segunda-feira, janeiro 14, 2013

Poder Sem Limites

Dia 14 - Felipe P. 14
Chronicle - 2012
Diretor: Josh Trank
Elenco: Dane DeHaan, Alex Russell e Michael B. Jordan.

Tudo começa com um buraco no chão. Três garotos, Matt, Andrew e Steve, que estudam na mesma escola entram nele para ver o que tem dentro. Um deles, o mais desajustado e impopular, segura uma câmera, filma tudo. Outro é um daqueles jovens que pira com o primeiro contato com a filosofia e começa a analisar o mundo pela ótica de filósofos famosos. O outro é um presidente de turma, popular e querido por todos da escola. A única coisa que os une é que Matt é primo de Andrew e amigo de Steve. Os três não tem nada em comum. Andrew é um daqueles típicos garotos tímidos, agredido pelo pai e humilhado na escola. Matt é o meio termo, vai a festas, conhece pessoas, mas não é como Steve, o modelo de aluno, jovem exemplar e engajado nas causas.
A vida dos três é a mais comum e monótona possível de qualquer colegial americano, o que muda drasticamente quando os três encontram um buraco no chão. Eles entram, numa daquelas decisões estúpidas do tipo: “estamos num planeta alienígena, vamos tirar o capacete!” e, lá dentro, encontram uma substância estranha cravada nas paredes, algo como um cristal que produz ressonância, nada que seja explicado ou que fique gravado na câmera de Andrew. Mas aquilo os muda de alguma forma. Aquilo os transforma.
Na cena seguinte os três estão em um jardim, atirando bolas de baseball na cara um do outro num dos mais perfeitos exercícios de estupidez. A cena é engraçada de uma forma demante, como um vídeo do Jackass quando, de repente, Andrew consegue parar a bola no ar sem sequer tocar nela.
Chronicle, um filme de 2012 que chegou ao Brasil com o título “Poder Sem Limites” narra a jornada de três jovens que ganham superpoderes após entrarem em contato com uma substância desconhecida durante uma festa. O que eles fazem com esses poderes é a grande sacada do filme. Um velho uma vez falou para um garoto: “Com grandes poderes vem grandes responsabilidades” e esse garoto um dia fez grandes coisas pela humanidade. Por outro lado, um caçador de vampiros também disse “Dê poder a um homem e você conhecerá sua verdadeira natureza”. O que poder Sem Limites mostra é um total desprezo pela primeira frase. Responsabilidade? Pra que? Os três saem de carro por aí assustando pessoas aleatórias por diversão, aterrorizando crianças em lojas de brinquedos, fazendo piada, ganhando popularidade no colégio, conquistando garotas e filmando tudo... Não seja hipócrita, se você ganhasse tanto poder assim sem ter feito nada para merecer você não faria muito diferente. Eu não faria, pelo menos...
Mas isso tudo só acontece antes de os três descobrirem que podem voar, aí as coisas só pioram.
Chronicle, ao mesmo tempo em que tenta se manter divertido e empolgante, tenta passar uma mensagem filosófica, mesmo que algo bem básico, chega a falar sobre o mito da caverna, sobre se libertar, se tornar superior, o que só vai fazer sentido da metade do filme em diante, quando essas lições são postas em prática. O problema é a forma como elas são postas em prática. Os novos poderes (a telecinese, a invulnerabilidade e a capacidade de voar) mudam cada um dos três garotos de uma forma diferente.
Steve tem uma consciência mais desenvolvida, ele brinca, tira sarro, mas quando as coisas ficam sérias, ele tenta colocar tudo sob controle e, dos três é um dos que mais se dá mal.
Matt é impulsivo e um pouco arrogante, mas evolui com a coisa toda, ou pelo menos tenta e, diante das circunstâncias, ele é o que tem que assumir as rédeas da situação.
Mas o problema mesmo é Matt. As coisas na vida do garoto só pioram: o pai violento o agride sem razão, a mãe doente morre e ele se culpa por isso, o pai o culpa por isso e, com tanto poder e com a cabeça vida cheia de problemas, boom! O inevitável acontece e Andrew perde o controle, mata pessoas, dá o troco no pai, se vinga dos colegas de escola e... Se eu contar mais vou acabar estragando o filme. O elemento surpresa é essencial para filmes como Chronicle. Aquele tipo de filme cuja campanha é basicamente viral. Um vídeo misterioso, uma imagem desfocada, pessoas voando por Nova York em plena luz do dia... Um estilo de campanha muito comum entre filmes do gênero found footage. Aqueles filmes de câmera na mão que costumam ter um orçamento modesto e surpreender todo mundo, seja pela criatividade ou pela mediocridade. Por sorte, nesse caso, foi pela criatividade de dois desconhecidos: Max Landis e Josh Trank. Landis, o roteirista, havia escrito alguns curtas e episódios de séries de TV e, antes de Chronicle, era um completo desconhecido, sem absolutamente nada que chamasse atenção em seu currículo. Chegou a atuar como figurante em alguns filmes mas, novamente, nada de expressivo. Esse foi seu primeiro longa e, logo de cara, sem retoque nem reforço de nenhum grandão de Hollywood, sem executivo colocando no cabresto, seu primeiro texto fez todo esse estardalhaço.
Trank também nunca foi grande coisa. Antes de Chronicle tudo o que o cara havia dirigido eram 5 episódios de uma série de TV chamada The Kill Point, estrelada por John Leguizamo. E, depois do sucesso, o cara virou um queridinho da Marvel Studios. Vai dirigir o reboot do Quarteto Fantástico para 2015 e está cotado para um filme solo do Venom. Dizem as más línguas que ele teria em vista um projeto ainda maior: a adaptação do game Shadow of Colossus para as telonas.
Chronicle é um exercício de criatividade e mostra com um realismo incrível as razões pelas quais o homem não pode voar. As consequências de se dar poder demais a uma raça tão insegura, tão mesquinha. Não é um filme sobre heróis e vilões, é um filme como as pessoas reagem quando tem uma arma na mão, como você reagiria com tanto poder na cabeça. Você não colocaria uma máscara e sairia salvando mocinhas, você ia arrancar os dentes do moleque que te zoava no colégio, você ia sair e pegar de volta o dinheiro que o banco roubou do teu salário... Ia fazer tudo o que te dá vontade de fazer se ninguém pudesse te impedir ou tivesse autoridade de te condenar. Poder e responsabilidade uma ova! É Poder sem limites, po**a!
Desculpa, gente, eu me empolguei um pouco.

PS: o filme já tem continuação garantida, porém sem Josh Trank no comando.
~

2 comentários:

  1. Uma pesquisa feita no Reino Unido sobre como se comportariam os jogadores de games diante de situações dentro de jogos, quando estes oferecessem opções e escolhas segundo uma ética ou determinada moral.Ou seja qual seriam suas escolhas segundo critérios de "bom e mau". Surpreendentemente para os pesquisadores havia uma clara linha de escolha entre os jogadores para ações ditas "boas". Eu vi este filme e cito a pesquisa para ilustrar que talvez algo parecido poderia acontecer se poderes deste tipo fosse dado a pessoas comuns. Claro que o mundo tá cheio de loucos e que o contrario também poderia ser verdadeiro. Então melhor ficarmos como estamos. Por que se existir uma possibilidade minima de algo dar em merda acredite! Vai dar merda!

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    1. Olha... Eu não garanto que eu seria um herói numa situação assim... Mas não acho que me tornaria um vilão também, acho que eu viraria um eremita ou um mochileiro das galáxias, sei lá:)

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