sábado, março 30, 2013

MindWalk (Ponto de Mutação) - Bernt Amadeus Capra

Michel 82. Dia 89.

Assisti esse filme pela primeira vez em VHS (sic) há quinze anos atrás. Meu professor de história do Liceu do Ceará falava e falava sobre este tal de "Ponto de Mutação" (1990), e na locadora que havia perto de casa eu o achei, novinho novinho, porque quem alugava não gostava. A moça da locadora até tentou me convencer:

- Leva não, filme chato. Só as pessoas conversando. Ninguém gosta.

Divisor de águas, então. Com exceção do "Lanterna Verde" e do "Wolverine; Origens", filme que "ninguém gosta" para mim, após "Mindwalk", virou sinônimo de bom filme.


Deixando o passado para trás (terrível, eu sei, esse trocadilho-clichê 2-em-1), falemos de "Mindwalk".

A época/realidade: a última década de um século marcado pela exploração desesperada e irresponsável dos recursos do planeta.

Os personagens: Um poeta/escritor/redator/teatrólogo; um político; uma física.

O cenário: A Ilha de Saint-Michel, na França.

A ação: 1h48min de diálogos e silêncios numa paisagem linda e angustiante.


É um filme parado, tenso, denso. Ao mesmo tempo, profundo, honesto e verdadeiro. Corajoso, não tem medo de ser rotulado de louco ou pseudo-científico.

Baseado na obra de Fritjof Capra, trata de temas como mecanicismo, machismo, violência, ecologia, holismo, física, ética, filosofia, poesia, política... uma aula de física quântica, um passeio pela história da ciência, uma abordagem filosófica e poética da realidade, uma análise ética das relações interpessoais e dos seres humanos com o mundo...

Uma obra de arte.

O filme tenta alcançar a todos os espectadores que aguentem assistir até a metade (digo isso não como um demérito à película, mas como uma característica. Não é um filme especialmente atrativo), utilizando-se de metáforas e analogias para explicar - no nível noobie - conceitos científicos sobre o tempo, o espaço, a gravidade e a mecânica quântica. Espero não soar pedante aqui, mas são conceitos que mesmo eu não compreendo totalmente.

O filme serve também de catapulta para as perspectivas de Fritjof Capra e sua abordagem holística da ciência, misturando conceitos da cultura ocidental com física, química, ecologia e ética, criando assim aquilo que, alguns anos depois, seria concentrado em seu livro "A Teia da Vida" - mas que já estava presente em "O Tao da Física" e "O Ponto de Mutação".

Um filme cativante e angustiante, que expõe as falhas do pensamento ocidental, derivado, em grande parte, das ideias de Descartes e Newton.

Um filme corajoso, que tenta mostrar a todos nós que nosso ponto de vista - ganhar, juntar, acumular, enriquecer, controlar, dominar, espalhar - pode estar equivocado.

Um filme bonito em sua simplicidade, e verdadeiro em seus personagens.

Mas o momento principal, o fechamento, a parte mais fodástica de todas, que em minha opinião vale o filme inteiro?


Pablo Neruda. PA-BLO-NE-RU-DA!

Requer mais coragem mudar a maneira de ver o mundo do que agir em prol da mudança.

Se quiseres ver este filme, comece sabendo que ele exigirá de você atenção e duas horas de sua vida. Talvez ele seja datado, mas suas questões ainda são atuais. Excelentes atores em papéis fantásticos, uma locação incrível, texturas e a maravilhosa trilha sonora de Philip Glass...

Assista no mesmo clima em que você assistiu - ou assistirá - ao "Homem da Terra" (http://www.01pordia.com/2013/01/o-homem-da-terra.html).







Gostaria de agradecer ao nosso companheiro Flávio Ishii, que está sempre acompanhando nossas postagens e que havia sugerido a algum tempo atrás a presença de "Mindwalk" aqui no 01PD. Gostaria também de agradecer aos nossos sempre presentes leitores/colaboradores, por estar sempre aí, incentivando e nos alimentado com boas ideias: Assis Oliveira, Giovanildo Teixeira, Carlos Alberto, Janiê Saintclair, Letícia Pereira, Magno Matos, Alex Martins, Góris Faria, Pablo Negócio, Lucas Brandão...

Fazemos o 01PD com carinho para todos nós.

Grato pela atenção e pela presença, aqui falou o Ladrão de Almas para o 01PD - Filme.

Até já.

3 comentários:

  1. Felipe, meu amigo... você é mesmo ousado. Tente achar pela rede um review/comentário/resenha deste filme e você verá o qual raro isso é. Você agora elevou o nível deste site. O que posso dizer do review de hoje. Simples, perfeito e nos convence a ver. Para min este Filme ao lado dos livros citados do Capra, eu diria foram minha maior escola e responsável por me prover um mundo diferente e que fazia mais sentido para que min do a previsibilidade da ciência. Parabéns de novo.

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    Respostas
    1. Não dá pra curtir o comentário nem o post... rs
      Mas eu gostei dos dois!! ;)
      E ao contrário doq diz o texto a meu respeito, confesso q não sou uma pessoa mto atuante aqui. Tive um papo com o Felipe esses dias, na qual ele me indicou o genial e originalíssimo O Homem da Terra, e eu joguei MindWalk na conversa... Bom, foi bem isso.
      Porém, vou procurar visitar mais o 1PD a partir d hj, justamente por isso q vc, Assis, colocou: por nos convencer a ver. Do pouco q acompanhei até agora, tenho curtido bastante as análises críticas. Ou seja, os textos tem me convencido tb.
      Parabéns aos envolvidos!!
      Qto a este filme, concordo novamente com o Assis, assisti-lo é quase um convite a olhar o mundo e td aquilo q nos circunda por uma outra perspectiva. Bem como naquela cena do Sociedade dos Poetas Mortos em q os alunos são instigados a subir na carteira.
      Abs

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  2. Muito obrigado, companheiro, mas quem escreveu esse foi o Michel Euclides, o mestre. :)

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