Michel 15. Dia 15.
Era 1981 e eu nem existia quando Fagner lançou um de seus discos de maior sucesso: Traduzir-se.
Um disco e músicas de Raimundo Fagner dizendo: "Ei, Mundo, você é grande e eu quero mais!".
Conheci Fagner ainda menino, quando meu pai, Felício Velho, escutava nas manhãs de domingo tomando sua bebidinha "no pé da porta". Cresci e virei fã escutando a coleção do Fagner que meu tio Pereira tinha. E hoje sou fã sozinho, formado e satisfeito. Só lamento que ele esteja tão distante da mídia, e produzindo tão pouco... Mas ao mesmo tempo ficamos com o Fagner pra poucos, e não para todos.
Mas voltemos ao disco de hoje. Traduzir-se é:
Um disco com sangre latino, cantado - em parte - em espanhol. Com sentimento verdadeiro e carnal. Um disco equilibrado e rico, embora trazendo em si um componente de caos e instabilidade que o torna agradável de escutar e vivenciar.
Sim, um trabalho de se vivenciar.
Escutar "Traduzir-se" é uma experiência de vida. É de criar em você aquele feeling de estar em outro lugar, em outro país, ali, pela Espanha. É um disco de te dar vontade de largar tudo e conhecer os mesmos lugares que levaram o Fagner a gravar tais músicas.
Um trabalho de se viver.
Destaque às músicas Fanatismo, Años e Traduzir-se - que se tornaram sucessos/marcas registrada de Fagner - e La Saeta e Verde, riquíssimas em musicalidade espanhola.
Lembrando que Fanatismo é um poema de Florbela Espanca musicalizado por Fagner, e Traduzir-se é um poema de Ferreira Gullar produzido da mesma forma.
Achei no YouTube esta belíssima interpretação acústica do Fagner. As imagens tão por demais "fofas", mas, por favor, desconsiderem isto e curtam a música.
Escute baixinho, quando estiver sozinho em casa, ou então com algum bom amigo, tomando uma cachacinha. Sim, porque este álbum combina - para o bem ou para o mal - com a "maldita". Mas se for beber, tome cuidado e não dirija. ;)
Fagner é um artista completo, rico e multifacetado. Um artista cearense que não vendeu sua "cara" para vender mais ou parecer mais bacana. Fagner é autêntico; e por isso eu sou fã.
Boa audição.
Aqui foi o Ladrão de Almas, viajando ao som de Traduzir-se, mergulhando em si mesmo tentando entender quem é e o que quer.
E Boa noite.
TRADUZIR-SE
(Ferreira Gullar)
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
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