Dia 59 - Felipe P. 58
The Descent - 2005
Dir: Neil Marshall
Elenco: Shauna Macdonald, Natalie Mendoza, Alex Reid
Num cenário de terror genérico com histórias repetitivas
e estéticas comuns, certos filmes se destacam pela regra do “menos é mais”.
Abismo do Medo é um desses.
Lançado em 2005 sob a direção de Neil Marshall, o longa
narra a história de seis amigas que gostam de viver radicalmente: rios
selvagens, cavernas, escaladas, essas coisas.
Um dia uma delas perde o marido e a filha num acidente
que até hoje, revendo o filme uns quatro anos depois de tê-lo visto pela primeira
vez, eu não consigo compreender a ligação com o resto da história.
Eis que um ano após o acidente, as seis decidem se reunir
para explorar uma caverna que, apenas uma delas sabia, nunca havia sido
explorada por ninguém. Ou pelo menos, ninguém saiu vivo de lá.
Indo direto ao ponto, as seis entram na caverna, algo dá
errado e ocorre um desabamento que as faz ficar presas lá dentro, o que serve
pra dar um ar de tensão e urgência logo de início. Te deixa apreensivo. Esse
ponto por si só é angustiante. A sensação de claustrofobia que Marshall emprega
é de doer. As personagens passam por todo tipo de sofrimento, desde
soterramento a ter de se enfiar em espaços pequenos, ficando presas, tendo de
vencer o desespero. A pouca iluminação utilizada durante o filme inteiro só
torna as coisas ainda mais opressivas. Abismo do Medo seria um thriller de
sobrevivência sensacional se narrasse a história das seis passando por essa
experiência maluca dentro da caverna, mas, não fosse suficiente, elas logo
descobrem que não estão ali sozinhas. Alguma coisa as observa.
Algumas coisas, pra ser mais exatos.
As coisas ficam realmente sérias quando essas coisas
param de observar e passam a ataca-las. Dotadas de uma força e uma violência
monstruosa, a princípio pouco se vê do que se trata, mas não demora até que
faça suas primeiras vítimas.
Nada se sabe nem se explica sobre as criaturas, não são
dadas respostas e muito menos perguntas são feitas, quando os bichos chegam,
não há tempo pra enrolação. A grande surpresa é que, depois dos primeiros
ataques, a mulherada para de chorar e parte pra briga usando o que tem em mãos.
E aqui está o charme do filme. As personagens, apesar de levemente estereotipadas
(umas como mocinhas de comédias românticas, outras como mulher macho) mantém
sua humanidade. Mesmo batendo de frente com as coisas, elas choram abraçadas,
se ferem pra caramba, não perdem sua feminilidade e se mantém verossímeis. São
mulheres badass e tem uma boa desculpa pra isso, mas não deixam de ser
mulheres, e isso é muito bacana.
O filme é escuro a maior parte do tempo, sendo iluminado
apenas pela lanterna do capacete das aventureiras, o só torna o clima mais
pesado, revelando quase nada do visual das criaturas. O pouco que aparecem, é
sob a luz de bastões luminosos, ganhando um visual estilizado e assustador,
meio humanoide, meio primitivo, dá a entender que são criaturas que vivem na
escuridão há milhares de anos, se adaptaram ao ambiente.
Eles não enxerga, apenas farejam e escutam muito bem. E
matam. Isso eles fazem como ninguém.
Apenas duas coisas me incomodam profunda e negativamente
em Abismo do Medo: seu começo sem sentido com o acidente, totalmente desligado
com o resto da trama, que serve de absolutamente nada além de gerar um trauma
desnecessário para a protagonista; e seu final, que talvez na época de seu
lançamento, fosse inovador, mas acabou virando um tremendo lugar comum.
Tirando isso, The Descent é uma das coisas mais
assustadoras lançadas nos últimos anos. Um terror verdadeiro e sem base
oriental, sem garotinhas com cabelo na cara nem nada dessas besteiras.
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