Dia 66 - Felipe P. 64
The Prestige - 2006
Dir Christopher Nolan
Elenco: Christian Bale, Hugh Jackman, David Bowie
Pensa rápido: quais são seus 3 diretores de cinema
favoritos? Se me fizessem essa pergunta, eu responderia sem pensar duas vezes:
Quentin Tarantino, David Fincher e Christopher Nolan.
Sim, sei que faltou aí um Scorcese, sei que vão me matar
se eu disser que nunca vi um filme do Kurosawa (oh, Deus, que alma perdida!),
deveria ter um diretor iraniano nessa lista, ok, ok, entendi. Mas a lista é
minha, meninos e meninas. Só minha.
E hoje nós vamos falar de Christopher Nolan, mais
precisamente daquele que considero seu melhor filme: O Grande Truque.
Sério? Aquele dos mágicos? Aquele que ninguém viu e que
ninguém lembra?
Sério. Esse mesmo.
Passado na virada do século XIX para o século XX O Grande
Truque conta a história de dois amigos, assistentes de palco de um mágico famoso
que decidem seguir suas próprias carreiras como ilusionistas após a morte
supostamente acidental da namorada de um deles durante uma apresentação. Eles
são Robert Angier e Alfred Borden, respectivamente Hugh Jackman e Christian
Bale.
Assim como em Amnésia, The Prestige é narrado de uma
forma totalmente não linear, mas aqui a fórmula usada por Nolan anteriormente é
aprimorada: não é só ir e voltar no tempo para atribuir complexidade a uma
trama aparentemente simples. É contar a mesma história em vários tempos
diferentes ao mesmo tempo. Não é que The Prestige não tenha uma linearidade. E
sim que ele tem umas três ou quatro linearidades diferentes, sendo exibidas
paralelamente.
E assim o filme mostra ascensão e queda, de Angier e
Borden, desde os tempos em que dividiam palcos aos tempos em que não podiam se
encontrar no mesmo raio de cem metros sem que um deles tomasse um tiro ou
perdesse pedaços.
É o passo a passo de uma amizade que se tornou uma rivalidade
sanguinária.
O Grande Truque é o filme do Nolan que mais se equilibra
entre a arte e o blockbuster. Rodado imediatamente entre as gravações de Batman
Begins e O Cavaleiro das Trevas, The Prestige foi escrito pelo próprio Nolan e
por seu irmão e antigo operador de câmera, Jonathan Nolan, baseado num livro de
mesmo nome do novelista Christopher Priest.
É um filme belíssimo, tanto como conceito quanto como
visual. A fotografia de Wally Pfister, que acompanha Nolan por grande parte de
sua carreira, confere ao filme um visual deslumbrante, misturando noite, névoa e
luz como pouco se vê. Em 2010, Pfister recebeu o Oscar por seu trabalho em
Inception, e costuma ser indicado em todas as vezes que trabalha com Nolan, inclusive
por O Grande Truque.
A trama vai mais longe ainda quando se permite
misturar-se a personagens históricos, quando ocorre a primeira grande
reviravolta da trama e entra em cena ninguém menos que Nikola tesla,
interpretado por David Bowie.
O personagem de Tesla surge com o objetivo de ajudar
Angier a desenvolver o truque que vai fazer com que sua carreira seja alçada
definitivamente ao sucesso e que seu nome seja conhecido por todos, mas algo dá
errado e, ao mesmo tempo, inesperada e terrivelmente certo, fazendo com que
tudo o que aconteça em seguida seja totalmente imprevisível.
Mesmo que pra isso seja necessário dar uma leve (nem tão
leve assim) forçada de barra no roteiro, que se justifica quase que totalmente
com o desenrolar da trama.
A inimizade de Angier e Borden os leva a atos
impensáveis. Os levam a matar e mutilar um ao outro, a trair-se mutuamente, e a
tentar superar-se das formas mais violentas, brutais e desonestas.
Não há heróis e vilões em O grande Truque, há apenas
interesse e trapaça, mal se pode escolher um lado para qual torcer.
É um filme sobre amor e ódio, intenso e violento em cada
uma de suas nuances. A magia aqui nada tem de “mágica”, mas de ciência. É uma
magia metálica e sombria, forjada por máquinas malditas que são capazes de
mudar e de manipular destinos.
Isso tudo e um elenco de apoio excelente, formado por Michael Caine, Andy Serkis, Rebecca Hall e a sempre espetacular Scarlett Johansson, com uma personagem vital à trama.
É um filme complexo, mas no final tudo, ou quase tudo é
explicado, deixando ainda espaço para que o expectador mais empenhado formule
suas teorias, interprete e crie seus próprios finais.
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!