Dia 64 - Felipe P. 62
The Breakfast Club - 1985
Dir: John Hughes
Elenco: Emilio Estevez, Judd Nelson, Molly Ringwald, Anthony Michael Hall, Ally Sheedy
Revendo o Clube dos Cinco agora eu posso identificar
facilmente pelo menos 4 dos personagens principais mostrados no filme que eu
poderia encontrar em um dos colégios em que estudei...
Tinha o marginal, que atendia pela alcunha de Pitbull e
eu discorrerei sobre isso em breve. Agora.
Vou ser breve, prometo. No seu colégio tinha um marginal,
daqueles completos? A má atitude e o nome de guerra, pacote completo, com
direito a séquito de descerebrados? Em um dos colégios que eu estudei tinha um
personagem conhecido como Pitbull, um sujeitinho medonho. O que me leva a
pensar como esses sujeitos surgem, como eles se constroem, se eles realmente
nascem ou se eles simplesmente surgem no cenário feito um NPC, um daqueles
figurantes de Matrix. Quer dizer, como é que um sujeito chega a um momento da
vida em que as pessoas o chamam (e ele atende) pelo nome de Pitbull? O que você
tem que fazer da sua vida pra ser conhecido entre um grupo de moleques
melequentos por um apelido que caracteriza uma raça transgênica de cachorro?
Como vivem, do que se alimentam?
Enfim, tinha a patricinha mimada, tinha a freak (no caso
era o freak) e tinha o CDF: eu!
Só não tinha o esportista, por que enfim a escola pouco
se lixava para os esportes. E para qualquer outra coisa, pra falar a verdade.
O Clube dos Cinco, The Breakfast Club é um filme de 1985
dirigido por John Hughes, mesmo diretor de Curtindo a Vida Adoidado e Gatinhas
e Gatões, conta a história de cinco estudantes que por algum motivo vão parar
na detenção num sábado. Cada um deles representa um personagem infame de uma
escola qualquer, cada um deles é um personagem recorrente da vida real: um
marginal, uma patricinha, um esportista, um CDF e uma freak, daquelas que senta
na última filam e quase ninguém sabe exatamente quem é ou o que faz, na maioria
das vezes não se sabe nem o nome.
Os cinco estão lá, apenas estão lá, obrigados a estar lá.
Numa mesma sala, nunca tendo se falado, cada um com seus preconceitos, com suas
crenças e falta delas, cada um se achando superior de uma forma ou de outra,
praticamente feitos reféns pelo diretor da escola. São personagens
superficiais, preto no branco: ele é apenas um bandido, ela é apenas a garota
popular, aquele é o nerd, a esquisita e o carinha que luta alguma coisa e
nenhum deles quer ou precisa saber mais do que isso de qualquer um dos outros,
afinal de contas eles já tem uma ideia formada. Eles vão se encontrar uma vez e
nunca mais vão se falar, certo?
O caso é que eles vão ficar naquela sala trancada durante
as próximas oito horas de suas vidas. Pode parecer que não, mas isso é muita
coisa.
Então começam as intervenções, Bender, o bandido, começa
a incomodar os outros, começa a provocar mesmo cada um deles. É um verdadeiro
transgressor. Um cínico e arrogante, um sujeito daqueles que você se encolhe de
chegar perto. Ele começa e, a princípio, é apenas mais um dos seus joguinhos,
mais um dia de vida na Terra sendo um marginal desgraçado, mas algo acontece
que, dali, daquele momento, ele consegue acender uma faísca nos outros quatro.
A revolução começa quando eles param de reagir e passam
responder a Bender.
A partir dali, detalhes da vida e dos dramas de cada um
vem à tona com uma intensidade incrível, o que era uma comédia adolescente
ganha todo um peso dramático totalmente inesperado. Fala-se de pressão, de
sexo, de drogas, de status, reputação, família, tudo com aquele humor
característico do John Hughes. Mas algo diferencia O Clube dos Cinco de toda a
obra de Hughes. Em todos os seus filmes há um bom espaço pra reflexão, no
próprio Ferris Buller’s tem uma grande reflexão e a ideia aqui é basicamente a
mesma. Eu diria que a escola poderia ser a mesma de Ferris, num dia de sábado
no qual apenas os piores dos piores estarão lá e o Ferris deu um jeito de se
safar. Aqui é o outro lado do dia de folga, as variáveis são outras.
O próprio diretor, Vernon, é uma versão extrapolada e
piorada do Diretor Rooney, só que sem nenhum apelo humorístico, é um cara que
realmente intimida, realmente te deixa com raiva.
O ponto em que O Clube toca é que por baixo daquelas
figura, por trás daqueles personagens, tem um monte de camadas e mais camadas,
existem personalidades, existem seres humanos reais, que vivem em casas, que
tem famílias, que tem problemas, alguns maiores e alguns menores, mas todos
seus.
Cada um deles passa por uma verdadeira sessão de terapia,
até o diretor tem seu momento no divã e, a grande surpresa está em dar voz
aquelas pessoas que se ignoram e se evitam e se desprezam mutuamente, a grande
jogada está em dar ouvidos às vozes.
Eu realmente duvido muito que de assistir O Clube dos
Cinco, vá dar aquele estalo na sua cabeça que vá te fazer mudar de ideia sobre
aquele valentão que você desprezava ou aquele sujeito que te bateu, que vá te
fazer ligar praquele moleque fraquinho ou o gordinho que você ridicularizava
pra pedir desculpas, mas com certeza vai te fazer pensar sobre.
Não vai durar quinze minutos, mas vai te fazer repensar
um bocado de coisas.
-
-
Uma vez eu passei esse filme para um grupo de professores, tentando fazer com que eles vissem além de conceitos fechados e criados por eles mesmos.
ResponderExcluirTeve gente saindo na metade da sessão.
Tire as conclusões que quiser. Eu perdi meu respeito por aquelas pessoas.