domingo, fevereiro 17, 2013

V - Legião Urbana, ou: Em cima como o que é embaixo.

Michel 44. Dia 48.
 Um dos melhores e mais incompreendidos desta que é, em minha opinião, uma das maiores bandas de Rock do Brasil. Deixo a parte de rotular (Pop Rock, Rock Brasil) para os de mente pequena. Música para mim vai além de imagens de pré-venda. Legião Urbana é eterna.

"V" (1991) é um álbum estranhamente datado e atemporal. Os eventos e acontecimentos que ocorriam no Brasil à época estão relacionados e inseridos dentro das letras e melodias da banda. Os problemas de Renato, a crise financeira e política, o clima de insegurança vivido por todos... pode-se sentir isso no álbum, que é intimista, escuro, terroso e místico.

Sim, místico. As alusões ao que é fechado e hermético são mais do que patentes. Um clima medieval permeia todo o disco, levando algumas pessoas a dizerem que "V" é um álbum de Rock Progressivo. talvez sim, talvez não.

Renato estava inspirado e abalado pelas coisas que vivia e descobria. Ao mesmo tempo, o som da banda estava mais maduro e rico, mais versátil e profundo, numa estranha bipolaridade - ora alegre, ora melancólico - que regou muitos de meus sofrimentos adolescentes.

(Tenho um carinho muito grande por este disco, pois foi um dos primeiros que comprei assim que comecei a trabalhar...).

Para escutar o "V" é necessário se deixar pegar pelas brumas de Avalon que o cercam. É necessário se deixar conduzir até a Dama do Lago e segurar firmemente Excalibur que te é lançada. É preciso ouvir e seguir, ainda que de maneira desconfiada, os conselhos de Merlim. E é preciso jamais deixar Guinevere sozinha com Lancelot.

Dores, amarguras, metais, dragões e nuvens; anjos, demônios, ilusões e montanhas; vento, mar e maresia, areia e coqueiros; felicidade e sorrisos histéricos - ter e não ter, tudo é sépia e tem cheiro de repetição e morte.



Escute o disco inteiro, faixa a faixa, no volume máximo - fones de ouvido se estiver em público, volume máximo apenas se estiver sozinho em casa, sem incomodar os vizinhos, por favor. Mas sei que isto é algo que você, pessoa culta e educada que lê o 01PD, já sabe.

Escute faixa a faixa, mergulhe nelas, vicie-se nelas. Haverá um retorno musical e sentimental, um campo harmônico de violência e fúria que pode te libertar de coisas sombrias e velhas há muito tempo enterradas na escuridão das memórias.


Atenção às faixas: Love Song (cantiga de amor do século XIII); Metal Contra As Nuvens (uma nada sutil rapsódia de protesto e esperança); A Ordem dos Templários (belíssima faixa instrumental); A Montanha Mágica (Uma "trip", se é que você me entende); O Teatro Dos Vampiros (hum... preciso de um post só para esta música... mas é de amores que se fala, de paixões não correspondidas, de pontas soltas...), Sereníssima (uma ode à alegria histérica e à auto-justificação), Vento No Litoral (Uma eficiente música brega com um potencial inimaginável para a alimentação da Dor no Cotovelo); O Mundo Anda Tão Complicado (baladinha, momento "cuti-cuti" do disco... mas nem por isso ruim - au contráire, linda canção); L'Âge D'Or (O momento mais Rock 'N' Roll do disco, com poderosas guitarras distorcidas e uma bateria incrivelmente decente do Bonfá); e Come Share My Life (versão instrumental de uma canção folclórica dos EUA).

Ou seja, o disco é um olhar demorado e poderoso às pequenas coisas que nos acontecem - e a descoberta chocante de que as pequenas coisas podem ser gigantescas, dependendo de quem esteja olhando, de onde, quando e como se olha.

Um disco para poucos. Um disco para loucos. Um disco para fãs da Legião Urbana, não para posers que só curtem "Pais e Filhos" e "Faroeste Caboclo". Ou "Eduardo e Mônica".

Classificação:






E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas.

Boa noite, um bom início de semana e até amanhã em mais um post do Ladrão de Almas, este que vos fala, M. Euclides.

4 comentários:

  1. Um disco tão forte, presente na vida da geração final de 80 começo de 90 de uma banda eterna, que sei lá como ensinou-me a gostar de coisas mais rebuscadas e tendenciou uma geração inteira a pensar mais.

    Tá faltando uma banda assim hoje em dia?

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  2. Tá faltando demais. No mundo inteiro...

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  3. Caramba, tava já pra pedir que tu falasse de Legião.

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  4. Belo Texto Nobre Fidalgo! Não dá pra comentar mais nada. Tudo já foi dito. VRBANA LEGIO OMNIA VINCIT

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