sábado, março 09, 2013

Inception - A Origem

Michel 63. Dia 68.

Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.

      A vida é sonho - Calderón de La Barca

Assistir "Inception" (2010) depois de tanto tempo é como rever aquele velho amigo que faz questão de te incomodar. Lidar com sonhos não é fácil; visitar o subconsciente torna-se ainda mais difícil.

Mas eis aqui uma das três obras primas de Christopher Nolan. E aqui, neste filme, me realizo.



Não é um trabalho fácil de conceituação e construção. Criar um mundo onde os sonhos podem ser compartilhados e acessados, onde seus segredos mais profundos podem ser roubados, onde a violência se alia ao extremo desenvolvimento tecnológico na tentativa de destruir monopólios...



Nolan constrói sobre uma premissa instável - dominar o mundo dos sonhos e acessar o subconsciente - e mostra-se senhor do que faz. Revela-se O Diretor, alguém capaz de transformar uma ousada ideia em realidade.

Ideias. Tão poderosas, destrutivas e frágeis... facilmente roubadas, podem gerar lucro, descrédito ou tragédia. 

"Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Não. Uma idéia! Resistente e altamente contagiosa. Uma vez que uma idéia se apodera da mente, é quase impossível erradicá-la. Uma idéia que é totalmente formada e compreendida, permanece"

A odisseia de Don Cobb (DiCaprio) é similar à de Odisseu: ele quer voltar para casa, mas eventos e acontecimentos, pessoas e situações, impedem seu retorno. Seu passado o atormenta, a culpa o corrói: ele é um ladrão de sonhos que não pode mais sonhar.



Cobb junta um grupo de pessoas extraordinárias na tentativa de realizar algo que é considerado impossível: enxertar uma ideia na mente de alguém e, ao mesmo tempo, levar esta pessoa a pensar que a ideia é sua. A este procedimento chamam de Inception - termo que dá título ao filme, e que poderíamos traduzir de uma maneira aproximada como "inserção".



Contratados por Saito, Cobb e sua equipe tem que plantar a ideia diretamente no subconsciente de Robert Fischer, e aqui começa o barato. As leis da realidade não se aplicam ao mundo do sonho. Gravidade, peso, velocidade e tempo - nada disso funciona "como deveria".



Para que o processo de inserção seja feito da maneira ideal e se alcance os objetivos almejados, Cobb conta com a ajuda das drogas sedativas de Yusuf  (Dileep Rao), um químico/farmacêutico que cria um poderoso soro do sono, e conduzirá o time a um sonho compartilhado de três níveis/camadas de profundidade (um sonho dentro de um sonho dentro de um sonho).





E aqui vive o perigo, pois tantas camadas de sonho fazem com que a estrutura criada torne-se instável e facilmente colapse ao menor sinal de distúrbio. E haja distúrbio durante a violenta operação que luta, o tempo todo, contra o subconsciente blindado de Fischer.

Não vou encher o texto de spoilers, nem enchê-lo com aspectos técnicos - a) Não tenho o talento do Felipe Pereira; b) Esta não é a praia do 01PD; c) Não sou cinéfilo. -, mas devo confessar que a fotografia, a edição (som e imagem) e os efeitos visuais são de primeira. Nolan é um diretor seguro, que mantém o filme ali, sob sua super-visão (hehehehehehehe) de modo a obter o resultado que deseja.

E o resultado é de tirar o fôlego. O filme impressiona desde o início, te dando aquela sensação de vertigem  que somente os bons filmes trazem. Imersão total. É fácil apegar-se aos personagens, que são críveis, lúcidos e profundos - mesmo os que aparecem pouco. É fácil aceitar a história - só é preciso ter atenção. Não há necessidade de querer parecer ser culto ou intelectualizado - só é preciso prestar atenção.

Muita gente disse que o filme foi superestimado, que os "Nolan-boys" fazem muito barulho, blablabla... esqueçam estas pessoas. Elas não são dignas nem de desprezo. O filme é isso tudo e mais um pouco sim! E se você que viu (ou vai ver) não entendeu (ou não entender), há dois caminhos possíveis:

1. Esqueça o filme e viva a vida, pois ela é curta e não te dá segundas chances;
2. Assista novamente com atenção e empenho para que possa compreender a história. Ela não é tão difícil, e a trama é até bem linear. O problema, como diria Shrek, são as camadas.

E o tempo do sonho.

Não vou entrar em detalhes. O que se precisa saber é que, a cada nível que se desce, o tempo passa mais devagar. E isso é crucial para o desenvolvimento da trama. E também é cruel. E explicaria muita coisa, como no caso do "velhos em corpos jovens".

O filme te bate, te machuca, mexe com teus sentimentos, tem momentos nada forçados para piadas e brincadeiras... um filme sólido, maciço, poderoso e simples apesar de seu tamanho e magnitude. Uma metáfora sobre uma metáfora... afinal, o que é o cinema senão a materialização de sonhos?



Para finalizar, uma pergunta que gira e gira sem cair. A necessidade de uma resposta deixou muita gente incomodada durante muito tempo, mas a mim não. O fim foi satisfatório, quaisquer que fossem as possibilidades.



Um filme excelente, que mostra a capacidade que um diretor decente tem de realizar um filme inteligente - para além de explosões, tiros e mulheres seminuas - em Hollywood.

Não assistiu ainda? Deixe que eu faça um Inception em você. 

Assista.



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