Respeitem Meus Cabelos, Brancos - Chico César, ou: Muito Além de Mama África

Michel 61. Dia 66.

Um artista é tão bom quanto se traduz em sua música.

Sabe aquele cara reconhecível na voz de qualquer um? Ao soarem os primeiros acordes, no tom de voz do intérprete...

Eis Chico César.

"Ei, pera... que música é essa que a Bethânia tá cantando? Bom, não sei o nome, mas... isso é a cara do Chico César!". Vou pesquisar e... bingo!

Um músico, um letrista, um intérprete, um poeta... qualquer dessas palavras que você use acompanhadas dos adjetivos "competente", "talentoso", "rico", ou "versátil" vale.

E o disco "Respeitem Meus Cabelos, Brancos" (2002) faz jus a todos esses elogios rasgados. Eu respeito o cara que tem músicas gravadas por gente do cacife de Zeca Baleiro e Maria Bethânia. Eu respeito o cara que não se vende para a mídia e se mantém fiel à sua imagem/identidade musical.

Eu adoro o sabor nordestino de "Respeitem...", os trocadilhos, os jogos de palavras... a posição de um ponto ou de uma vírgula, o tempo das músicas, o ritmo pouco usual, o estilo de tocar, os instrumentos que criam um clima de umidade e caatinga...

Poucos artistas verdadeiros restam no Brasil. Dos verdadeiros e honestos, Chico César é um dos últimos exemplares, daqueles que te acham sentimentos e te fazem um inception de sensações que você julgava não saber/ter/conhecer.

Chico César é único.

Atenção às faixas: "Respeitem Meus Cabelos, Brancos", "Antinome" (Com Chico Buarque), "Pétala Por Pétala", "Céu Negro" (como alguém consegue descrever a chuva dessa maneira?), "Quando Eu Fecho Os Olhos", "Antes Que Amanheça" e "Templo" (Clássica).

"Céu Negro"

"Templo"

Um disco para ouvir com desejo, à beira de um rio na Caatinga, durante a estação chuvosa. Um disco cheio de saudade, de vontades confessas, de amor lírico, de vento seco.

Uma obra de arte.

Espero que todos tenham uma boa sexta-feira. O Ladrão de Almas vai ficando por aqui.

Abraços!