sexta-feira, abril 12, 2013

Gattaca - Experiência Genética

Dia 102 - Felipe Pereira  98
Gattaca - 1997
Dir: Andrew Nicol
Elenco: Ethan Hawke, Uma Thurman, Gore Vidal.

Gattaca é uma daquelas ficções científicas geniais, aquelas que ficam imortalizadas, imperecíveis. Alien, Matrix, Blade Runner, filmes que simplesmente não envelheceram um dia desde sua concepção.
A história se passa num futuro próximo onde os casais escolhem cada característica que querem em um filho, desde a cor dos olhos à probabilidade da criança sofrer de doença degenerativa ou dependência química quando atingir a vida adulta. Nesse futuro uma grande corporação de recrutamento para missões especiais, Gattaca, (algo como a NASA com esteroides) escolhe geneticamente só os melhores e mais aptos seres humanos para mandar a suas missões exploratórias, apenas pessoas “bem feitas” no sentido genético da coisa. E é nesse mundo da perfeição quase nazista que nasce o protagonista de Gattaca, Vincent Anton (Ethan Hawke, que demora a acertar um bom filme, mas quando o faz é pra ficar pra história). Apenas Vincent, por ser indigno de herdar o nome do pai.
O sonho de Vincent desde pequeno sempre foi ir ao espaço, fosse pelo seu fascínio pelo que há do lado de fora da Terra ou pelo seu desprezo pelo que há do lado de dentro, essa era sua meta, esse era seu principal e inatingível objetivo.
Tudo por que, em um mundo no qual ser perfeito é obrigatório para se chegar a um lugar de destaque, os pais de Vincent optaram por concebê-lo à moda antiga, sem manipulação genética, acreditando que apenas o amor seria suficiente para dar a eles um filho perfeito e totalmente saudável.
O resultado...
Vincent era um fracasso, tinha um coração tão fraco quanto um fio de cabelo, pré-disposição a vício em drogas, doenças neurológicas, problemas de atenção, na melhor das hipóteses ele duraria trinta anos e morreria de gripe.
O que seus pais fazem a respeito? Aprendem a lição e recorrem à manipulação genética para ter um filho que durará um par de anos a mais que Vincent. E esse sim herda o nome do pai.
Mas Vincent é decidido, não abriria mão facilmente de seu sonho e, por mais piegas que isso possa parecer, ele faria de tudo para realiza-lo.
Ele mentiria, ele falsificaria documentos, ele falsificaria células...
Ele mataria?
O que acontece é que o cara fica sabendo de um sujeito que vende oportunidades aos seres humanos de capacidades inferiores. O lance do sujeito era transformar os fracos em invencíveis por meio de falcatruas incrivelmente arquitetadas. Nesse ponto ele apresenta Vincent a Jerome Morrow (Jude Law). Um nadador com uma saúde inabalável, um coração implacável, praticamente um imortal. O único problema é que ele se envolveu em um acidente que tirou-lhe a capacidade de andar.
O plano é fazer com que Vincent se passe por Jerome, por meio de truques que envolvem forjar amostras de sangue, urina, cabelo, pele, etc... O pagamento seria 25% mensais do que Vincent, que daquele momento em diante passaria a se chamar Jerome, recebesse em Gattaca. 25% nas mãos do falsário.
Bolsas de urina, pontas de dedos falsas com bolsas de sangue ocultas, pelos, cirurgia dentária, impressões digitais, lentes de contato, amostras de pele e, no fim, nada disso seria suficiente para transformar Vincent em Jerome, um ser humano geneticamente superior. Tudo por que Jerome é visivelmente mais alto que Vincent. Aí vem o próximo passo: cirurgia de alongamento. Isso mesmo, o cara faz uma cirurgia pra ficar mais alto.
Desse momento em diante Jerome é um ser humano perfeito. Mais que isso, um ser humano exemplar, o topo da cadeia genética (gostou dessa?). Não demora até que, com todas as qualificações que não são suas, ele entre para Gattaca e, em poucos anos, seja mandado para Titã numa missão pioneira rumo à nebulosa lua de Vênus.
Isso se não morrer antes.
As pessoas mais necessitadas de mensagens altruístas encaram Gattaca principalmente como uma crítica mordaz aos atuais padrões socialmente aceitáveis de beleza e perfeição, o que não deixa de ser verdade, eu admito e concordo. Mas reduzi-lo a isso é quase criminoso. Fazer crítica à sociedade consumista e opressora todo mundo faz. Agora fazer uma ficção científica elegante e atemporal como Gattaca é trabalho para poucos. Misturar esse gênero a romance, drama e thriller então... Trabalho de mestre.
Vincent/Jerome torna-se tão obcecado em atingir ou fingir a perfeição que cada passo seu passa a ser pensado, cada fio de cabelo que cai é recolhido, a pela morta que se desprende de suas mãos é aspirada e substituída pela pele morta do verdadeiro Jerome de forma a parecer algo totalmente comum. E ele passa anos em Gattaca, totalmente acima de qualquer suspeitas, a qualquer um que perguntassem, Jerome é tão perfeito quanto finge ser.
Até que, faltando poucos dias para a viagem à Titã, um dos diretores da instituição descobre o segredo de Jerome. Descobre que ele não é quem diz ser. E o mesmo diretor aparece morto dias depois. O lance é que isso é logo no começo do filme e a morte do diretor, ou o fato dele ter descoberto a verdade sobre o inválido Vincent Anton, são os menores dos problemas do cara. A investigação recorrente da morte é que vai fazê-lo passar por maus momentos, provações impensáveis, descobertas atordoantes até chegar ao fim de sua jornada com um dos finais mais épicos de uma ficção científica moderna. Dois finais épicos, na verdade, por que o final alternativo é espetacular e totalmente inesperado. É difícil escolher qual é melhor.
O diretor Andrew Nicol conseguiu em sua carreira conceber dois trabalhos incríveis: Gattaca e O Senhor das Armas, um filme excelente com o NICOLAS CAGE!!!!  O que veio entre esses dois e o que veio depois deles é totalmente descartável ou execrável, coisa para não se ver mesmo. Estou esperando o dia em que Nicol voltará a ser criativo e drástico como nessas duas obras, um dia que eu nunca deixarei de esperar!
Por hora, ficamos aqui, apreciando suas obras passadas, seus trabalhos fantásticos.
E Gattaca é algo no mínimo fantástico.

PS: as crianças de hoje jamais saberão que Plutão um dia foi um planeta...
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