Dia 14 - Felipe P. 14
Chronicle - 2012Diretor: Josh Trank
Elenco: Dane DeHaan, Alex Russell e Michael B. Jordan.
Tudo começa com um buraco no chão. Três garotos, Matt, Andrew e Steve, que estudam na mesma escola entram nele para ver o que tem dentro. Um deles, o mais desajustado e impopular, segura uma câmera, filma tudo. Outro é um daqueles jovens que pira com o primeiro contato com a filosofia e começa a analisar o mundo pela ótica de filósofos famosos. O outro é um presidente de turma, popular e querido por todos da escola. A única coisa que os une é que Matt é primo de Andrew e amigo de Steve. Os três não tem nada em comum. Andrew é um daqueles típicos garotos tímidos, agredido pelo pai e humilhado na escola. Matt é o meio termo, vai a festas, conhece pessoas, mas não é como Steve, o modelo de aluno, jovem exemplar e engajado nas causas.
A vida dos três é a mais comum e monótona possível de
qualquer colegial americano, o que muda drasticamente quando os três encontram
um buraco no chão. Eles entram, numa daquelas decisões estúpidas do tipo: “estamos
num planeta alienígena, vamos tirar o capacete!” e, lá dentro, encontram uma
substância estranha cravada nas paredes, algo como um cristal que produz
ressonância, nada que seja explicado ou que fique gravado na câmera de Andrew.
Mas aquilo os muda de alguma forma. Aquilo os transforma.
Na cena seguinte os três estão em um jardim, atirando
bolas de baseball na cara um do outro num dos mais perfeitos exercícios de
estupidez. A cena é engraçada de uma forma demante, como um vídeo do Jackass
quando, de repente, Andrew consegue parar a bola no ar sem sequer tocar nela.
Chronicle, um filme de 2012 que chegou ao Brasil com o
título “Poder Sem Limites” narra a jornada de três jovens que ganham superpoderes
após entrarem em contato com uma substância desconhecida durante uma festa. O
que eles fazem com esses poderes é a grande sacada do filme. Um velho uma vez
falou para um garoto: “Com grandes poderes vem grandes responsabilidades” e
esse garoto um dia fez grandes coisas pela humanidade. Por outro lado, um
caçador de vampiros também disse “Dê poder a um homem e você conhecerá sua
verdadeira natureza”. O que poder Sem Limites mostra é um total desprezo pela
primeira frase. Responsabilidade? Pra que? Os três saem de carro por aí
assustando pessoas aleatórias por diversão, aterrorizando crianças em lojas de
brinquedos, fazendo piada, ganhando popularidade no colégio, conquistando
garotas e filmando tudo... Não seja hipócrita, se você ganhasse tanto poder assim
sem ter feito nada para merecer você não faria muito diferente. Eu não faria,
pelo menos...
Mas isso tudo só acontece antes de os três descobrirem
que podem voar, aí as coisas só pioram.
Chronicle, ao mesmo tempo em que tenta se manter
divertido e empolgante, tenta passar uma mensagem filosófica, mesmo que algo
bem básico, chega a falar sobre o mito da caverna, sobre se libertar, se tornar
superior, o que só vai fazer sentido da metade do filme em diante, quando essas
lições são postas em prática. O problema é a forma como elas são postas em
prática. Os novos poderes (a telecinese, a invulnerabilidade e a capacidade de
voar) mudam cada um dos três garotos de uma forma diferente.
Steve tem uma consciência mais desenvolvida, ele brinca,
tira sarro, mas quando as coisas ficam sérias, ele tenta colocar tudo sob
controle e, dos três é um dos que mais se dá mal.
Matt é impulsivo e um pouco arrogante, mas evolui com a
coisa toda, ou pelo menos tenta e, diante das circunstâncias, ele é o que tem
que assumir as rédeas da situação.
Mas o problema mesmo é Matt. As coisas na vida do garoto
só pioram: o pai violento o agride sem razão, a mãe doente morre e ele se culpa
por isso, o pai o culpa por isso e, com tanto poder e com a cabeça vida cheia
de problemas, boom! O inevitável acontece e Andrew perde o controle, mata
pessoas, dá o troco no pai, se vinga dos colegas de escola e... Se eu contar
mais vou acabar estragando o filme. O elemento surpresa é essencial para filmes
como Chronicle. Aquele tipo de filme cuja campanha é basicamente viral. Um
vídeo misterioso, uma imagem desfocada, pessoas voando por Nova York em plena
luz do dia... Um estilo de campanha muito comum entre filmes do gênero found footage.
Aqueles filmes de câmera na mão que costumam ter um orçamento modesto e
surpreender todo mundo, seja pela criatividade ou pela mediocridade. Por sorte,
nesse caso, foi pela criatividade de dois desconhecidos: Max Landis e Josh
Trank. Landis, o roteirista, havia escrito alguns curtas e episódios de séries
de TV e, antes de Chronicle, era um completo desconhecido, sem absolutamente
nada que chamasse atenção em seu currículo. Chegou a atuar como figurante em
alguns filmes mas, novamente, nada de expressivo. Esse foi seu primeiro longa
e, logo de cara, sem retoque nem reforço de nenhum grandão de Hollywood, sem
executivo colocando no cabresto, seu primeiro texto fez todo esse estardalhaço.
Trank também nunca foi grande coisa. Antes de Chronicle
tudo o que o cara havia dirigido eram 5 episódios de uma série de TV chamada
The Kill Point, estrelada por John Leguizamo. E, depois do sucesso, o cara
virou um queridinho da Marvel Studios. Vai dirigir o reboot do Quarteto Fantástico
para 2015 e está cotado para um filme solo do Venom. Dizem as más línguas que
ele teria em vista um projeto ainda maior: a adaptação do game Shadow of
Colossus para as telonas.
Chronicle é um exercício de criatividade e mostra com um
realismo incrível as razões pelas quais o homem não pode voar. As consequências
de se dar poder demais a uma raça tão insegura, tão mesquinha. Não é um filme
sobre heróis e vilões, é um filme como as pessoas reagem quando tem uma arma na
mão, como você reagiria com tanto poder na cabeça. Você não colocaria uma
máscara e sairia salvando mocinhas, você ia arrancar os dentes do moleque que
te zoava no colégio, você ia sair e pegar de volta o dinheiro que o banco roubou
do teu salário... Ia fazer tudo o que te dá vontade de fazer se ninguém pudesse
te impedir ou tivesse autoridade de te condenar. Poder e responsabilidade uma
ova! É Poder sem limites, po**a!
Desculpa, gente, eu me empolguei um pouco.
Desculpa, gente, eu me empolguei um pouco.
PS: o filme já tem continuação garantida, porém sem Josh Trank no comando.
~
Uma pesquisa feita no Reino Unido sobre como se comportariam os jogadores de games diante de situações dentro de jogos, quando estes oferecessem opções e escolhas segundo uma ética ou determinada moral.Ou seja qual seriam suas escolhas segundo critérios de "bom e mau". Surpreendentemente para os pesquisadores havia uma clara linha de escolha entre os jogadores para ações ditas "boas". Eu vi este filme e cito a pesquisa para ilustrar que talvez algo parecido poderia acontecer se poderes deste tipo fosse dado a pessoas comuns. Claro que o mundo tá cheio de loucos e que o contrario também poderia ser verdadeiro. Então melhor ficarmos como estamos. Por que se existir uma possibilidade minima de algo dar em merda acredite! Vai dar merda!
ResponderExcluirOlha... Eu não garanto que eu seria um herói numa situação assim... Mas não acho que me tornaria um vilão também, acho que eu viraria um eremita ou um mochileiro das galáxias, sei lá:)
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