizações à parte, o fato é que a história de Spartacus e seu exército mostram à perfeição como a enxurrada de escravos que havia inundado o Império Romano criou um desequilíbrio social de proporções bíblicas. Sem saber, os romanos tinham plantado a semente de seu próprio pesadelo, embora, no fim das contas, tenham conseguido acabar com ela.
Isso é História!




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!