Dia 37 - Felipe P. 36
Grosse Pointe Blank - 1997
Dir George Armitage
Elenco: John Cusack, Minnie Driver, Dan Aykroyd, Alan Arkin, Joan Kusack
Matador em Conflito é o título nacional de um filme de 97
chamado Grosse Pointe Blank. O título original é impossível de traduzir sem ser
tirado de contexto, por tanto a escolha do título nacional é um dos poucos
casos que não incomoda. Pelo contrário, ela dá uma boa ideia do que se trata o
filme:
John Cussack é Martin Blank, um cara aparentemente
normal, que trabalha num escritório, tem uma secretária e que ninguém sabe
ao certo o que exatamente ele faz: mata pessoas por dinheiro.
Admita. É o emprego dos nossos sonhos.
Matador em conflito começa com Martin, no alto de uma torre, com um rifle de atirador, mirando num ciclista. Ao fundo toca I Can See Cleary, aquela musiquinha animada do Jamaica Abaixo de Zero. E nesse momento, o cara faz um disparo no meio do peito do ciclista, que logo em seguida é fuzilado pelos seguranças de um sujeito que, teoricamente estava sob proteção de Martin.
Admita. É o emprego dos nossos sonhos.
Matador em conflito começa com Martin, no alto de uma torre, com um rifle de atirador, mirando num ciclista. Ao fundo toca I Can See Cleary, aquela musiquinha animada do Jamaica Abaixo de Zero. E nesse momento, o cara faz um disparo no meio do peito do ciclista, que logo em seguida é fuzilado pelos seguranças de um sujeito que, teoricamente estava sob proteção de Martin.
A história de Matador em conflito é algo tão inventiva
quanto familiar: um cara desaparece da vida de uma garota na noite do baile de
formatura. Dez anos depois ele volta à cidade para um daqueles reencontros de
turma. Reencontra antigos professores, velhos amigos, colegas e desafetos. Um
virou segurança de condomínio, outro virou agente imobiliário, a mãe dele ficou
loucaça e mora num asilo, a casa dele foi destruída e virou um supermercado e
sua paixão de colégio virou radialista. E, claro, ele virou um matador de
aluguel que não sabe que mentira inventar sobre sua profissão, então sai por
aí, dizendo a todo mundo: “ah, eu mato pessoas”.
Blank tenta se aproximar da, agora mulher, a qualquer
custo e, após enfrentar resistência e ser humilhado ao vivo na rádio da moça,
consegue convencê-la a dar uma chance de provar que ele mudou, evoluiu. Mas
isso não é nada fácil, tendo em vista que ao mesmo tempo ele está sendo seguido
por duas figuras misteriosas, um assassino baixinho invocado pra caramba, meio
metido a Charles Bronson e, ainda por cima, seu arqui-inimigo: Dan Aykroyd,
completamente alucinado. Eu chego a desconfiar que o cara gravou cheirado de
tão maluco que ele tá.
Como se não fosse suficiente, Blank está de volta na
cidade por um motivo maior que reconquistar sua paixão e rever sua antiga
turma: ele está a trabalho. Sim, eu coloco trabalho na frente do amor, então
muito provavelmente eu vá morrer sozinho, de úlcera e infeliz.
Matador em Conflito é aquele filme cheio de referências
que você assiste quando é jovem de mais e revê quando adquiriu bagagem e
cultura o suficiente para compreender todas as suas nuances, suas camadas, sua
inteligência. Eu o defino como “o filme de assassino que o John Hughes não realizou”,
por que ele se encaixaria perfeitamente em sua filmografia: referências pop,
trilha sonora de qualidade com aquela levada oitentista que só ele sabe, atores
no ápice de sua interpretação cômica/dramática... A diferença é que, se o Hughes houvesse feito,
o papel principal seria do Emilio Stevez.
Por falar em interpretação, esse é um caso raro de filme
no qual o John Cusack atua com uma vontade contagiante! Numa época em que ele
não tinha que se enfiar em produções safadas pra pagar suas contas nem disputava
com o Keanu Reeves o posto de ator mais inexpressivo.
O filme é engraçado quando tem de ser, pesado e violento
em alguns momentos chave e totalmente nonsense no resto do tempo. Alguns
personagens tem participações pequenas, porém memoráveis. Como o terapeuta
vivido por Alan Arkin, a quem Martin contou que é um assassino. O cara passou a
viver um inferno, por que não pode denunciar o sujeito, não consegue fazê-lo
parar de visita-lo e, se fugir, corre o risco de ser morto pelo próprio
paciente. A relação dos dois é hilária e genial. Em cada cena que eles dividem,
é quase impossível parar de rir.
Outro é a secretária do cara, vivida por Joan Cusack. Ela
é irmã do cara na vida real, só isso já é hilário.
A direção é por conta de George Armitage, no ponto mais
alto de sua carreira, o cara atinge um nível de genialidade que nunca mais
conseguiu bater. Piadas ácidas, diálogos velozes, sacadas geniais. Tira sarro
de metáfora existencial, de crise pessoal, o cara faz a festa.
Grosse Pointe Blank é um filminho bem pouco conhecido, mas
divertidíssimo. Você assiste numa tacada só e nem sente o tempo passando.
Você termina de ver se sentindo bem, querendo que todo
mundo veja essa preciosidade.
PS: detalhe para o cartaz de Pulp Fiction (O Melhor Filme do Mundo!) ao fundo da loja de conveniência na cena do tiroteio.
PS²: mesmo que o Cussack tenha virado um mercenário cinematográfico, qualquer filme com o cara merece ser visto. Deixo aqui as indicações de Alta Fidelidade, Identidade e Ensinando a Viver (esse sim com um título horrível), só para começar.
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Sobre o John Cusack, eu gostaria de recomendar um dos primeiros filmes de sua carreira, Better off Dead http://www.imdb.com/title/tt0088794/
ResponderExcluirEm plenos oitentões, uma comédia romântica tirando sarro das fórmulas prontas das comédias românticas adolescentes que pululavam nas telas dos cinemas. Se não me engano, o Diretor maluco desse filme, Savage John Holland, virou diretor de animações, só não lembro quais...