quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Barco Além do Sol - Marcelo Bonfá, ou: Paixões platônicas que quase se tornam reais.

Michel 34. Dia 37.
Vinha eu hoje com minha esposa - Daniele - no carro, sem ideia nenhuma sobre o que postar hoje - e isso é raro, já que normalmente pela manhã eu já tenho uma vontade precisa do que vou ouvir e analisar mais tarde - quando toca em minha playlist de músicas nacionais a música "Veleiro de Cristal" do Bonfá.

Imediatamente uma imensa onda de lembranças me dominou e eu disse:

- Ei, Dani, descobri o que vou postar hoje!

Cheguei em casa e, depois de ensinar a tarefa do meu filho Optimus Prime Detona Ralph Hulk Nicholas, comecei a revisitar "O Barco Além do Sol" (2000), esta belezura do Bonfá. E lá vem a torrente de lembranças...

Meu primeiro CD comprado com meu primeiro salário. Mesmo não querendo essas coisas marcam a vida de um cara.

Eu tinha dezoito anos e aquele era o meu primeiro emprego. Eu era (ainda sou) um baita fã da Legião, e achava a menina da seção de CDs da loja a coisa mais linda do mundo.

Eram os anos 2000, na beirada da virada de um milênio para o outro, e eu experimentava a passos miúdos minhas recém-conquistadas (e descobertas) autonomia e liberdade. Aí o cara recém saído da adolescência gastaria todo o seu dinheiro com bebidas e mulheres, right?

Não. Gastava com CDs e livros.

E eu me vi curioso com o disco do Bonfá. "Mas, espera... o Bonfá não é baterista?", pensava eu, ingenuamente antes de entender que um cara pode ser multi-instrumentista e multi-talentoso (Phil Collins, Paul McCartney, George Harrison...)

Enfim...

Eu tinha um disc-man azul e cinza da Philips que era meu xodó. E este foi o disco que mais tocou ininterruptamente nele...


Bonfá é um excelente letrista. Sua poesia é paradoxalmente concreta e surrealista, mesclando elementos mítico-arturianos, poesia de Fernando Pessoa e sentimentos como amor, medo, angústia, alegria e solidão. Sua voz é frágil, porém afinada - e o instrumental do disco respeita esta característica, jamais ficando mais alto ou mais marcante que o vocal.

O disco tem excelentes momentos: "Depois da Chuva" - uma belíssima homenagem a Renato Russo -, "Todos os Sonhos do Mundo" - com referências ao poema "Tabacaria", de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa -, "O Veleiro de Cristal" - Mais Fernando Pessoa -, "A Dama do Lago" - clara referência às histórias do ciclo arturiano - e "Aurora no Subúrbio". As outras músicas não são tão boas, mas são escutáveis e podem gerar uma reflexão bacana, assim como bons momentos de imersão nas melodias.


Muita gente critica o Bonfá, diz que ele não sabe cantar e tals, mas eu não concordo com isso. Ele tem uma voz frágil sim, mas cumpre o que se propõe. O disco não é uma das sete maravilhas da Terra, mas para mim tem um imenso valor sentimental, musical e filosófico.

E não adianta nada fazer comparações. Este é um trabalho solo, e ele não é - e nem precisa ser - o Renato Russo.

Um disco para se ouvir, para se ter, para criar laços. Um disco para você indicar a um bom amigo ou ao seu filho, quando ele se encontrar no fim da adolescência. Um disco que pode muito bem ser a trilha sonora das primeiras paixões platônicas que quase se tornam amores reais.

Classificação:






Escute de coração aberto, vasculhando nas neblinas da memória aqueles amores do passado que ficaram para trás mas que, às vezes, retornam com um sorriso de lado e uma boa sensação de

- Cara, eu vivi muita coisa bacana mesmo.

Aqui falou o Ladrão de Almas, M. Euclides, na borda do penhasco de fazer trinta e um anos.

P.S.: Postando meio abalado após uma queda de energia. Sério. Pouca coisa me dá pânico, mas a possibilidade de ficar sem postar no 01PD me deixa meio surtado. P*rra, Coelce!

P.S.2: Se ficarem curiosos pelos poemas citados por mim neste post, deem uma procurada. Fernando Pessoa é muito bom de se ler e de se levar para a vida.

Um comentário:

  1. Lembro como se fosse hoje que vc usava um auquimem como esse dá foto mas acho que era outra cor. Tinha um receio do trabalho dele mas vou dar uma olhada

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