Dia 35 - Felipe P. 34
Frequency - 2000
Dir: Gregory Hoblit
Elenco: Dennis Quaid, Jim Caviezel, Elizabeth Mitchell e Shawn Doyle.
Ver um filme antigo, mesmo que ele nem seja tão antigo
assim, é como viajar no tempo. Por exemplo, você já se deu conta de que o ano
2000 já passou faz treze anos? O ano da baboseira: fim do mundo, bug do
milênio, Hercolubus, o boom da internet, quando o Yahoo dominava... E a galera
achando que o novo milênio já havia chegado.
Alta Frequência foi lançado justamente nesse ano, para
muitos, um ano de transição. E se tem uma coisa que fica bem clara, revendo
este pequeno tesouro de treze anos de idade, é que, de um jeito ou de outro,
houve uma transição.
Os anos 2000 deram uma cara nova ao cinema, os filmes
ficaram mais frenéticos, mais violentos, mais esquizofrênicos, a onda de heróis
e adaptações, remakes e continuações... Rever um filme que você viu quando
tinha uns dez, onze anos de idade, quando você tá acostumado a ritmos diferentes,
câmeras tremidas e tramas extremamente, complexas faz você se sentir um velho,
dá até um pouco de tédio por vezes.
E ao mesmo tempo, ver algo que foi feito no meio dessa
transição, no olho do furacão, numa época em que ninguém sabia ao certo onde as
coisas iam parar... Chega a ser engraçado.
Alta Frequência conta uma história em duas linhas de
tempo paralelas. Na primeira, no ano de 1969, Frank Sullivan, um bombeiro do Brooklyn
interpretado por Dennis Quaid, leva sua vida com sua família e seu cão numa
casa comum, vivendo ao máximo todos os riscos da profissão. Na outra, 30 anos
depois, em 1999, John Sullivan, policial vivido por Jim “Jesus” Caviezel, vive
sua vida comum e atribulada na casa que um dia foi da família. O que as duas
linhas tem em comum? A aurora boreal causada por uma onda de calor, por sua vez
causada por explosões solares. Uma desculpinha bem sem vergonha, mas que
funciona bem no contexto.
As duas linhas de tempo se cruzam quando John encontra
num armário o rádio amador de seu pai, um bombeiro morto num incêndio. Ele liga
o rádio e, milagrosamente, ele volta a funcionar. E, além disso, ele consegue
contato com um cara através do rádio: um bombeiro chamado Frank. Seu pai, 30
anos atrás, dois dias antes da própria morte.
John, com muito esforço consegue convencer o sujeito de
que ele é seu filho do futuro e, consegue impedir que ele morresse no incêndio.
Porém, as consequências desse ato repercutem de uma forma ainda pior.
Conforme as coisas mudam no passado, graças à interferência
de John, elas mudam simultaneamente nos dias atuais, e suas memórias vão sendo
alteradas, sem que necessariamente as antigas sejam apagadas.
Alta Frequência é bastante simples e sem grandes
novidades para os dias atuais. Após ele, muitas outras produções já falaram
sobre o tema “viagem no tempo”, mesmo que nesse sequer ocorra uma viagem. O
diferencial é que, revendo hoje, após ver filmes como Efeito Borboleta e
Looper, você percebe que muitas das ideias usadas aqui, foram reaproveitadas em
produções mais recentes.
A ideia é bastante comum e é apresentada de uma forma que
qualquer um seja capaz de entender: a televisão. A teoria de realidades
alternativas e faixas paralelas de tempo é jogada assim, como quem não quer
nada, numa zapeada de canal, mas vai fazer bastante diferença para quem se
aprofundar na trama, quem gosta de teorias do tipo.
O filme até dá uma pincelada em teorias mais hardcore,
mas a ideia é se manter na simplicidade e mesmo mantendo-se assim, faz uso de
uma teoria capaz de causar uma bela dor de cabeça.
Do meio para o final, o filme dá uma mudada de gênero, de
uma forma bem brusca, e é bem bacana de ver como isso é feito, sem grandes
reviravoltas, simplesmente acontece: deixa de ser uma sci fi, levando em
consideração que a base tenha sido compreendida, passa a ser um thriller de
serial killer sem ficar forçado ou sem sentido.
Como eu disse no começo, no final dos anos noventa, o
cinema dava alguns sinais do que viria a se tornar. Alguns filmes da época já
se consagravam como clássicos modernos justamente por fazer uso de uma técnica
bastante similar à utilizada hoje. Muitos deles, como Matrix e Clube da Luta
continuam influenciando o cinema atual. O caso é que Alta Frequência fica meio
perdido nisso: é uma espécie de sofisticação da estética dos anos noventa, com
um pouco da loucura e da esquizofrenia do novo século que se aproximava. É algo
no mínimo curioso de se analisar, praticamente um documento histórico, com sua
trama elaborada, seu roteiro competente e seu final feliz no melhor estilo anos
noventa.
No fim, sempre é bom rever filmes assim, seja pela
nostalgia (putz, eu terei 21 em nove dias, já posso sentir nostalgia???) ou
pela famosa regra dos 15, à qual Alta Frequência sobrevive facilmente.
PS: Scott Pilgrim faz ponta no filme.
PS²: a filmografia inteira do diretor Gregory Hoblit é permeada por bons filmes, vale a conferida.
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Pois é. Também considero esse filme um divisor de tempo no cinema, considerando o ano em que foi produzido isso é ainda mais evidente. Um tema que eu gosto e que depois ficaria muito batido ainda que por outros bons filmes
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