quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Matador em Conflito

Dia 37 - Felipe P. 36
Grosse Pointe Blank - 1997
Dir George Armitage
Elenco:  John Cusack, Minnie Driver, Dan Aykroyd, Alan Arkin, Joan Kusack

Matador em Conflito é o título nacional de um filme de 97 chamado Grosse Pointe Blank. O título original é impossível de traduzir sem ser tirado de contexto, por tanto a escolha do título nacional é um dos poucos casos que não incomoda. Pelo contrário, ela dá uma boa ideia do que se trata o filme:
John Cussack é Martin Blank, um cara aparentemente normal, que trabalha num escritório, tem uma secretária e que ninguém sabe ao certo o que exatamente ele faz: mata pessoas por dinheiro.
Admita. É o emprego dos nossos sonhos.
Matador em conflito começa com Martin, no alto de uma torre, com um rifle de atirador, mirando num ciclista. Ao fundo toca I Can See Cleary, aquela musiquinha animada do Jamaica Abaixo de Zero. E nesse momento, o cara faz um disparo no meio do peito do ciclista, que logo em seguida é fuzilado pelos seguranças de um sujeito que, teoricamente estava sob proteção de Martin.
A história de Matador em conflito é algo tão inventiva quanto familiar: um cara desaparece da vida de uma garota na noite do baile de formatura. Dez anos depois ele volta à cidade para um daqueles reencontros de turma. Reencontra antigos professores, velhos amigos, colegas e desafetos. Um virou segurança de condomínio, outro virou agente imobiliário, a mãe dele ficou loucaça e mora num asilo, a casa dele foi destruída e virou um supermercado e sua paixão de colégio virou radialista. E, claro, ele virou um matador de aluguel que não sabe que mentira inventar sobre sua profissão, então sai por aí, dizendo a todo mundo: “ah, eu mato pessoas”.
Blank tenta se aproximar da, agora mulher, a qualquer custo e, após enfrentar resistência e ser humilhado ao vivo na rádio da moça, consegue convencê-la a dar uma chance de provar que ele mudou, evoluiu. Mas isso não é nada fácil, tendo em vista que ao mesmo tempo ele está sendo seguido por duas figuras misteriosas, um assassino baixinho invocado pra caramba, meio metido a Charles Bronson e, ainda por cima, seu arqui-inimigo: Dan Aykroyd, completamente alucinado. Eu chego a desconfiar que o cara gravou cheirado de tão maluco que ele tá.
Como se não fosse suficiente, Blank está de volta na cidade por um motivo maior que reconquistar sua paixão e rever sua antiga turma: ele está a trabalho. Sim, eu coloco trabalho na frente do amor, então muito provavelmente eu vá morrer sozinho, de úlcera e infeliz.
Matador em Conflito é aquele filme cheio de referências que você assiste quando é jovem de mais e revê quando adquiriu bagagem e cultura o suficiente para compreender todas as suas nuances, suas camadas, sua inteligência. Eu o defino como “o filme de assassino que o John Hughes não realizou”, por que ele se encaixaria perfeitamente em sua filmografia: referências pop, trilha sonora de qualidade com aquela levada oitentista que só ele sabe, atores no ápice de sua interpretação cômica/dramática...  A diferença é que, se o Hughes houvesse feito, o papel principal seria do Emilio Stevez.
Por falar em interpretação, esse é um caso raro de filme no qual o John Cusack atua com uma vontade contagiante! Numa época em que ele não tinha que se enfiar em produções safadas pra pagar suas contas nem disputava com o Keanu Reeves o posto de ator mais inexpressivo.
O filme é engraçado quando tem de ser, pesado e violento em alguns momentos chave e totalmente nonsense no resto do tempo. Alguns personagens tem participações pequenas, porém memoráveis. Como o terapeuta vivido por Alan Arkin, a quem Martin contou que é um assassino. O cara passou a viver um inferno, por que não pode denunciar o sujeito, não consegue fazê-lo parar de visita-lo e, se fugir, corre o risco de ser morto pelo próprio paciente. A relação dos dois é hilária e genial. Em cada cena que eles dividem, é quase impossível parar de rir.
Outro é a secretária do cara, vivida por Joan Cusack. Ela é irmã do cara na vida real, só isso já é hilário.
A direção é por conta de George Armitage, no ponto mais alto de sua carreira, o cara atinge um nível de genialidade que nunca mais conseguiu bater. Piadas ácidas, diálogos velozes, sacadas geniais. Tira sarro de metáfora existencial, de crise pessoal, o cara faz a festa.
Grosse Pointe Blank é um filminho bem pouco conhecido, mas divertidíssimo. Você assiste numa tacada só e nem sente o tempo passando.
Você termina de ver se sentindo bem, querendo que todo mundo veja essa preciosidade.

PS: detalhe para o cartaz de Pulp Fiction (O Melhor Filme do Mundo!) ao fundo da loja de conveniência na cena do tiroteio.
PS²: mesmo que o Cussack tenha virado um mercenário cinematográfico, qualquer filme com o cara merece ser visto. Deixo aqui as indicações de Alta Fidelidade, Identidade e Ensinando a Viver (esse sim com um título horrível), só para começar.
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Um comentário:

  1. Sobre o John Cusack, eu gostaria de recomendar um dos primeiros filmes de sua carreira, Better off Dead http://www.imdb.com/title/tt0088794/

    Em plenos oitentões, uma comédia romântica tirando sarro das fórmulas prontas das comédias românticas adolescentes que pululavam nas telas dos cinemas. Se não me engano, o Diretor maluco desse filme, Savage John Holland, virou diretor de animações, só não lembro quais...

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