Assis 03. Dia 66.
CALIFORNICATION. Porque eu vejo
está merda?
Porque você escuta Rock’N’Roll?
Porque é uma merda muito boa.
Ok, é politicamente incorreto, é
machista às vezes e chega perto de ser pornográfico, não apenas visualmente,
mas é inteligente e me parece muito real. E também gosto de pornografia, só pra
registrar.
Se você consegue ficar longe de
códigos morais hipócritas e gosta de ver as pessoas falando as verdades sobre
si mesmas, então essa é a sua serie. Seis temporadas depois e ainda consegue
ser tão boa como no principio e na maioria das vezes te chocar, sem parecer que
tudo ali foi colocado com esse proposito. É pra vender? É, mas você não se
sentirá enganado.
Hank (David Duchovny) continua o
cara mais cínico do mundo. Continua sua odisseia sexual, fodida e agora ainda
mais imersa em álcool e drogas a ponto da intervenção da família para coloca-lo
numa clinica de reabilitação. O cara é um incorrigível. E nada é capaz de deter
sua louca vida e predileção pelo incorreto, nem mesmo a clínica. Aliás, foi uma
péssima ideia levar o cara para lá, ele não apenas não deseja outra coisa além
de ser o Hank fodido e narcisista, como tem o dom de fascinar e atrair quem se
aproxima para sua vida de merda. Que nem é tanto de merda assim, porque ele, no
fundo, é autêntico – o problema é que o mapa da sua realidade não encontra
paralelo fora de sua cabeça. Continua fácil identificar-se com Hank: ele fala e
se comporta como gostaríamos de ser se o mundo não fosse essa coisa chata e sem
graça. Ele faz o seu mundo, ele faz acontecer e também faz por merecer cada
porrada que a vida lhe aplica e que ele tira de letra. Para um escritor que
ainda parece estar vivendo uma crise criativa ele faz de si mesmo um personagem
só encontrado na ficção e vive a vida com sinceridade, intensa e sensivelmente.
Ele não consegue ser o cara que as mulheres esperam que ele seja depois da
transa, um homem sensível a causa feminina. O cinismo faz de você um cara que é
admirado, mas ninguém suporta o cinismo por muito tempo e vão tentar te
converter. O mundo precisa de você convertido, precisa de você preso a rígidos
e hipócritas códigos morais e não livre e dono de sua vida.
Um mundo chato precisa de caras
como Hank, que não hesita em te jogar na cara tuas possíveis hipocrisias
morais. Nelson Rodrigues teria simplesmente adorado esse cara. A série tem
longevidade garantida se levarmos em consideração que o que não falta no mundo
é mau caratismo. Os livros de Hank - que são escrito na ficção - não existem. Mas,
se existissem, seriam sucessos para além de merdas como “Cinquenta Tons De Cinza”.
Por Assis Oliveira
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