quarta-feira, março 06, 2013

The Division Bell, Pink Floyd, ou: Feliz Aniversário, David Gilmour!

Michel 60. Dia 65.

Hoje é o aniversário de um dos maiores guitarristas de todos os tempos: David Gilmour. Em homenagem, analisarei um dos discos mais amados  - por mim - do Pink Floyd: "The Division Bell" (1994).

"For millions of years mankind lived just like animals. Then something happened which unleashed the power of our imagination: we learned to talk."

Essa é parte de uma fala de Stephen Hawking, um dos maiores e mais brilhantes físicos de todos os tempos. Para quem não sabe, Hawking sofre de uma doença degenerativa que lhe retirou a capacidade de movimentação, locomoção e comunicação. Entretanto, a despeito de uma vida limitada e sofrida, ele ainda influencia a vida de muitas pessoas através da ciência, inteligência e sagacidade.

Hawking se utiliza de um programa de computador e um sintetizador de voz para falar. Sua "voz" é mecânica e destituída de emoção, mas mesmo assim, extremamente alta e extremamente forte, pois nos comunica os pensamentos que ali estão encerrados, naquela mente genial, e que de outra forma, em outros tempos, estariam perdidos.

Comunicação, troca de informações, diálogo... quantos problemas não poderiam ser resolvidos se, em vez de nos calarmos e nos trancarmos em nossas próprias conchas, encerrados em nossas posturas agressivas, apenas conversássemos?

Se apenas disséssemos uns aos outros, com sinceridade, como nos sentimos?

O sentimento de "The Division Bell" é essa perda de capacidade. Aprendemos a nos comunicar, e à medida que a ciência progride, perdemos isto. Mantemo-nos distantes, distintos,  isolados, frios. Evitamos olhar nos olhos e nos envolver emocionalmente com outras pessoas por que isso "dá trabalho".

Sim, eu falo por mim. Eu tenho uma certa fobia de me relacionar com as pessoas. E é por isso que o "Division" me bate tão forte.



Lost For Words

I was spending my time in the doldrums
I was caught in the cauldron of hate
I felt persecuted and paralyzed
I thought that everything else would just wait
While you are wasting your time on your enemies
Engulfed in a fever of spite
Beyond your tunnel vision reality fades
Like shadows into the night

To martyr yourself to caution
Is not going to help at all
Because there'll be no safety in numbers
When the Right One walks out of the door

Can you see your days blighted by darkness?
Is it true you beat your fists on the floor?
Stuck in a world of isolation
While ivy grows over the door

So I open my door to my enemies
And I ask could we wipe the slate clean
But they tell me to please go fuck myself
You know you just can't win


Eu preciso, mais do que ninguém, aprender a me controlar, a me segurar, a fluir. Quando eu escuto "The Division Bell", repenso muitas coisas da atual fase e penso: "Mas, ei, esse chefão não é assim tão forte!".



Um disco profundo. Tão vasto, tão claro... como um amanhecer depois de uma noite de insônia. Te enche de uma certa esperança, e de um pouco de medo também. Te mostra que você não é um muro de concreto, mas um rio de lava - e isso, amigos, faz toda a diferença.

                                                         What do you want from me?


Comunicar, assim como silenciar, são artes que ainda não domino. É para isso que tenho a música. É para isso que serve o Pink Floyd.

Senhoras e senhores, cantemos juntos "High Hopes" para o senhor David Gilmour. E que os sinos da discórdia continuem tocando, para que o consenso não seja alcançado sem conflito.


Grandes Esperanças

Além do horizonte do lugar em que vivíamos quando jovens
Em um mundo de imãs e milagres
Nossos pensamentos vagavam constantemente sem limites
O soar do sino da divisão começou

Ao longo da Grande Estrada e de sua calçada
Será que ainda elas se encontram na encruzilhada?

Havia uma banda que tocava fora do tempo seguindo nossos passos
Correndo antes dos tempos, levaram embora nossos sonos
Deixando incontáveis pequenas criaturas tentando nos prender ao chão
De uma vida consumida por uma lenta decadência

A grama era mais verde
As luzes eram mais brilhantes
Com amigos por perto
As noites de surpresas

Olhando além das brasas de pontes resplandecendo atrás de nós
Um relance do quão verde era do outro lado
Passos rumo ao progresso são tomados, mas em seguida regredimos de novo
Puxados por uma força interior
Às alturas, com a bandeira desfraldada
Alcançamos às rarefeitas alturas daquele mundo tão sonhado

Sobrecarregados para sempre por desejo e ambição
Ainda há um desejo insaciado
Nossos olhos cansados ainda se perdem pelo horizonte
Apesar de que, por esta estrada, termos por várias vezes passado

A grama era mais verde
As luzes eram mais brilhantes
O sabor era mais doce
As noites eram maravilhosas
Com amigos por perto
A brilhante névoa do amanhecer
A água correndo
O rio sem fim

Para sempre e sempre.


E que seja bem vinda a tempestade, e tudo aquilo que nos sacode e nos joga na escuridão - pois só assim saberemos o quanto a luz é brilhante.

A Classificação para o disco de hoje? Cinco Galáxias.

Boa noite de quarta feira, meus amigos. Feliz aniversário, Mestre Gilmour.


Um comentário:

  1. Embora faça um tempo considerável desde o seu lançamento me arrisco a dizer que este Disco do Pink Floyd é a unica obra dos caras comum a minha geração e a atual, mesmo sem perder de vista que muitos dessa geração ouvem musicas do Pink Floyd, sem saber a real importância do grupo para o cenário musical e sem conhecer a filosofia do trabalho deles. Esse disco é Pink Floyd renovado sem perder a essência que sempre permeou o grupo. Para min não existe musica mais engajada do que a do Pink Floyd, Seja com David Gilmour ou com Roger Walter. Nosso cronista de sempre, mais uma vez nos entrega a essência de um disco certamente muito querido. Parabéns ao aniversariante, parabéns ao nosso cronista.

    ResponderExcluir

Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!