sábado, fevereiro 23, 2013

Dear Zachary: A Letter to a Son About His Father

Dia 54 - Felipe P. 52
Dear Zachary: A Letter to a Son About His Father - 2008
Dir: Kurt Kuenne
Elenco: (NC)
Kurt Kuenne, um cineasta, decidiu fazer um documentário sobre um cara, seu amigo, chamado Andrew Bagby. O filme falaria sobre as coisas boas do sujeito, e algumas meio mais ou menos e o plano era entregá-lo a Zachary, filho do cara, quando o garoto tivesse idade o suficiente para compreender que sua mãe, Shirley, havia matado seu pai com 5 tiros.
E essa é a parte onde você lê de novo o parágrafo acima só pra ter certeza de que não leu errado.
Não leu errado.
Andrew era um cara popular, cheio de amigos, frequentava festas, era presença confirmada em todos os casamentos, cursava medicina, se formou, residiu e, durante um período de sua vida, enfrentou uma tremenda crise.
Nesse período ele conheceu Shirley, ainda na faculdade.
Ele tinha 28 e ela tinha 40 e, mesmo com a diferença de idades, eles se gostavam. Apesar disso todos os amigos do cara só tinham uma palavra para descrever Shirley, que já tinha três filhos de outros dois casamentos: bitch.
A boa e velha vagabunda.
Pelo que é mostrado no documentário, a ideia que se faz dela é exatamente essa, uma pessoa detestável, uma mulher sem escrúpulos, capaz de dizer coisas terrivelmente deselegantes nas piores horas possíveis.
E quando Andrew terminou com ela, ela cometeu o impensável.
O filme junta fotos, gravações de áudio de secretárias eletrônicas, vídeos caseiros e depoimentos de uma forma bastante tendenciosa, principalmente se o objetivo era mostrar ao garoto o quanto seu pai era gente boa, mesmo que compreensível, é meio pesado mostrar a ele o quanto a mãe dele é uma megera.
Até que você vê o desfecho da história e, no fim das contas, o vídeo não era mais pro Zachary.
E você meio que se apega à imagem do sujeito, todos os depoimentos de amigos, a quantidade de gente que queria que ele fosse padrinho de seu casamento, o tanto de caras dizendo que cresceu ao lado do cara, que o tratava como irmão, seus pais falando sobre ele, todas as coisas bacanas sobre Andrew e horríveis sobre Shirley. E ao mesmo tempo as fotos e as gravações insistem em bater na mesma tecla: Shirley era uma vagabunda.
Imagina você, com seu neto, filho do seu filho assassinado, tendo de ir visitar na prisão a mulher que deu cinco tiros no cara, no pai do próprio filho. E quando a desgraçada é libertada pela burocracia, ter de negociar com ela os dias que você pode visitar o garoto, por telefone, enquanto ela finge choro e pergunta se ele é parecido com o pai quando tinha aquela idade. Mesmo sabendo que há uma parcialidade ali, é impossível não detestar a desgraçada.
É um conceito absurdo, é uma ideia absurda mesmo para uma obra de ficção.
Tom Clancy, o escritor da série Jack Ryan (também conhecido no mundo dos games pelo selo que leva seu nome) diz que A Diferença Entre Ficção e Realidade é que a Ficção tem de Fazer Sentido. E o fato é que a história contada aqui em momento algum faz sentido.
Não faz sentido matar uma pessoa com cinco tiros, sendo que um foi na cara, por “amor”. Não faz sentido conceder a liberdade a uma pessoa que faz esse tipo de coisa. Não faz sentido que um casal de idosos tenha de lutar na justiça pela guarda de uma criança, competindo com uma assassina e, ainda assim, perca. E não faz sentido nenhum a forma brutal como essa história termina.
Dear Zachary é um filme no qual não há espaço para sentimentalismos, nem pieguices, ele vai direto ao ponto, deixa a ferida aberta, sangrando.
É um filme sobre uma pessoa que conheceu e cativou a vida de um milhão de pessoas e sobre outra que conheceu umas e desgraçou a vida de todo o resto. Duas vezes.
Se você optar por ver esse documentário, eu lhe garanto, você não vai se sentir bem no fim das contas, você não vai se sentir vingado, você não vai ficar feliz. Se optar por ver, que seja antes de ir dormir, por que o resto do seu dia vai ter ido pro inferno, vai ser um dos dias mais desagradáveis da sua vida. Assista e vá dormir, sonhe com anjos ou com coelhinhos fofinhos e esqueça.
Esqueça.
A vida real aparentemente não tem final feliz, não tem música da Mandy Moore tocando nos créditos finais, não tem nota que classifique.
Não vai ter nota no fim desse post.
E mesmo assim eu digo: veja esse filme.
Por que?
Apenas veja.
E eu acabei de tomar uma caneca de café de um palmo, não vou dormir pelo menos até as seis da manhã, vou ficar acordado remoendo isso, pensando na ideia desgraçada de ver um documentário pra dar uma variada nas coisas.
Vou baixar algum disco de músicas alegres, ver um ou dois episódios de The Big Bang Theory e tentar dar uma ou outra risada.
Até amanhã.
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Sem nota e sem trailer, já decidi o que vou ouvir durante o resto da noite:

Adios Muchachos.

3 comentários:

  1. O Michel teve a desgraçada ideia de colocar este documentário entre um grupo de filmes que preparou pra min. E foi assim que cheguei nele, da maneira que não gosto de atacar um filme, sem nada saber sobre ele. Fui assisti-lo e ele acabou com minha noite.Porque? Por que é assim que a vida é, por que assim são as pessoas. O mundo é uma merda mesmo sem ninguém pra limpar essa grande latrina.

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  2. Mas o que são os amigos se não nos mostrarem um pouco o amargor da vida, não é Michel?

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    Respostas
    1. Pior é que eu passei pra ele e acho que ele nem viu ainda.
      Mesmo assim, é um grande documentário.

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