terça-feira, fevereiro 05, 2013

Born To Die (Paradise Edition)- Lana Del Rey, ou: Ser triste no verão.

Michel 33. Dia 36.

Lana Del Rey é uma Diva e seu disco Born To Die é um manifesto de tudo o que é correto e nefasto, belo e degradante.

Escutá-la é um deleite. Sua voz rouca e versátil, sua interpretação vintage, tudo isso colabora para que se tenha um sentimento de tristeza e nostalgia que é inerente à sua personagem e ao trabalho que faz.

Lana canta para amores passados e perdidos. Lana exalta o Sonho Americano. Lana é angustiantemente mulher, selvagem, pecadora e vítima. E linda. Lana é Vida que anseia e repudia a Morte.

O disco mistura elementos atuais e antigos, mesclando elementos eletrônicos e um feeling das décadas de 1950 e 1960. É fantástica a qualidade que dorme latente sob as letras e harmonias de Lana.


E como é linda com seus cabelos e olhos castanho-acinzentados, seu porte de deusa do cinema franco-italiano. Ela poderia muito bem ter sido atriz principal num filme de Fellini. 


Em minha opinião, Lana acerta onde a famigerada Lady Gaga tentou e errou na criação/caracterização de uma persona musical: Lana abraça o perfil de Diva da Era de Ouro e da Prosperidade com ironia e sarcasmo sem parecer deslocada ou piegas. Sua música é rica e multifacetada, focada em sua voz e em seu talento, dando suporte à indiferença que parece imperar quando ela canta.

Ah, esse ar blasé, essa suposta frieza temperada por um calor que surge da carne que tenta se negar, regada ao sentimento de culpa que borbulha sob a pele e infecta a alma daqueles que buscam desesperadamente a salvação...

Quando falei que estava curtindo o som de Lana, meu querido irmão Felipe perguntou se eu estava doente. E eu pensei que talvez estivesse mesmo, por esse não ser meu habitual espaço conhecido de gostar. Eu tenho (tinha) um perfil bem seleto de artistas e estilos musicais, e Lana Del Rey não fazia parte dele.

Mas fui seduzido por ela. Se você vir um de seus clipes e olhar no fundo daqueles olhos enquanto a ouve cantar, dê adeus. Você foi fisgado por uma paixão febril que te queima por dentro e te faz tremer de frio, e não vai mais conseguir se desvencilhar. Eu passei quase quinze dias com o refrão de "Born To Die" rolando em background no meu juízo.


Você consegue perceber em Lana duas mulheres: de um lado está a linda e intocável vestal, que tenta manter a todo custo sua santidade e virgindade; de outro está a mulher mundana e pecadora, plena de culpa e desprezo por sua condição e necessidades carnais. O que une essas duas mulheres em uma são a indiferença, o vazio e a sensação de perda de algo que não se sabe.

Lana Del Rey é o Paraíso Perdido em carne e osso. Ela mescla em si luz e escuridão, fogo e gelo, carne e espírito - e sua música não foge a esta condição paradoxal e límbica.

Clasificação:






Escute o disco despido de preconceitos e de sorrisos irônicos. Dê a Lana a chance de te cativar, de se misturar a ela, de te mergulhar em seus conflitos. Entre na catedral de ouro e lama que se chama "Born To Die", e saia de lá com os bolsos cheios e as mãos sujas.

Não é um disco perfeito, mas seus bons momentos são tão excelentes que te levam a relevar quase que naturalmente o que não é acertado em outras faixas. Atenção a "Born To Die", "Blue Jeans", "National Anthem", "Dark Paradise" - uhuuuu!, "Carmem", "Million Dollar Man", "Summertime Sadness" - UHUUUUU! -, "Cola" - polêmica, mas excelente! -, "Body Electric", "Blue Velvet" e "Yayo".

Um disco memorável e marcante, feminino, belo, febril e complexo. Entregar-se a Lana é um prazer indescritível que você, fiel leitor do 01PD, deveria experimentar.

Afinal, prazer nenhum deveria ser proibido àqueles que acham que podem suportá-lo sem se perder.

;)

3 comentários:

  1. Olá!

    Aproveitando essa onda "sem preconceitos",
    eu gostaria de sugerir um álbum pra vocês ouvirem e talvez comentarem aqui no 1PD, o álbum se chama "Vows" de Kimbra.

    Achei essa frase brilhante: "saia de lá com os bolsos cheios e as mãos sujas."

    Parabéns pelo trabalho de vocês.

    ResponderExcluir
  2. Everton, obrigado pelos elogios!

    Pretendo escutar o álbum sim. E eu já conhecia (pouco) a Kimbra pela participação na música do Gotye.

    Abraços, e continue acompanhando o 01PD.

    ResponderExcluir

Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!